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Hosshaku Kempon

Edição 529 - Publicado em 19/Setembro/2012 - Página 42

Abandonar o provisório e revelar o verdadeiro

A Perseguição de Tatsunokuti foi a maior enfrentada por Nitiren Daishonin em toda sua vida. Ela ocorreu no dia 12 de setembro de 1271 e teve um significado maior porque o Buda comprovou o princípio de “abandonar o provisório e revelar o verdadeiro”. Com isso, Daishonin abriu o caminho da felicidade para todas as pessoas.
A seguir, uma breve descrição desse importante dia na história do Budismo.


O cenário histórico


O Japão era governado por um regime militar — o xogunato de Kamakura — e vivia uma crise nacional, desencadeada pela iminência de uma invasão mongol. Sentindo a ameaça da invasão estrangeira, o país adotou posturas cada vez mais militarizadas. Nesse contexto, as várias escolas budistas da época apoiavam a decisão do Japão de entrar na guerra e passaram a oferecer orações para o país derrotar a potência estrangeira.

O choque entre correntes


Sobre o cenário histórico, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, comenta: “Em meio a tudo isso, Daishonin, que havia previsto a invasão estrangeira prestes a acontecer, sustentava que o poder de uma única filosofia correta seria capaz de proteger a nação e o povo. Assim, um número cada vez maior de pessoas passou a ouvir Daishonin e a acreditar em seu ensinamento. Embora a tendência ao militarismo e à concentração do poder nas mãos de poucos continuasse a se fortalecer, uma corrente formada por pessoas que atribuíam importância ao sentimento e à razão do ser humano e que buscavam forjar uma rede solidária da boa vontade também ganhava força. Era inevitável que se produzisse um choque entre ambas as correntes” (TC, ed. 427, mar. 2004, p. 18).

A religião serve a paz


Daishonin defendia que a religião deveria servir à paz. Ao ver a forma como as escolas religiosas deturpavam o Budismo e apoiavam a guerra, ele protestou com veemência. Com isso, tornou-se o principal alvo do governo militar japonês e das escolas que defendiam as doutrinas errôneas.

A prisão ilegal


Hei no Saemon, comandante militar do governo Kamakura, liderou um batalhão para prender ilegalmente Nitiren Daishonin em sua residência. Conforme o próprio Buda relata: “Fui preso por meios incomuns e ilegais”. A maneira como o comandante militar e o grupo que o acompanhava cercaram a casa de Daishonin para prendê-lo não foi nada comum: Hei no Saemon estava com mais de cem soldados usando armaduras. De acordo com a descrição de Daishonin, Hei no Saemon usava um elmo de um nobre da corte, lançava olhares fulminantes e empregava um linguajar grosseiro e ameaçador.

Hostilidade exagerada


Nitiren Daishonin era um homem dedicado à religião, não utilizava armas nem recebia apoio de poderosos. Se o único objetivo fosse sua prisão, vinte oficiais teriam sido mais que suficientes. Sua prisão se cumpriu de maneira tão exagerada justamente pela hostilidade com que ele era visto no círculo governamental.

Pedras por joias


Daishonin não se deixou afetar o mínimo diante dessa demonstração de poder e disse: “Nesses últimos meses, senti que algo assim ocorreria cedo ou tarde. Como sou afortunado por poder dar a vida em benefício do Sutra de Lótus! Se tiver de perder esta cabeça sem valor [pelo estado de Buda], será como trocar areia por ouro ou pedras por joias” (WND, p. 766).

Como sou afortunado


O presidente Ikeda afirma: “Estes eram os nobres sentimentos de Daishonin. Ele havia previsto o dia em que essa grande perseguição lhe ocorreria. Hei no Saemon fora prendê-lo cheio de ressentimento e animosidade, numa exibição vergonhosa de poder. Mas Daishonin regozijava-se em silêncio e pensava: ‘Como sou afortunado!’ É bem possível que tenha enfrentado Hei no Saemon com um sorriso. Isso expressa realmente o princípio de que ‘nosso corpo e nossa mente, a cada instante, compreendem todo o mundo dos fenômenos’ (cf. WND, p. 366).

O objeto luminoso


O Buda Nitiren Daishonin foi escoltado até a praia onde seria executado. Em “As Ações do Devoto do Sutra de Lótus” ele descreve: “Por fim, chegamos ao local em que eu soube que seria executado. De fato, os soldados se detiveram e começaram a dar voltas ao redor. Saemon-no-jo [Shijo Kingo], em prantos, disse: ‘São seus últimos momentos!’ Respondi-lhe: ‘Não está entendendo? Poderia haver alegria maior do que esta? Não se lembra do que prometeu?’ Mal havia acabado de proferir essas palavras, um objeto luminoso, brilhante como a Lua, irrompeu da direção de Enoshima, cruzando velozmente o céu de sudeste a noroeste. Faltava pouco para amanhecer, mas o céu ainda estava muito escuro para poder ver o rosto das pessoas. No entanto, o objeto iluminou o céu como se fosse dia de Lua cheia. O executor caiu de bruços, completamente cego. Os soldados entraram em pânico. Alguns fugiram assustados, outros foram arremessados de seus cavalos e se amontoaram no chão, e houve também aqueles que ficaram encolhidos debaixo das selas. Então, bradei: ‘Aqui, por que fogem deste vil prisioneiro? Aproximem-se! Aproximem-se!’ Mas ninguém ousou chegar perto. ‘O que acontecerá quando amanhecer? Será melhor que se apressem e me decapitem agora, pois será desonroso me executar à luz do dia’ Assim os exortei, mas eles não responderam” (WND, p. 767).

Uma nova identidade


No escrito “Abertura dos Olhos”, Daishonin diz: “(...) este homem chamado Nitiren foi decapitado. Foi sua alma que chegou a esta Ilha de Sado...” A respeito dessa frase, o presidente Ikeda explana: “Quando Daishonin diz que foi ‘decapitado’, o que na realidade não ocorreu, está se referindo à identidade que ele havia mantido até então e que chegou a um fim no momento da execução na Praia de Tatsunokuti. Em outras palavras, indica que ele renasceu com uma nova identidade. Na expressão ‘Foi sua alma que chegou a esta Ilha de Sado’, a palavra ‘alma’ refere-se a esse novo ‘eu’ — a verdadeira identidade que Daishonin manifestou durante a Perseguição de Tatsunokuti. Essa passagem é considerada a confirmação de que Daishonin pôs em prática o princípio de “abandonar o provisório e revelar o verdadeiro”.

Gohonzon


Sem deixar de ser uma pessoa comum, Daishonin manifestou uma condição de vida inseparável da Lei Fundamental do Universo e se levantou como o Buda dos Últimos Dias da Lei e, como tal, inscreveu o Gohonzon, para que todas as pessoas manifestassem a mesma condição iluminada que a dele.

Conclusão


Nitiren Daishonin compreendeu o princípio de “abandonar o provisório e revelar o verdadeiro” e inscreveu sua própria vida no Gohonzon. Portanto, a prática da fé realizada com o Gohonzon é a garantia de que também podemos nos desprender de nossa condição provisória e revelar a verdadeira. Dessa perspectiva, entende-se por que seu exemplo em Tatsunokuti foi importante.
Todas as fontes foram extraídas de: TC, ed. 427, mar. 2004, p. 18

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