domingo, 11 de setembro de 2016

Chegue ao seu destino

Terceira Civilização, Edição 572, 16/04/2016, pág. 66 / Crônica
Gosto do budismo por ser pragmático, ou seja, rea­lista e prático, como um farol a me guiar nas descobertas da vida a cada rumo tomado.
Um dos princípios budistas que mais me fascina é o da simultaneidade da lei de causa e efeito (renge). Sua simbologia é a flor de lótus, única, pois quando floresce gera ao mesmo tempo a sua semente, tudo isso em um ambiente inóspito e lamacento. Essa simbologia budista retrata a forma como a Lei Mística age na vida daqueles que vivem em sua sintonia, por meio da transformação e simultaneidade.
Assim como nossa vida e nossos caminhos estão sempre em constante e rápido movimento, também está a tecnologia. Seu avanço nos permite obter inovações que facilitam bastante nosso dia a dia. Uma das criações de que mais gosto é um aplicativo chamado Waze — um tipo de GPS interativo. A principal vantagem é a rapidez. Ele traça a rota mais curta, de menor tempo, com menos trânsito, e inclusive calcula a duração do trajeto e o horário em que se chegará ao destino. Tudo em tempo real. Caso aconteça algum acidente no meio do caminho, ele refaz o percurso inicial com a mesma rapidez e segurança. E assim como o renge, a sua simultaneidade me encanta.
Analogamente, a vida em sintonia com a Lei possui o mesmo ritmo fundamental. No instante em que você determina viver pelo grande ideal do kosen-rufu, que é a construção de um mundo melhor por meio da sua felicidade e da felicidade dos outros, o trajeto e o tempo ideal para que este objetivo se concretize são, simultaneamente, projetados.
É tão necessário que assumamos o comando do nosso destino, tornemo-nos os wazes de nossa comunidade, nos Últimos Dias da Lei — era de Mappo —, em que os “três venenos” (fome, ira e estupidez) corrompem a mente das pessoas e as tornam causadoras da própria infelicidade.
Ao recitar daimoku, sua vida se sintoniza com a energia positiva e ilimitada do universo e, com esse estado pleno, passa a ser regida pela sua determinação. Isto acontece “neste exato momento”. É a partir do destino escolhido que surge a melhor rota para um grandioso e feliz futuro.
Cabe a você ser “o senhor de sua mente” e, por meio da prática budista, ter sabedoria, dedicação, empenho e coragem para seguir em frente e perseverar até que a primavera de vitórias floresça em seu coração. Assim como a flor de lótus nos mostra, a primavera já existe. Então, corra, lute, avance, com a certeza de que a vitória está ali, logo ali.
Pronto, você chegou ao seu destino!
Ricardo Shin-iti Miyamoto

A transformação no coração de uma pessoa

Terceira Civilização, Edição 572, 16/04/2016, pág. 3 / Pensamento
A transformação no coração de uma pessoa
pode revolucionar a nossa vida,
a sociedade e o país
em que vivemos.
Não conseguimos enxergar o coração,
mas ele pode afetar imensamente
a realidade que vemos.
Dr. Daisaku Ikeda
(SGI Graphic, edição de setembro de 2015)

Cartas

Terceira Civilização, Edição 576, 13/08/2016, pág. 14 / Cartas

Nossas reuniões de bloco

Os integrantes do Bloco Inhambu são muito dedicados ao estudo do Budismo de Nichiren Daishonin, e conhecer a filosofia budista é sempre um grande prazer para todos.
Realizamos uma reunião rica e interativa sempre às segundas-feiras na localidade, onde as pessoas participam ativamente, compartilhando experiências ou expondo suas dúvidas sobre temas escolhidos antecipadamente.
Nós nos preocupamos em tratar de assuntos do interesse de todos e que possam ser aplicados no cotidiano, de forma que cada um entenda como praticar o que foi colocado na atividade.
Além disso, nós nos apoiamos nas matérias da Terceira Civilização (TC), que são claras, bem elaboradas, ricas em exemplos e perfeitamente fundamentadas nessa filosofia.
Ao fazermos os comunicados da semana, divulgamos a edição da revista correspondente para que os associados tenham condições de ler e enriquecer nossas atividades com suas interpretações ou seus relatos de experiências e onde aquele incentivo pode ser posto em prática, servindo de exemplo prático e de fácil assimilação pelos demais.
Portanto, a TC é uma ferramen­ta indispensável que facilita imensamente a compreensão das pessoas e a realização dos nossos en­contros.
É muito gratificante quando o grupo entra em sintonia com um só objetivo: dar o melhor de si e aprender mais com os ensinamentos de Nichiren Daishonin e com as orientações de Ikeda sensei.
Nós temos convidados quase toda semana e quem frequenta nosso bloco vê a integração de coração a coração banhada pela sabedoria do buda divulgada mensalmente pela TC e coroada com a explanação de cada membro. Somando o conteúdo da revista com o calor dos participantes do Bloco Inhambu mais a vontade de cada um de compreender o budismo, não há como nossos encontros não serem um sucesso. Com isso, acreditamos que tocamos o coração de cada participante. Algumas pessoas até já se voluntariam a expor as matérias publicadas e o fazem com senso de desprendimento.
Assim, a cada momento reunidos, propagamos o Budismo de Nichiren Daishonin, nos unimos em torno de um conceito e saímos com a certeza de que melhoramos e aprendemos um pouco mais. Isso nos engrandece como seres humanos, e buscamos ser valores criando outros valores.
Sonia Pedrasolli de Mello
São Paulo, SP
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Companheiros do Bloco Inhambu posam para foto na reunião de segunda-feira, 25 de julho. Sonia em primeiro plano, à direita.

Forte na adversidade, fraco na tranquilidade

Terceira Civilização, Edição 559, 14/03/2015, pág. 66 / Crônica
Nas montanhas nevadas do Himalaia vivia um pássaro chamado Kanku-cho.
O intenso frio da noite fazia o passarinho chorar. Ele tremia e lamentava sua falta de sorte por não ter um ninho para se abrigar. Daquele sofrimento nascia o solene juramento: “Amanhã, quando o Sol surgir, hei de construir meu ninho!”.
Ao amanhecer, à medida que os raios solares aqueciam o pássaro, ele não ia trabalhar. “Que mané ninho o quê?! O que eu quero é cantar”. E o “cantor” voava, pousando de galho em galho, fazendo festa. E o dia passava com pressa...
Com o cair da noite, o frio voltava e o pobre passarinho lamentava. Daquele mesmo sofrimento, nascia o solene juramento: “Amanhã, quando o Sol surgir, hei de construir meu ninho!”.
Nas reuniões para crianças do Grupo 2001, eu, enquanto comia pastel com guaraná, adorava ouvir a história desse passarinho danado.
Nossos responsáveis, aquela rapaziada educada e dedicada, preparava cartazes com desenhos para nos deixar alertas. O carinho das moças em nos servir e das senhoras em preparar o lanche aquecia meu coração a ponto de eu ter calor suficiente para enfrentar, sem ninho, o mais intenso frio do Himalaia.
Após a história, a reunião ficava séria, chegava a hora do diálogo. Em meio aos risinhos tímidos, eis que surgia o companheiro Joãozinho (como aquele espertinho das piadas) e fazia um comentário encrencado:
“O Kanku-cho está certo! Ele sofria o que tinha de sofrer e desfrutava o que existia para ser desfrutado. Não é isso que foi ensinado na reunião passada?”.
Por essa ninguém esperava. Foi um zum-zum-zum, a criançada ouriçada, os líderes conversavam entre si à boca pequena. Para nos salvar daquele enigma, só mesmo um Oráculo! E agora, quem poderia nos salvar?
Não foi o Chapolin, e sim, a sabedoria do nosso mestre. Alguém sacou aquele saudoso livrinho, o Guia Líder, e leu uma orientação certeira do presidente Ikeda.
O passarinho folgado se fazia de forte nas adversidades e era fraco na tranquilidade. Ele não tinha fé contínua e sua alegria não era verdadeira. Seu erro era querer ser forte apenas nos momentos bons, quando a tendência dele era relaxar e se acomodar.
A frase: “Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado” ensina sobre a perseverança na fé.
À noite, enfrentamos os obstáculos, construímos o ninho. Lutar no frio intenso nos mantém aquecidos. Durante o dia, desfrutamos da verdadeira alegria de ter vencido as adversidades da noite. Para não se descuidar e continuar a fortalecer o ninho da fé, o caminho é a gratidão.
A fé se torna mais forte diante das dificuldades por causa da coragem; e na tranquilidade, ela se fortalece em virtude da gratidão.
“Considerar tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida” é perseverar na fé, sendo corajoso na adversidade e grato na tranquilidade.
Astolfo Valentim Vieira Martins

Gabriel Pensador Planeta Atlântida 2014 RS / Com FABIO BLZ

Criar valor é da essência humana

HÁ 763 ANOS, em 28 de abril de 1253, o buda Nichiren Daishonin, aos 32 anos, revelou o Nam-myoho-renge-kyo para felicidade de todas as pessoas, sem exceção.
Ao relatar detalhes de como fora o momento dessa revelação, o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, certa vez comentou:
“Daishonin anunciou seu ensinamento pela primeira vez na sala da estátua do alojamento de seu mestre Dozen-bo, no templo Seicho-ji, por volta do meio-dia. Naquela ocasião, ele [Nichiren] fez críticas rigorosas aos ensinamentos errôneos de outras escolas budistas do Japão daquela época e apresentou o supremo ensinamento do Nam-myoho-renge-kyo. Essa atitude de abandonar o transitório e revelar o verdadeiro é a essência do Budismo de Nichiren Daishonin. Foi com esse profundo sentimento de gratidão com Dozen-bo, a quem desejava conduzir para a verdade, que ele decidiu apresentar seu ensinamento primeiro no local em que havia estudado o budismo quando jovem. (...)
Nos escritos de Daishonin, encontramos os nomes de dezenas de reverendos que de alguma forma estiveram ligados ao templo Seicho-ji. Nem todos eles estavam presentes no dia em que Daishonin anunciou seu ensinamento, mas é provável que a maioria estivesse. Daqueles que ouviram o anúncio de Daishonin, quantos decidiram segui-lo? Talvez aproximadamente a metade. E quantos se opuseram a ele? Provavelmente a outra metade” (BS, ed. 1.934, 5 abr. 2008, p. A3).
Percebe-se que o ambiente em que Nichiren Daishonin proclamou o Nam-myoho-renge-kyo foi de certa repulsa e hostilidade, pois até mesmo seu tutor, Dozen-bo, que o instruíra na vida religiosa, temendo ser perseguido pelo governante da época, foi incapaz de apoiar aquele que um dia fora seu aprendiz. Pela persistência de Daishonin em lhe ensinar o caminho correto, posteriormente Dozen-bo até chegou a manifestar fé no Sutra do Lótus, mas seu comprometimento não demonstrava muito entusiasmo pela nova fé.
O buda Nichiren Daishonin estava preparado para enfrentar qualquer circunstância desafiadora, e sem se intimidar manteve seu juramento em conduzir todas as pessoas ao caminho da felicidade por meio do Sutra do Lótus, deixando o seguinte registro: “Durante vinte e sete anos, desde o vigésimo oitavo dia do quarto mês do quinto ano de Kencho (1253) até agora, o décimo primeiro mês do segundo ano de Koan (1279), nunca recuei nem uma vez, mas continuei a bradar com força cada vez maior — assim como a lua cresce ou a maré se levanta. Primeiro, quando sozinho recitei daimoku (Nam-myoho-renge-kyo), aqueles que me viram, me encontraram ou me ouviram taparam os ouvidos, olharam-me com fúria, torceram o nariz, cerraram os punhos e rangeram os dentes. Até mesmo meus pais, irmãos e amigos tornaram-se meus inimigos. Então, o administrador e o senhor do feudo onde eu morava voltaram-se contra mim. Posteriormente, toda a província [de Awa] ficou em tumulto e, consequentemente, a população inteira ficou alarmada. Enquanto isso, algumas pessoas começaram a recitar Nam-myoho-renge-kyo para me arremedar ou para zombar de mim, aparentemente para me rebaixar” (WND, v. I, p. 1006).
Mesmo sob essas circunstâncias adversas, o buda Nichiren Daishonin jamais deixou de ensinar o Nam-myoho-renge-kyo para quem quisesse ser feliz, despertando o potencial inato na vida de cada pessoa.
Acreditar no potencial humano também era o mesmo pensamento do fundador da Soka Gakkai, o professor Tsunesaburo Makiguchi, que acreditava na educação como meio para a “criação de valor” em cada ser humano.
Num resumo de suas opiniões sobre educação, redigido em 1930, Makiguchi escreveu: “Começamos reconhecendo que o ser humano não pode criar matéria. Pode, no entanto, criar valores. A criação de valores é, na realidade, a essência da natureza humana. Quando elogiamos as pessoas por sua ‘força de caráter’, estamos, na verdade, reconhecendo sua capacidade superior de criar valores” (TC, ed. 394, jun. 2001, p. 12).
Na Matéria de Capa, apresentamos a definição de “criação de valores” da visão budista e como os membros da SGI a aplicam na vida e na sociedade. E no Estudo, com a explanação do presidente Ikeda sobre o escrito Resposta à Mãe de Ueno, ele destaca a profunda visão de Nichiren Daishonin sobre a vida e a morte, e mostra que recitar e propagar o Nam-myoho-renge-kyo nos possibilita transformar uma vida de tristeza e tragédias em uma vida repleta de ilimitada alegria. Saiba mais, lendo as próximas páginas desta TC, preparada especialmente para você!
Boa leitura!

A unicidade de mestre e discípulo

O escritor chinês Ba Jin declarou: “Quando uma única gota d’água flui para o vasto oceano, ela se torna parte do seu insondável poder” (Brasil Seikyo, ed. 2.017, 1º jan. 2010).
Uma gota que se une ao oceano se converte no próprio oceano. Esse é o significado do conceito de unicidade.
Se uma gota e o oceano estão separados, ambos são “entidades” diferentes. Essa é a lógica da “relação de mestre e discípulo”, que é diferente da “unicidade de mestre e discípulo”.
Na “unicidade”, o discípulo se une à mesma condição de vida do seu mestre. Por isso, a atitude mais inteligente de um discípulo é a escolha de um mestre correto.
Quem poderia ser o melhor mestre?
A Lei Mística — o Nam-myoho-renge-kyo. Estabelecer uma relação de unicidade com a Lei é adquirir a mesma condição de vida da Lei Mística.
Isso é possível? Sim. Somente a filosofia da linhagem humanística do budismo, que se origina do Sutra do Lótus e chega à SGI (Soka Gakkai Internacional), torna isso possível. Na SGI, praticamos essa unicidade com a Lei.
A linhagem humanística é a linha do budismo que tem como base de seu ensinamento o princípio da iluminação de todas as pessoas — todos os seres humanos, “sem exceção”, são budas da forma como se apresentam.
O presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, comenta: “A felicidade de todas as pessoas, ou seja, o estabelecimento de uma religião em prol do bem-estar dos seres humanos, é uma linhagem desde Shakyamuni, Sutra do Lótus, Nichiren Daishonin, Makiguchi sensei até a Soka Gakkai atualmente. Essa é também a linhagem da revolução religiosa — o combate à natureza demoníaca que causa o sofrimento humano” (Brasil Seikyo, ed. 2.324, 21 maio 2016).

Não é adoração

Muitas pessoas confundem unicidade com adoração a uma pessoa. A razão para isso é a falsa percepção de que o oceano é a “pessoa do mestre”. Assim como você, mestre no budismo é um ser humano comum. É o caso dos mestres da linhagem humanística do budismo: Shakyamuni, Nichiren Daishonin, Tsunesaburo Makiguchi, Josei Toda e o nosso mestre, Daisaku Ikeda. Todos se uniram à Lei Mística porque fizeram dela o seu mestre. Na linguagem metafórica, a única diferença é que eles são gotas que se uniram ao oceano e, cada qual, segundo sua época e missão, ensina como é possível se unir ao oceano da Lei Mística.
O presidente Ikeda, explica: “Um mestre no budismo é alguém que conduz e conecta as pessoas à Lei, ensinando que a Lei com a qual elas devem se conectar existe dentro da própria vida. Os discípulos, por sua vez, buscam o mestre que incorpora e é uno com a Lei. Mirando-se no mestre como modelo, eles se empenham na prática budista. Dessa forma, abraçam um modo de vida que os habilita a dominar a mente.
Para atingir o estado de buda nesta existência, é indispensável que haja um mestre — aquele que incorpora e vive de acordo com a Lei e ensina às pessoas sobre o vasto potencial interior que elas possuem.
Sou o que sou hoje por causa do meu mestre, Josei Toda, que praticou conforme os ensinamentos do Buda e dedicou a vida à ampla propagação do Budismo de Nichiren Daishonin na época atual. O Sr. Toda está sempre comigo, como meu mestre espiritual. Ainda continuo mantendo um diálogo com ele em meu coração a todo instante. Esse é o espírito de unicidade de mestre e discípulo.
Aqueles que sempre mantêm firmemente seu mestre espiritual como um modelo e bússola e se esforçam conforme esse mestre ensina são os que vivem com base na Lei. O Budismo de Nichiren Daishonin é um ensinamento fundamentado na unicidade de mestre e discípulo” (Sobre Atingir o Estado de Buda nesta Existência, p. 84).

Budismo — fazer da Lei o seu mestre

A iluminação de Shakyamuni foi a sua percepção quanto à existência da Lei Mística. Nessa ocasião, ele fez o juramento de que o mestre de sua mente seria a Lei e foi fiel a esse juramento por toda a vida. A maneira como o Buda viveu foi sintetizada em sua instrução final: “Faça da Lei a sua ilha, apoie-se somente na Lei e não dependa das outras pessoas” (Nova Revolução Humana, v. 3, p. 146).
“Viva de acordo com a Lei, confie no sólido ‘eu’ como uma inabalável ilha — essa era a essência do ensinamento que Shakyamuni pregou durante a sua vida”, comenta o presidente Ikeda (Ibidem).
“Não depender das outras pessoas” significa abandonar a mente egoísta do “eu menor”, é não ceder às fraquezas e aos impulsos destrutivos.
O modo de vida do buda Shakyamuni foi um modelo de conduta de uma vida dedicada ao juramento de fazer da Lei o próprio mestre. Essa unicidade, que o Buda manteve com a Lei, originou seus ensinamentos denominados budismo, cujo único propósito é tornar as pessoas iguais ao Buda ou iguais à Lei.
Reforçando, perceba que adotar a mesma atitude do Buda como modelo e praticar com o mesmo espírito e juramento referem-se à “unicidade de mestre e discípulo”. Essa unicidade é chamada popularmente de budismo. Por essa razão, não existe budismo sem a unicidade de mestre e discípulo, ambos são a mesma coisa.
“Tanto o budismo de Nichiren Daishonin como o Sutra do Lótus se fundamentam na unicidade de mestre e discípulo”, afirma o presidente Ikeda (Sobre Atingir o Estado de Buda nesta Existência, p. 85). Sendo assim, correspondem à autêntica linhagem humanística do budismo que se originou no juramento de Shakyamuni. As demais correntes, que não se fundamentam na unicidade, separam ou diferenciam mestre do discípulo ou a pessoa da lei, são consideradas ensinamentos incompletos. Por isso, não conduzem à iluminação.
“Budismo que afirma que o Buda existe fora das pessoas comuns e que elas estão destinadas a serem guiadas por ele não é budismo genuíno. O Sutra do Lótus ensina que todas as pessoas são budas e que Shakyamuni possibilitou a todos atingirem a mesma condição de vida que a dele” (TC, ed. 422, out. 2003).
O caminho da iluminação consiste em adotar o mesmo juramento de Shakyamuni. Esse juramento vem sendo herdado ao longo do tempo pela linhagem humanística do budismo. Fazer da Lei o mestre é viver com base na fé de que todas as pessoas são budas da forma como se apresentam.
“Após a minha morte, vocês devem tomar meu mestre como seu próprio mestre, e devem avançar pelo mesmo caminho que percorri”, declarou Shakyamuni (Brasil Seikyo, ed. 1.477, 19 set. 1998, p. 4).

O erro da divinização do Buda e da Lei

Falar de uma lei que existe em todo o universo e de uma pessoa que a incorpora sem a correta noção da unicidade de mestre e discípulo induz as pessoas a cometer o erro da divinização tanto da Lei quanto do Buda. Adorar ambos como algo divino e externo é um erro, porque a adoração não é uma relação de igualdade e de unicidade.
A divinização do Buda ou da Lei é um problema grave que destrói o budismo em sua essência. Prova disso foi o desaparecimento do budismo na Índia.
Ao comentar sobre a causa desse desaparecimento, o primeiro-ministro da Índia, Jawaharlal Nehru (1889–1964), observou: “A genialidade do Buda tem a ver com o fato de ele ser um homem. O criador de um dos mais profundos sistemas de pensamento na história da humanidade, possuidor de um espírito inabalável e de uma grandiosa benevolência. Um acusador, contra a grandiosa multidão de deuses. (...) Ele foi divinizado e se perdeu naquela multidão, que o cercou completamente”.1
Logo após a morte de Shakyamuni, as pessoas gradativamente começaram a considerá-lo uma divindade, ocultando efetivamente o seu lado humano.
Consequentemente, abandonaram a fé de que a própria iluminação é possível e acabaram acreditando que budismo se resume a adorar o Buda ou apenas se esforçar para conquistar os estados de erudição e autorrealização. Em ambos os casos, um abismo insuperável foi criado, separando o Buda das pessoas comuns.
O Buda e a Lei são apresentados como entidades nas quais as pessoas podem confiar suas esperanças, não como possíveis mestres. Dessa forma, a unicidade de mestre e discípulo desapareceu, levando consigo o budismo.
“A partir do momento em que o ‘Shakyamuni humano’ foi esquecido”, comenta o presidente Ikeda, “o budismo deixou de ser um ensinamento que conduz o indivíduo a estabelecer o melhor modo de vida possível. O caminho de mestre e discípulo desapareceu. Consequentemente, o budismo entrou em decadência, tornando-se autoritário” (Brasil Seikyo, ed. 1.477, 19 set. 1998, p. 3).
Em outro momento, ele diz: “Se o Buda, considerado como o mestre, deixa de ser um ser humano e passa a ser um ‘deus’, então, falando de forma prática, será impossível existir o caminho de mestre e discípulo” (Ibidem).
Portanto, a pessoa que não possui um mestre da vida é quem, de fato, está propenso a cometer o erro da adoração ou divinização do Buda e da Lei.
A iluminação permanecerá como algo impossível porque a adoração — que diferencia e distancia o mestre do discípulo, a pessoa da Lei ou o Buda das pessoas comuns — tem sua raiz na mente egoísta, dominada pelas ilusões.
O escritor russo Fiodor Dostoiévsky faz uma observação perspicaz da relação que existe entre a mente egoísta e a divinização: “...muitas pessoas orgulhosas gostam de acreditar em Deus, especialmente aquelas que desprezam outras pessoas... A razão é óbvia. Elas se voltam a Deus para evitar de prestar alguma homenagem aos homens...; homenagear a Deus não é tão humilhante assim”.2
O desprezo às demais pessoas é a característica principal de uma mente egocêntrica. Dominado pelo egoísmo mesquinho, uma pessoa pode deturpar até mesmo o budismo, transformando-o num ensinamento do mais elevado respeito aos seres humanos num ensinamento de camuflado desprezo aos seres humanos. Esse desprezo se revela quando, por exemplo, se dá mais importância às cerimônias e aos dogmas que às pessoas. Outro exemplo é a propagação de visões que desvalorizam o ser humano, transformando-o num ser imperfeito e incapaz de possuir o potencial ilimitado da Lei em sua própria vida.

Torne-se o mestre da sua mente

A mente humana é a chave da iluminação. Pois, é graças a ela que o ser humano estabelece a unicidade com a Lei Mística. A mente se funde à vida universal porque possui um aspecto muito peculiar: muda constantemente e não tem limites para o seu desenvolvimento.
O fato de ela mudar se torna um defeito quando oscila entre a escuridão e a iluminação — as duas manifestações fundamentais da mente. Quando esse potencial para mudar é direcionado ao avanço de si mesmo e o desenvolvimento da sociedade, o ser humano não conhece limites para o próprio autoaprimoramento e crescimento do meio em que vive.
O que muitos consideram defeito, na realidade, é a principal qualidade da mente. Aqueles que tentam impedir em vão que ela mude, e se esforçam para manter a mente estática, empreendem um esforço tão inútil quanto enxugar gelo. Além de ser impossível, seguem na direção errada, porque “não avançar é o mesmo retroceder”.
O potencial de mudança da mente é o que faz dela a chave da iluminação. Contudo, é preciso vencer as próprias fraquezas internas que seguram a si mesmo na escuridão e impedem a iluminação de se manifestar. É justamente nesse ponto que a unicidade de mestre e discípulo atua.
Sem a unicidade, o ser humano, dominado pelo egoísmo, faz da mente instável, sujeita a ilusões, o seu mestre. Dessa forma, seu potencial definha rapidamente. Ou pior, cede a impulsos negativos e destrutivos.
Ser dominado pela mente obscura é adotar a si próprio (eu menor) e seus impulsos egoístas como alicerce. A pessoa dominada por uma mente instável, que oscila entre escuridão e iluminação, é atirada de um lado para outro. Em todas as situações, sempre vai sucumbir ao egoísmo e viverá mergulhada nas profundezas da escuridão e da ignorância.
De maneira inversa, iluminação é dominar a mente, fazendo da Lei Mística a nossa base. A Lei é a única capaz de domar a mente, pois não está sujeita às oscilações causadas pelas ilusões e pelos sofrimentos. Por isso, a Lei é o mestre mais seguro.
Tornar-se mestre da própria mente consiste em não ser derrotado pelas fraquezas e pelo egoísmo, e isso só é possível quando se estabelece uma relação de unicidade com a Lei.
“Não devemos nos deixar dominar pela nossa mente não iluminada que muda conforme as circunstâncias. Necessitamos de um mestre para ajudar a guiá-la na direção certa. Nesse sentido, os verdadeiros mestres da mente são a Lei budista e os ensinamentos do Buda”, afirma o presidente Ikeda (Sobre Atingir o Estado de Buda nesta Existência, p. 82).
Em resumo, domar a própria mente é estabelecer a unicidade de pessoa e Lei; e o verdadeiro mestre da mente são a Lei budista e os ensinamentos do Buda. Ao reunirmos essas duas informações, chegamos ao Gohonzon.
O Gohonzon é conhecido também como a entidade da unicidade da pessoa e Lei (Nimpo-ikka). Além disso, ele é, ao mesmo tempo, a Lei budista e a síntese dos ensinamentos do Buda. Portanto, a Lei Mística — o mestre de todos os budas do universo — é o Gohonzon.
A fé no Gohonzon é o que erradica a escuridão fundamental. É justamente para que todas as pessoas manifestassem essa fé que Nichiren Daishonin revelou o daimoku de Nam-myoho-renge-kyo e inscreveu o Gohonzon.
A recitação do Nam-myoho-renge-kyo estabelece a unicidade de pessoa e Lei por meio da fé abnegada que significa reconhecer o Gohonzon dentro de você e dedicar a vida a transmitir essa Lei.
Em nossa época, dedicar a vida significa propagar o Gohonzon por meio da própria atitude e comprovação. Se as outras pessoas, que o observam, são capazes de acreditar que existe a Lei Mística na vida do ser humano e manifestam o espírito de procura pelo Gohonzon, significa que você dedica a vida à propagação da Lei, sua fé é abnegada.
Para elevar a nossa fé a esse nível, é preciso um mestre que atue como uma segura bússola espiritual que nos ensine a realizar a unicidade com a Lei. É por ter um mestre da vida que evoluímos da condição de pessoas que buscam ajuda para ser feliz a pessoas que ajudam os outros a serem felizes.
O Sutra do Lótus ensina a grande transformação — de discípulos que são conduzidos à iluminação pelo mestre (o Buda) para discípulos que conduzem os outros à iluminação com o mesmo juramento e compromisso do seu mestre. Em outras palavras, a visão do Sutra do Lótus de ajudar todas as pessoas a atingir a iluminação só se completa com o surgimento de discípulos que lutam junto com o mestre.

Encorajamento, nossa missão

Propagar a Lei é consolidar a unicidade de mestre e discípulo no próprio coração e ensinar os outros a fazer o mesmo. Ensinamos os outros por meio do encorajamento. É por meio do incentivo que despertamos a coragem para desafiar nossas próprias fraquezas e seguir o mesmo caminho do mestre.
De acordo com Tiantai, o termo “encorajamento” utilizado no Sutra do Lótus significa “devoção à Lei”. O incentivo é uma prática budista.
Encorajamento é despertar em outra pessoa a fé de que a Lei Mística existe no coração, além da coragem para desafiar as circunstâncias que impedem que essa Lei venha à tona.
Por que encorajar alguém é tão importante a ponto de se tornar a principal prática de um buda?
Essa Lei, que é o mestre de todos os budas, existe no coração das pessoas comuns. Dessa forma, o Buda se dedica a incentivar as pessoas considerando-as como o seu mestre. Portanto, a Lei que Shakyamuni jurou fazer dela o seu mestre é o potencial iluminado que existe no coração das pessoas comuns. O mestre do Buda é a Lei Mística ou o estado de buda que se encontra no coração das pessoas comuns. Por isso, o budismo é uma religião de autêntico humanismo.
Tudo isso faz sentido quando percebemos que a Lei Mística é inseparável do ser humano. Como o Buda jurou fazer dessa Lei o seu mestre, ele serve à Lei que existe dentro do coração das pessoas. Por essa razão, ele jurou conduzir todos à iluminação.
Um autêntico mestre do budismo se dedica a incentivar as pessoas com o mesmo respeito e abnegação que se dedicaria ao Buda ou à Lei.
Nichiren Daishonin afirmou que “Todos que têm fé no Sutra do Lótus são certamente budas” (END, v. I, p. 377) e “[O Sutra do Lótus] diz [a respeito de uma pessoa que aceita e protege este sutra] que ‘Deve se levantar sem falta e cumprimentá-la de longe, demonstrando-lhe o mesmo respeito que dirigiria a um buda’ [LSOC, cap. 28, p. 365]. Vocês devem respeitar um ao outro [como budas]” (END, v. I, p. 378).
Quando essa postura de respeitar o ser humano como buda se manifesta na forma de encorajamento para o ser humano que está à nossa frente é que estabelecemos a igualdade de espírito e atitude com o nosso mestre e, assim, estabelecemos o elo que une a nossa vida com a Lei Mística.
Nos blocos e comunidades, que compõem a base da SGI, é onde está a essência da prática budista. Encontramos uma fortaleza de incentivo e de apoio recíprocos que caracteriza o Budismo de Nichiren Daishonin centrado nas pessoas, e vemos também um grandioso modelo de humanismo que pode iluminar todo o futuro.

Conclusão

A Lei Mística, que é o mestre de todos os budas, existe na vida das pessoas comuns. Essa é a mensagem que o Gohonzon representa. O encorajamento é a manifestação concreta da fé no Gohonzon.
Quando encorajamos uma pessoa com fé abnegada em seu potencial iluminado, manifestamos o espírito de procura pela Lei Mística e fazemos dela o nosso mestre. Por essa razão, encorajar é pôr em ação a unicidade de mestre e discípulo.
O elo que une encorajamento ao conceito de unicidade é a fé abnegada. Para herdar essa fé é que existe a necessidade de um mestre (pessoa).
Fé abnegada é dedicar a própria vida à Lei. Como em cada época essa dedicação assume uma forma específica de atitude, Ikeda sensei é o nosso modelo de fé abnegada.
Certa vez perguntaram ao presidente Ikeda o que ele faz todos os dias. Ele respondeu: “Eu incentivo as pessoas” (Brasil Seikyo, ed. 1.570, 2 set. 2000, p. 3).
Portanto, fazer da Lei Mística o nosso mestre é assumir como propósito maior da sua vida o encorajamento à pessoa que está diante de você.
Nota:
1. MALRAUX, André. Anti-memoirs [Antimemórias]. Tradução de Terence Kilmartin. Nova York: Holt, Rinehart e Winston, 1968. p. 228.
2. Dostoiévsky, Fiodor. A Raw Youth. Tradução de Constance Garnett. Nova York: The Macmilian Company, 1950. p. 56.
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Ilustração retrata o primeiro encontro do jovem Daisaku Ikeda com seu mestre Josei Toda numa reunião de palestra da Soka Gakkai em 14 de agosto de 1947

DOSTOIÉVSKY Escritor do povo, a voz da alma humana

Membros da BSGI dialogam no Centro Cultural Campestre da BSGI (jul. 2016)

Presidente Ikeda incentiva as pessoas convicto de que todas se tornarão “valores humanos” de grandiosa missão (jun. 1995)

“‘Quando o céu está límpido, a terra se ilumina’. O budismo é a fonte de luz da sabedoria. Abraçando a profunda filosofia, Brilhem como vencedores na sociedade!” Dr. Daisaku Ikeda

SOBRE A AGU

Ministro da AGU é demitido e Grace Mendonça é confirmada no cargo

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O presidente Michel Temer demitiu o advogado Fábio Medina Osório da Advocacia-Geral da União e nomeou, para seu lugar, Grace Mendonça, que desde 2003 ocupava o cargo de secretária-geral de contencioso, órgão da AGU.
Com trânsito no Supremo Tribunal Federal –é ela quem substitui o advogado-geral nas sustentações orais na Corte quando necessário–, o nome dela contou com o apoio dos ministros do STF Gilmar Mendes e Carmen Lúcia.
Grace Mendonça será a primeira mulher a ocupar um cargo no primeiro escalão do governo Temer.
Gil Ferreira/SCO/STF
Grace Maria Fernandes Mendonça, convidada por Temer para assumir o cargo de advogada-geral da Uniao, em foto de 2009 (Foto: Gil Ferreira/SCO/STF) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
Grace Mendonça, nova advogada-geral da União
À Folha, Osório confirmou a demissão. Ele disse ter sido informado por telefone e que a escolha foi "política" do governo.
"Fui comunicado pelo telefone. Temer agradeceu pelos serviços prestados e disse que, em função da conversa com Padilha, ficou inviável [minha permanência]", disse Osório à Folha. "Não existe justificativa, há uma escolha política", completou.
O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, teve um forte embate nesta quinta-feira (8) com o agora ex-AGU. Padilha reclamava da atuação de Osório, principalmente em relação ao pedido de acesso a inquéritos da Lava Jato que o advogado fez ao STF (Supremo Tribunal Federal).
O ministro da Casa Civil queria que Osório se demitisse, mas o advogado se recusou, afirmando que só sairia a pedido de Temer.
A saída de Osório já era cogitada antes mesmo da confirmação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a efetivação de Temer na Presidência.
A nomeação de uma mulher para o posto visa minimizar as críticas feitas a Temer desde que ele assumiu o comando interino do país em maio. Na época, ele apresentou seu novo ministério composto apenas por homens.
Desde então, ele tentava driblar as críticas dizendo que havia mulheres em cargos importantes como na presidência do BNDES. Durante a sua viagem à China, Temer chegou a minimizar a questão da representatividade de gênero. 

Gabriel o Pensador - Linhas Tortas (Clipe Oficial)