György Lukács
Nascimento 13 de abril de 1885
Budapeste
Morte 5 de junho de 1971 (86 anos)
Budapeste
Nacionalidade  Hungria Húngaro
Influências
Escola/tradição Marxismo
György Lukács ou Georg Lukács (AFI[ɟørɟ lukɑːtʃ], Budapeste, 13 de abril de 1885 — Budapeste, 5 de junho de 1971) foi um filósofo húngaro de grande importância no cenário intelectual do século XX. Segundo Lucien Goldmann, Lukács refez, em sua acidentada trajetória, o percurso da filosofia clássica alemã: inicialmente um crítico influenciado por Kant, depois o encontro com Hegel e finalmente, a adesão ao marxismo. Seu nome completo era Georg Bernhard Lukács von Szegedin em alemão ou Szegedi Lukács György Bernát em húngaro.

Obra

História e Consciência de Classe
Escrito entre 1919 e 1922 e publicado em 1923, "História e Consciência" inicia a corrente de pensamento que passou a ser conhecida como marxismo ocidental. O livro é notável pela contribuição ao debate concernente à relação entre sociologia, política e filosofia com o marxismo e pela reconstituição da teoria marxista da alienação, antes dos escritos de juventude do jovem Marx terem sido publicados. O trabalho de Lukács elabora e expande-se sobre teorias marxistas tais como ideologia, falsa consciência, reificação e consciência de classe.
Para Lukács, "ideologia" é realmente a projeção da consciência de classe da burguesia, que funciona para prevenir que o proletariado atente para a real consciência de sua posição revolucionária. A ideologia determina mais a "forma de objetividade" do que a estrutura do conhecimento por si mesmo. A ciência do real deve se ater, de acordo com Lukács, ao pensamento da "totalidade concreta" através de que é possível pensar objetivamente um período histórico. Destarte, as chamadas "leis" eternas da economia são desmistificadas como ilusão ideológica projetada pelo objetivismo ("O que é Marxismo Ortodoxo?", parágrafo 3º). Ele também escreve: "Somente quando o coração do ser mostra-se como ser social, pode aparecer como um produto, inconsciente, da atividade humana, e esta atividade, por sua vez, é o elemento decisivo de transformação do ser." ("O que é Marxismo Ortodoxo?", parágrafo 5º). Finalmente, o "marxismo ortodoxo" não é definido como uma interpretação de O Capital como se este fosse uma Bíblia, mas como fiel ao método marxiano, à sua dialética.
Lukács apresenta a categoria da reificação argumentando que, devido à natureza íntima da sociedade capitalista, as relações sociais transformam-se em 'coisificação', impedindo o surgimento da consciência de classe. É neste contexto que um partido leninista emerge, no sentido de um revigorado marxismo dialético.
Já no ensaio homônimo à obra, “História da Consciência de Classe” (1920), Lukács lida primeiramente com a ausência da conceituação de classe em Marx, definindo-a como posição no modo de produção. A cada classe no capitalismo há uma consciência equivalente. Essa consciência não consiste no entendimento pessoal ou psicológico dos interesses individuais dos membros da classe, tampouco a soma ou a média desses entendimentos, mas seu sentido histórico: a história permite que uma consciência seja interpretada racionalmente e adjudicada à classe.
Lukács concentra-se, então, na análise de duas classes: burguesia e proletariado. A burguesia, apesar de poder teoricamente entender a totalidade da sociedade, tem sua compreensão obstada pelos seus interesses e sua consciência assim fadada a uma falsa consciência. O proletariado tem o potencial pleno para a consciência da totalidade porque tem interesse na destruição do modo de produção capitalista; falta-lhe, porém, desvencilhar-se da falsa consciência tomada emprestada da burguesia, que estruturalmente e ideologicamente submete o todo da sociedade aos seus interesses. Para o filósofo húngaro, a revolução proletária não viria passivamente, mas como resultado da tomada de consciência pelo proletariado. As crises do capitalismo forçariam o proletário a abrir os olhos, conscientizar-se de sua posição de classe e identificar seus interesses com aqueles indicados historicamente.
No fim da carreira, Lukács repudiou as idéias de "História e Consciência de Classe", em particular a crença no proletariado como sujeito-objeto da história (1960: posfácio da tradução francesa), mas escreveu uma defesa deles, assim como fizera em 1925 e 1926. Este livro Lukács chamou "A Defesa de História e Consciência de Classe" e somente foi publicado em húngaro, em 1996, e inglês, em 2000. Esta obra talvez tenha sido o mais importante texto marxista desconhecido do século XX.

Crítica literária e estética

Além de ser um pensador do marxismo político, Lukács foi também um dos mais influentes críticos literários no século XX. Sua importante obra de crítica literária começou bem cedo em sua carreira, com A Teoria do Romance, um trabalho seminal de teoria literária. O livro é uma história do romance enquanto forma literária, e uma investigação de suas distintas características, e demonstra forte inspiração hegeliana.
Lukács posteriormente, quando mais afeito às idéias do marxismo clássico, repudiaria A Teoria do Romance, escrevendo uma introdução que o descreve como errôneo, apesar de conter um anti-capitalismo romântico que seria mais bem desenvolvido depois dentro do marxismo. (Esta introdução também contém sua famosa rejeição de Theodor Adorno e outros expoentes do marxismo ocidental, como tendo tomado assento no "Grand Hotel Abyss".)
O trabalho de crítica literária de Lukács inclui o bem conhecido ensaio "Kafka ou Thomas Mann?", no qual Lukács argumenta em favor da obra de Thomas Mann como uma superior adequação às condições da modernidade, enquanto critica o modo de inserção de Franz Kafka no modernismo. Lukács opôs-se às inovações formais de escritores modernistas como Kafka, James Joyce, e Samuel Beckett, preferindo a estética tradicional do realismo. Ele defendia o caráter revolucionário dos romances de Sir Walter Scott e Honoré de Balzac. Lukács afirmava que ambos os autores, a despeito de suas nostalgias dos tempos aristocráticos, escreviam com um acurado senso crítico por causa de suas oposições à ascensão da burguesia (diferindo-se da oposição reacionária). Este ponto de vista foi expresso no seu último livro O Romance Histórico.
Além desse trabalho, são notáveis os textos "Notas sobre o romance" e "Narrar ou descrever?", em que o autor se debruça mais meticulosamente sobre a concepção marxista da literatura. No primeiro desses textos, Lukács faz uma revisão histórica da formação do gênero romanesco, desde as suas origens, passando pela época de sua consolidação histórica e chegando a prognósticos (considerados precipitados por vertentes teóricas de cunho marxista, mas substancialmente divergentes da de Lukács) a respeito das suas feições quando do triunfo do proletariado.
Ao mesmo tempo, o romance começa a adquirir forma, tendo como principal exemplo o livro de Miguel de Cervantes, Dom Quixote. Segundo Lukács, com o capitalismo, há a passagem de uma consciência coletiva para uma consciência individualista que leva, mais tarde, à formação do romance enquanto forma predominante da sociedade burguesa. Nesse sentido, o romance caminha para a solução realista, depois de ter passado pelo romance histórico de Walter Scott; surge, portanto, o romance realista como forma literária que apreende a individualidade como parte de uma estrutura mais geral. Dito de outro modo, de acordo com Lukács, orientado pelas principais teses do materialismo dialético, o romance realista é a forma literária por excelência da burguesia na medida em que privilegia o tipo - isto é, uma situação típica vivenciada por um personagem típico -, colocado sobre um pano de fundo histórico relevante; assim, de acordo com essa perspectiva, tem-se uma compreensão geral das contradições que engendram a sociedade burguesa e capitalista, uma vez que a situação narrada permite vislumbrar não só a particularidade que define a literatura, mas também o quadro geral de construção da mentalidade e de desvendamento das contradições e ideologias da sociedade capitalista. Nesse sentido, as ações, muito mais do que as minúcias descritivas, interessam mais ao crítico. Lukács destaca, então, a obra de Honoré de Balzac como paradigmática dessa relação.
Adiante, nesse mesmo ensaio, Lukács manifesta o seu repúdio pelas formas literárias naturalistas, que, segundo ele, em favor de "formalismos", sacrificam o nível actancial da narrativa, a fim de relevar aspectos da realidade que não necessariamente contribuem para um esclarecimento do público acerca de sua condição social. Dessa forma, escritores como Gustave Flaubert - e, mais tarde, todo o empreendimento das vanguardas históricas - são muito mal vistos pelo pensador húngaro.
O outro ensaio, "Narrar ou descrever?" retoma os aspectos abordados no ensaio acima. De forma programática, Lukács afirma que, em nome da construção de uma consciência mais crítica acerca do papel social dos sujeitos - que, segundo ele, é um dos objetivos da arte -, o "narrar" é preferível ao "descrever", na medida em que o primeiro revela contradições a partir de situações típicas, e o segundo descamba para formalismos que alienam o público.
Além desses ensaios, Lukács escreveu longos volumes sobre Estética. É notável, nessa sua produção, a reiteração de idéias sobre a deontologia da arte e da literatura. De acordo com o seu ponto de vista, que reflete apenas um dos desdobramentos possíveis e consolidados da epistemologia marxista - ao qual se opõe, por exemplo, o ponto de vista de Theodor Adorno, o papel principal da arte é contribuir para a transformação da consciência do indivíduo, apresentando-lhe formas alternativas e profundamente críticas de confronto com a sociedade capitalista e seu modo de produção. Como vimos acima, Lukács acredita que apenas o realismo artístico pode produzir esse grau de comprometimento e consciência. Todavia, cumpre lembrar que essa visão estreita contribuiu, mais tarde, para a erupção do Realismo Socialista russo, que condenou, entre outros, artistas de vanguarda engajados na produção artística comprometida com os ideais marxistas, apesar de partirem para a crítica da sociedade burguesa segundo outro viés.

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