quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Lula e Dilma aumentam a renda do trabalhador em 30%

Lula e Dilma aumentam a
renda do trabalhador em 30%

Desemprego é o menor em dez anos. Chora, Urubóloga, chora ! Agora, só no Supremo !






Saiu na Agência Brasil:

Desemprego fecha 2012 em 5,5%, a menor taxa da série histórica

31/01/2013

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro
– A taxa de desemprego do país ficou em 4,6% em dezembro e fechou o ano de 2012 em 5,5%, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados foram divulgados hoje (30) e mostram que o índice anual é o mais baixo da série história iniciada em março de 2002. Antes disso, a taxa de 2011 havia sido a menor da série, ao ficar em 6%.

O resultado de dezembro do ano passado também é o menor da série histórica. O recorde anterior havia sido registrado em dezembro de 2011 (4,7%). Em novembro de 2012, o índice ficou em 4,9%.
Ajnda segundo o IBGE – http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=2314&id_pagina=1:

O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado (11,6 milhões) cresceu 1,3% na comparação com novembro, e teve elevação de 3,6% na comparação com dezembro de 2011, o que representou um adicional de 408 mil postos de trabalho com carteira assinada no período de um ano. Esses resultados levaram, na média de 2012, a um recorde na proporção de trabalhadores com carteira assinada (10,9 milhões) em relação ao total de ocupados: 49,2%, frente a 48,5% em 2011 e 39,7% em 2003.

O rendimento médio real habitual dos ocupados (R$ 1.805,00) caiu 0,9% em comparação com novembro. Frente a dezembro de 2011, cresceu 3,2%. A média anual do rendimento médio mensal habitualmente recebido no trabalho principal foi estimada em R$ R$1.793,96, o que correspondeu a um crescimento de 4,1%, em relação a 2011. Entre 2003 e 2012, o poder de compra do rendimento de trabalho aumentou em 27,2%.

O rendimento domiciliar per capita aumentou de 2011 para 2012 (R$1.211,33) em 5,2%. De 2003 para 2012, o crescimento chegou a 42,6%.

A massa de rendimento real habitual (R$ 42,7 bilhões) apresentou queda de 1,0% em relação a novembro. Em comparação a dezembro de 2011, a massa cresceu 6,5%. A massa de rendimento real efetivo dos ocupados (R$ 46,2bilhões), estimada em novembro de 2012, subiu 7,3% no mês e 6,7% no ano.
Navalha
Só no Supremo … !
Clique aqui para ler “Ayres Britto chegou lá: entrou para o PiG “.
Só falta o PSDB ir ao Gurgel contra as estatísticas do IBGE.
Fazem parte da campanha de reeleiçao da Dilma.
Quem sabe o Gurgel proíbe a divulgação deles até dezembro de 2014 ?


Paulo Henrique Amorim

Publicado em 31/01/2013

Em Cuba, Lula pede fim do bloqueio e afirma que EUA “perderam a guerra”



Em Cuba, Lula pede fim do bloqueio e afirma que EUA “perderam a guerra”

Ex-presidente brasileiro participou de conferência em homenagem a José Martí e se encontrou com os irmãos Castro



Horas depois de ter se encontrado em Havana com o líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, o ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva criticou o bloqueio norte-americano à ilha caribenha. No discurso de encerramento da 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do Mundo, realizado na noite desta quarta-feira (30/01), o ex-presidente afirmou que a única razão para o embargo de 50 anos continuar existindo é a teimosia dos Estados Unidos em “não reconhecer que perdeu a guerra para Cuba”. As informações são da multiestatal Telesur e do Instituto Lula.
Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Lula participa de conferência em homenagem à José Martí e pede uma integração ainda maior do continente

“Não existe mais nenhuma razão de se manter o bloqueio [de Cuba] a não ser a teimosia de quem não reconhece que perdeu a guerra, e perdeu a guerra para Cuba”, afirmou. “Espero que [o presidente reeleito dos EUA, Barack] Obama, neste mandato, tenha um olhar mais igualitário e mais justo para com nossa querida América Latina”, defendeu o ex-presidente. “Como sou otimista, eu acredito que um dia os Estados Unidos vão rever a sua posição, e espero que seja no governo Obama”, completou.

No evento, que reuniu mais de 700 delegados de 41 países no Palácio de Convenções de Havana, Lula também defendeu o fortalecimento da integração latino-americana. “Vocês não podem voltar para suas casas e simplesmente colocar isso [a participação no evento] nas suas biografias. É necessário que vocês saiam daqui cúmplices e parceiros de uma coisa maior, de uma vontade de fazer alguma coisa juntos mesmo não estando reunidos”, disse aos presentes.

A Conferência, terceira realizada em 10 anos, é patrocinada pela Oficina do Programa Martiano, que se propõe a debater internacionalmente a contribuição intelectual do herói da independência cubana, José Martí. O evento coincide com os 160 anos de Martí e com o aniversário de 60 anos da invasão do Quartel Moncada, um importante marco da revolução cubana, e reuniu cerca de 1500 participantes, dos quais 800 estrangeiros de 44 países. Na terça, o ex-presidente depositou flores no memorial de Martí, em Havana.

Em outro trecho do discurso, Lula defendeu o presidente da Bolívia, Evo Morales. “Quem imaginava que um índio, com cara de índio, jeito de índio, comportamento de índio, governaria um país e, mais do que isso, que seu governo daria certo?”, questionou. Lula afirmou que a direita brasileira queria que ele brigasse com Evo, quando este estatizou a empresa de gás boliviana, então operada pela brasileira Petrobras. “Aí eu pensei: eu não consigo entender como um ex-metalúrgico vai brigar com um índio da Bolívia”, contou o ex-presidente, sob os aplausos da plateia.

O ex-presidente também abordou temas como a mídia, ao afirmar que a interação permitida pelos meios de comunicação modernos, como a internet, abre grandes possibilidades ao processo de integração latino-americana: “Nunca tivemos tanta oportunidade de sermos tão independentes”.

"Nem reclamo, porque no Brasil a imprensa gosta muito de mim", ironizou. "Nasci assim, cresci assim e vou continuar assim, e isso os deixa muito nervosos", disse, sobre suas relações com a imprensa tradicional brasileira.

Segundo Lula, o mesmo tipo de relação se aplica aos outros governos progressistas da América Latina: “Eles não gostam da esquerda, não gostam de [Hugo] Chávez, não gostam de [Rafael] Correa [presidente do Equador], não gostam de [José] Mujica [presidente do Uruguai], não gostam de Cristina [Kirchner, presidente da Argentina], não gostam de Evo Morales [presidente da Bolívia]. E não gostam não pelos nossos erros, mas pelos nossos acertos”, disse. Para Lula, as elites não gostam que pobre ande de avião, compre um carro novo ou tenha uma conta bancária.



Lula abriu o seu discurso pedindo um minuto de silêncio para as vítimas do incêndio em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e fez uma homenagem a Chávez, que se encontra internado em Havana, em tratamento contra um câncer na região pélvica. O ex-presidente afirmou estar usando uma Guayabera vermelha em sua homenagem.

Agenda

Lula também participou, nesta quarta, do lançamento do livro Os últimos soldados da guerra fria, do escritor brasileiro Fernando Morais. Não foram divulgados maiores detalhes sobre o encontro entre Lula e Fidel.

Ricardo Stuckert/Instituto Lula

Fidel Castro e Lula se encontraram em Havana; ex-presidente brasileiro pediu fim do bloqueio norte-americano à ilha

Pela manhã, o ex-presidente brasileiro também visitou o presidente Raúl Castro e acompanhou as obras do Porto de Mariel, destinado a ser uma "zona econômica exclusiva" na ilha, autorizada a receber capital estrangeiro.

O ex-presidente, em Havana desde segunda-feira (28), deve deixar Cuba em direção à República Dominicana, onde se encontrará com o presidente Danilo Medina Sánchez e o ex-presidente Leonel Fernández.

No dia 2, Lula irá a Washington, onde no dia seguinte, fará o discurso de abertura em um evento do sindicato dos trabalhadores da indústria automobilística e aeroespacial.



31/01/2013 - 10h05 | Redação | São Paulo

Gandhi, em nome da paz


Gandhi, em nome da paz

Há mais de 60 anos, a Índia se libertou do domínio inglês graças à luta de um homem que nunca aceitou a injustiça - e provou ao mundo que uma revolução podia ser feita sem armas

Eduardo Szklarz | 02/10/2012 15h14
Silêncio na sala de aula. Começa o ditado. "Uma das palavras era ‘chaleira’, que eu escrevi errado. O professor tentou me avisar com a ponta da bota, mas não entendi que ele estava me dizendo para colar a palavra do colega ao lado. (...) O resultado foi que todos escreveram a palavra corretamente, menos eu, considerado estúpido. O professor procurou me alertar sobre minha estupidez, mas nunca consegui aprender a arte de colar. Mais tarde, soube de outras falhas cometidas por esse professor, mas minha admiração por ele nunca diminuiu."

Com essa pequena história, narrada por Gandhi em sua autobiografia, talvez seja possível começar a entender quem ele era. Alguns dizem que ele foi um político muito religioso, outros o vêem como um religioso extremamente político. O mais provável é que tenha sido ambas as coisas: para Gandhi, religião e política eram dois lados da mesma moeda. Normalmente nos lembramos dele como o velhinho careca e seminu, tão frágil quanto seus óculos redondos, que há 60 anos botou o Império Britânico para correr sem precisar de fuzis ou canhões. Pouco se diz, entretanto, sobre como Gandhi desenvolveu essa estratégia e a capacidade de respeitar os outros, não importa o que fizessem (característica que lhe valeu o título de Mahatma - "grande alma", em sânscrito).

Foi na África do Sul, onde viveu por mais de 20 anos, que Gandhi percebeu que o mundo podia ser mudado com a resistência pacífica. Depois, na Índia, tornou-se o principal líder do processo de independência. Mas, como veremos, nem ele foi capaz unir um povo dividido por disputas políticas e intolerância religiosa.


Para inglês ver

Mohandas Karamchand Gandhi nasceu em 2 de outubro de 1869 na cidade indiana de Porbandar, filho de um político influente e de uma mulher muito religiosa - que costumava jejuar dias seguidos, seguindo um ritual hindu de purificação. Aos 13 anos, o jovem Mohandas se casou com Kasturbai, da mesma idade. Aos 18, foi estudar Direito em Londres. No início, se esforçou para ser um gentleman, pois achava que as roupas e os costumes ingleses lhe trariam sucesso. Com o tempo, porém, voltou-se à vida espiritual: passou a recitar de cor o Bhagavad Gita, um dos principais textos hindus. Também leu a Bíblia, adotando como lema os versos do Sermão da Montanha - aquele que diz: "Se vos esbofeteiam, oferecei a outra face".
Em 1891, o advogado Gandhi voltou à Índia. Por causa da timidez em falar em público, sua carreira não engrenava. Mesmo assim, foi convidado para ajudar a defender uma firma de comércio indiana num processo na África do Sul - assim como a Índia, uma colônia do Império Britânico. Nem bem pisou o solo sul-africano, em 1893, Gandhi sentiu na pele a discriminação contra "homens de cor". Durante uma viagem, foi jogado de um trem por se recusar a sair da primeira classe, exclusiva para brancos. Era um exemplo claro de que, mesmo que se vestisse como um inglês e tivesse estudado em Londres, ele nunca poderia ser livre numa colônia.

Após um ano na cidade de Pretória, o trabalho de Gandhi terminou. Mas ele decidiu ficar e lutar pelos direitos de seus conterrâneos que viviam na África do Sul - a maioria deles trabalhadores rurais. Em 1894, por exemplo, Gandhi percorreu o país reunindo milhares de assinaturas contra um projeto de lei que impedia os indianos pobres de votar. A medida foi aprovada do mesmo jeito, mas a atitude virou manchete na imprensa européia.

Em 1906, pai de quatro filhos, Gandhi fez um voto celibatário. O objetivo era aumentar o autoconhecimento e se aproximar de Deus. No mesmo ano, lançou a doutrina do satyagraha (ou "força da verdade"). Gandhi dizia que seu método exigia muita ação e coragem - contrariando uma idéia comum, ele não pregava a "resistência passiva". O pilar fundamental é a não-violência: protestar sempre, revidar nunca (muitas vezes, isso significava apanhar quieto da polícia). A regra era se recusar a seguir leis injustas, seguindo o princípio da "desobediência civil".

O satyagraha estreou contra uma lei feita para controlar imigrantes, que obrigava os indianos a se registrar com impressões digitais. Gandhi reuniu seguidores num teatro e declarou: "Por meio da nossa dor, nós os faremos perceber sua injustiça. Podem me torturar e até me matar. Terão meu corpo, não minha obediência". Como o governo não revogou a lei, Gandhi queimou seus registros e foi preso. Sempre que era levado a julgamento, acusado de desafiar o domínio colonial, Gandhi dizia que era isso mesmo que ele estava fazendo. Em vez de tentar escapar da prisão, concordava que merecia a pena máxima. Mas, como suas prisões geravam protesto, Gandhi costumava ser solto rapidamente.

O principal rival de Gandhi era o general Jan Christian Smuts, administrador da África do Sul. Aos poucos, contudo, ele foi conquistado pelo teimoso indiano. "Nunca o vi deixar-se contaminar pelo ódio. Seus métodos me irritavam, mas reconheço que minha situação era difícil. Eu tinha que aplicar uma lei que não contava com respaldo popular. Quando foi embora da África do Sul, me deu sandálias que ele mesmo tinha feito. Eu as devolvi: não me considerava merecedor de usar o mesmo calçado de um homem tão grande", escreveu Smuts em 1939.


Volta para casa


Em 1914, Gandhi voltou à terra natal. Graças à repercussão de sua atuação na África, logo se tornou um dos líderes do movimento pela independência da Índia. Mas ele percebeu que não seria fácil convencer os grupos religiosos do país a se unirem para lutar de modo pacífico. Naquela época, os indianos estavam divididos em 300 milhões de hindus, 100 milhões de muçulmanos e 6 milhões de sikhs. Unidos pela revolta contra os ingleses, eles tinham muitas diferenças entre si.

No início de 1919, Gandhi evocou a resistência não-violenta contra leis que davam aos ingleses poderes ilimitados contra a oposição. O movimento virou uma greve geral que paralisou o país, mas descambou para a violência. Gandhi então interrompeu a ação e começou um período de jejum para expiar sua culpa e se opor ao derramamento de sangue. No dia 13 de abril, tropas inglesas reprimiram a tiros uma multidão que protestava pacificamente na cidade de Amritsar, matando cerca de 400 pessoas e ferindo 1100. Depois do massacre, Gandhi interrompeu a cooperação com os britânicos. Começou mudando a própria imagem: raspou totalmente o cabelo e nunca mais usou trajes que não fossem vestimentas indianas tradicionais. Incitou o povo a fabricar suas roupas em casa e parar de comprá-las da Inglaterra- ele mesmo dava o exemplo, fazendo tecido com sua roca.

Os protestos arrancavam concessões dos britânicos, mas a independência ainda parecia distante. Em 1930, Gandhi inovou: em vez de fazer jejum, resolveu queimar algumas calorias numa marcha. Seguido por milhares de indianos, caminhou quase 400 quilômetros rumo ao mar da Arábia para fazer sal.

Aparentemente banal, o ato era uma violação do monopólio britânico sobre a fabricação do produto. Indianos de todo o país seguiram o exemplo, vendendo sal nas ruas. A repressão prendeu desde políticos até pessoas comuns. Com as cadeias lotadas, o vice-rei lorde Irwin, governante inglês da Índia, se dispôs a negociar. Em 1931, foi quebrado o monopólio sobre o sal. Sinal de que a independência seria questão de tempo.


Sonho partido

Enquanto dobrava os britânicos, Gandhi não conseguia conter os radicais hindus e muçulmanos, que realizavam atentados terroristas. Durante a Segunda Guerra, iniciada em 1939, a tensão cresceu. Gandhi disse que a Índia só apoiaria a Inglaterra se, ao fim do conflito, ganhasse a independência. Não houve acordo. O líder prosseguiu com seus protestos e foi preso em 1942. Dois anos depois, com a rivalidade entre hindus e muçulmanos beirando o caos, Gandhi começou a jejuar contra as hostilidades. Com medo de que ele morresse, os grupos rivais se acalmaram.

Gandhi voltou a comer, mas logo a violência recomeçou. Em maio, sofrendo de malária, ele foi solto pelos ingleses. Tentou, então, fazer com que os radicais hindus depusessem as armas. Fracassou. Por meio de cartas, tentou convencer Mohammed Ali Jinnah, maior líder muçulmano da Índia, a apoiar a criação de um só país após a independência. Mas ele tinha outros planos: exigia a divisão do território e a criação de um país islâmico, o Paquistão (ou "terra dos puros").

Após a Segunda Guerra, a Inglaterra estava frágil demais para manter sua maior colônia. Em março de 1947, desembarcou na Índia Louis Mountbatten, nomeado o último vice-rei. No dia 1º de abril, Gandhi se reuniu com ele e propôs que a colônia virasse um país só. Mal sabia que seu discípulo Jawaharlal Nehru, um dos líderes do Partido do Congresso, já havia dito a Mountbatten que os hindus, assim como os muçulmanos, preferiam a divisão.

Em 14 de agosto, o Paquistão declarou sua independência. À 0h do dia seguinte, a Índia fez o mesmo. Nehru virou primeiro-ministro da Índia e Jinnah assumiu o poder da nação vizinha. Gandhi nem foi aos festejos. Tinha 78 anos e viu que era tempo de dedicar-se à vida religiosa. Em 30 de janeiro de 1948, por volta das 5 da tarde, quando chegava para rezar num jardim de Nova Délhi, Gandhi foi morto a tiros por um extremista hindu. Suas últimas palavras foram "He Ram" - "Oh, Deus" no dialeto devanagari.
Gandhi foi logo transformado em mártir. Mas, recentemente, sua imagem intocada se tornou alvo de críticas. Em um artigo na revista americana Time, em 1998, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie citou o filme Gandhi como exemplo da "santificação ocidental não-histórica" do personagem: "Lá estava Gandhi, como guru, provendo esse produto da moda, a sabedoria oriental. Gandhi como Cristo, morrendo para que os outros pudessem viver". Segundo Rushdie, o culto ao líder parece insinuar que sempre é possível ganhar a liberdade sendo mais ético que o opressor, o que nem sempre ocorre. No fim da vida, o próprio Gandhi reconheceu que a não-violência talvez não tivesse adiantado contra os nazistas.

Com a razão, contra a lei

Entenda o princípio da desobediência civil
Quando fazia seus protestos, Gandhi estava colocando em prática uma idéia do século 19. A paternidade do conceito de desobediência civil é atribuída ao pensador americano Henry D. Thoreau. Segundo ele, se uma lei fosse "flagrantemente injusta", você poderia desobedecê-la. No século 20, o filósofo americano John Rawls definiu a desobediência civil como "um ato público, não-violento, contrário à lei e usualmente feito para produzir uma mudança na lei ou em políticas de governo". Mas o que isso significa? Em primeiro lugar, que a desobediência civil não significa desprezo às leis em geral. "Você tem consciência de que está desrespeitando uma lei porque deseja outra melhor. E, mesmo desobedecendo essa lei, continua disposto a se expor às suas conseqüências", diz o cientista político Cicero Araujo, da Universidade de São Paulo. "Todo ato de desobediência civil também precisa ser previamente avisado." Gandhi cumpria à risca essas condições: declarava-se leal à Constituição inglesa, sempre avisava antes de cada campanha e nunca resistia ao ser preso. Ao atuar abertamente, Gandhi diferenciava suas manifestações de atos criminosos (quando um ladrão rouba, ele faz isso escondido porque não pode justificar sua ação publicamente). A desobediência civil só pode ser feita contra leis que boa parte da sociedade ache injustas. Um bom exemplo foi a legislação racista do sul dos Estados Unidos, combatida nos anos 50 e 60 pelo pastor Martin Luther King - que agia da mesma forma que Gandhi e deixava a polícia numa sinuca: como pode ser certo usar de violência para reprimir manifestações pacíficas? "‘Civil’ vem da idéia de civilizado, em contraponto ao armado", diz Araujo. Para quem quiser tentar, um aviso: a desobediência civil só funciona em países que se comprometem com o valor das leis - em ditaduras, ela não faz sentido.

Irmãos em luta

Separados, Índia e Paquistão se tornaram rivais
A maior derrota sofrida por Gandhi foi a divisão da Índia, em agosto de 1947. Jawaharlal Nehru, um dos líderes do Partido do Congresso e discípulo de Gandhi, passara muito tempo defendendo a unidade do país, mas acabou temendo o que aconteceria com os hindus se o governo fosse assumido pela minoria muçulmana. Já Mohammed Ali Jinnah, líder da Liga Muçulmana, nunca abandonou a idéia de criar de um Estado islâmico separado da Índia, o Paquistão. "Para ele, era legítimo o direito de secessão das zonas em que a identidade muçulmana era majoritária", diz o italiano Francesco D`Orazi Flavoni no livro Storia dell´India ("História da Índia", sem tradução no Brasil). Jinnah costumava dizer que a Índia não era uma nação, e sim um subcontinente habitado por nacionalidades, das quais as duas principais eram a muçulmana e a hindu. A divisão prevaleceu, mas não houve uma separação cirúrgica. De repente, milhões de pessoas estavam "do lado errado" e precisavam cruzar centenas de quilômetros para chegar a seu novo país. Muitos nunca chegaram. Segundo a pesquisadora indiana Sunil Khilnani, da Universidade de Carleton, no Canadá, a divisão provocou o deslocamento de algo entre 12 milhões e 16 milhões de pessoas, além da morte de cerca de 1 milhão em conflitos. As divergências entre os dois lados tampouco desapareceram com a independência. Índia e Paquistão se enfrentariam em três guerras (1947-1948 e 1965, pelo controle da Caxemira, e 1971, quando o Paquistão Oriental se tornou Bangladesh) e desenvolveram armas nucleares.


Eduardo Szklarz | 02/10/2012 15h14

Saiba mais

Livro
Gandhi - Autobiografia, Mohandas K. Gandhi, Palas Athena, 2007
Traz relatos que vão da infância até os conflitos na Índia, passando por assuntos com vegetarianismo e vida conjugal.


DVD
Gandhi, Richard Attenborough, Inglaterra, 1982
Ganhador de oito Oscars, é uma boa introdução à vida do líder, apesar de exagerar na simpatia a ele.

O que é a “fé” correta?


O que é a “fé” correta?

A “fé” correta capaz de manifestar a iluminação é a “fé” firme e absoluta mantida pelos Bodhisattvas da Terra.

Em “O Verdadeiro Aspecto de Todos os Fenômenos”, Daishonin assegura: “Se não fossem Bodhisattvas da Terra, eles não seriam capazes de recitar Daimoku” (END, v. 5, p. 252). Isso indica que a “fé” correta é aquela que incorpora o elevado senso de missão de manifestar o potencial vital na própria vida e de dedicar-se para garantir que as outras pessoas façam o mesmo.
 
 

O presidente Ikeda explica o que é o Daimoku dos Bodhisattvas da Terra: “O verdadeiro significado do Daimoku recitado pelos Bodhisattvas da Terra se encontra não só na realização de sua prática pessoal­, mas em ensinar outros a fazer o mesmo (Chakubuku). Ou seja, no empenho na prática para si (individual) e na prática para os outros (altruística)” (TC, ed. 467, jul. 2007, p. 42).
 
 

“Recitar Daimoku, e ensinar os outros a fazer o mesmo, é a ‘fé profunda, uma forte crença na existência da natureza de Buda em nossa vida e na das demais pessoas”.

Qual é a postura correta ao recitar Daimoku?


Qual é a postura correta ao recitar Daimoku?

O presidente Ikeda esclarece: “É importante também que recitemos com um coração honesto e aberto, tal como somos. Todos nós enfrentamos momentos de preocupação, tristeza ou angústia. Quando isso ocorrer, podemos nos sentir livres para ir direto ao Gohonzon com o nosso sofrimento e orar por ele de todo coração, como uma criança busca o caloroso abraço de sua mãe”.

“Meu mestre e segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, disse muitas vezes que não há necessidade de cerimônias quando oramos por nossos problemas, precisamos apenas orar sinceramente ao Gohonzon, realmente considerando o que está em nosso coração. A recitação, disse ele, é a prática de manifestar o mesmo estado de vida de Daishonin dentro de nós mesmos, por isso devemos orar com o espírito dotado do estado de vida de Nitiren Daishonin.

“Por exemplo, se fizemos algo que lamentamos, oramos com a determinação de nunca mais repetirmos o mesmo erro, tornando nosso Daimoku o primeiro passo em direção a um futuro novo e melhor. Quando enfrentamos um desafio decisivo, oramos forte e corajosamente com firme determinação de vencer. Quando lutamos contra os Três Obstáculos e as Quatro Maldades, oramos com o coração de um rei leão, cheio de confiança de que venceremos essas funções negativas. Quando confrontamos a oportunidade de transformar nosso carma, podemos infundir em nosso Daimoku uma inabalável determinação de não ser derrotado. Quando estamos felizes, oramos com um profundo espírito de gratidão. O que importa é que continuemos recitando Nam-myoho-rengue-kyo em todos os momentos, ‘considerando tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida’, tal como Daishonin ensina” (cf. END, v. III, p. 199).

Conclusão

Para que o Daimoku seja a solução para que você conquiste uma vida plena, é necessário recitá-lo com uma “fé” firme e correta. Essa é a “fé” dos Bodhisattvas da Terra que têm como missão recitar Nam-myoho-rengue-kyo e ensinar os outros a fazer o mesmo [Chakubuku]. O mais importante sobre o Daimoku é conseguir recitá-lo em todos os momentos, alegres ou tristes.
Quando realizado com a mesma “fé” de um buda, o som que ouvimos é a voz do Buda que nos incentiva a viver pela missão e desperta em nós a suprema condição de vida do Buda de kuon ganjo, o mestre de todos os budas e a fonte da vida universal.
 
 

1. MALRAUX, André. Anti-memoirs [Antimemórias]. Tradução de Terence Kilmartin. Nova York: Holt, Rinehart e Winston, 1968. p. 228.
2. Ibidem.
3. WATSON, Lyall. Lifetide — The Byology of the Unconscious [Fluxo de Vida — A Biologia do Inconsciente]. Nova York: Simon and Schuster, 1979.
4. LOVELOCK, Jim E. Gaia — A New Look at Life on Earth [Gaia — Uma Nova Visão da Vida sobre a Terra]. Londres: Oxford University Press, 1987.
5. Extraído de um diário de Goethe de 1812. Traduzido do japonês por Ludwig von Bertaanffy. Seimei [Vida]. Tradução de Kei Nagano e Mamoru Iijima. Tóquio: Misuzu Shobo, 1974. p. 59.

Líder do MST é assassinado a tiros na madrugada

TÁ LÁ O CORPO ESTENDIDO NO CHÃO
SETE PALMOS DE TERRA É O QUE LHE CABE DESSE LATIFUNDIO
É PAU É PEDRA É O FIM DO CAMINHO
UM DIA FOI ELE OUTRO DIA SERÁ VOCÊ
AÍ SUA LINGUA JÁ ESTARÁ CORTADA
E NÃO VAIS MAIS PODER GRITAR
POIS SE ACOVARDOU OU DEIXOU-SE MIRAR
PELA FALA DO NOSSO INIMIGO
E FICOU AÍ POSTANDO SUAS BALAS
BALAS DE PRATA PARA MATAR SEU IRMÃO
QUE VOCÊ NÃO CONSEGUE SABER QUE É
TÃO EMBEBIDO QUE ESTÁ NA SALIVA
DO SATANÁS CHAMADO ELITE
VAI AMIGO SE SACA E SAI DESSA
VIDA BABACA.
Líder do MST é assassinado a tiros na madrugada

Corpo do agricultor Cícero Guedes dos Santos, de 49 anos, foi encontrado na manhã de 26 de janeiro em uma estrada e tinha marcas de tiros na cabeça e nas costas 
RIO - Um líder do Movimento dos Sem Terra (MST) foi assassinado a tiros na madrugada deste sábado, dia 26, em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro. O corpo do agricultor Cícero Guedes dos Santos, de 49 anos, foi encontrado na manhã de sábado, em uma estrada próxima à BR 356, entre Campos e São João da Barra. O corpo tinha marcas de tiros na cabeça e nas costas. 

A polícia realizou uma perícia no local e o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML). Segundo a Polícia Civil, o caso está sendo investigado pelo delegado Geraldo Rangel e acompanhado pela delegada chefe da polícia, Marta Rocha. Ainda de acordo com a polícia, "medidas cautelares estão sendo adotadas para esclarecer a autoria e a motivação do crime."

Não há informações sobre o enterro da vítima, que deixou cinco filhos. Cícero Guedes morava no assentamento Zumbi dos Palmares, no Sítio Brava Gente, em Campos, desde 2002. Ele foi visto pela última vez ao deixar uma reunião de lideranças do movimento no assentamento Luiz Maranhão, na usina Cambahyba, também em Campos. Nenhum pertence do agricultor foi levado.
 
O acampamento está localizado em um antigo engenho com sete fazendas em uma área de 3.500 hectares. Cerca de 200 famílias do MST ocupam o lugar desde novembro de 2012. Em nota publicada em seu site, o MST afirma que a área aguarda desapropriação pela justiça há 14 anos. A propriedade pertence aos herdeiros de Heli Ribeiro Gomes, ex-vice governador do Rio entre 1967 e 1971. 

"A morte da companheiro Cícero é resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos Sem Terra e da lentidão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentar as famílias e fazer a Reforma Agrária. O MST exige que os culpados sejam julgados, condenados e presos", informa a nota.

Uma equipe da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) também está no local acompanhando as investigações. O presidente da comissão, deputado Marcelo Freixo lamentou a morte do líder comunitário em sua página na internet. "Cícero era uma das mais importantes lideranças do MST. Vamos acompanhar e prestar solidariedade. A maior homenagem ao Cícero é continuarmos na luta pela reforma agrária."

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,lider-do-mst-e-assassinado-a-tiros-na-madrugada,989172,0.htm
Líder do MST é assassinado a tiros na madrugada

Corpo do agricultor Cícero Guedes dos Santos, de 49 anos, foi encontrado na manhã de 26 de janeiro em uma estrada e tinha marcas de tiros na cabeça e nas costas
RIO - Um líder do Movimento dos Sem Terra (MST) foi assassinado a tiros na madrugada deste sábado, dia 26, em Campos dos Goytacazes, no norte do estado do Rio de Janeiro. O corpo do agricultor Cícero Guedes dos Santos, de 49 anos, foi encontrado na manhã de sábado, em uma estrada próxima à BR 356, entre Campos e São João da Barra. O corpo tinha marcas de tiros na cabeça e nas costas.

A polícia realizou uma perícia no local e o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML). Segundo a Polícia Civil, o caso está sendo investigado pelo delegado Geraldo Rangel e acompanhado pela delegada chefe da polícia, Marta Rocha. Ainda de acordo com a polícia, "medidas cautelares estão sendo adotadas para esclarecer a autoria e a motivação do crime."

Não há informações sobre o enterro da vítima, que deixou cinco filhos. Cícero Guedes morava no assentamento Zumbi dos Palmares, no Sítio Brava Gente, em Campos, desde 2002. Ele foi visto pela última vez ao deixar uma reunião de lideranças do movimento no assentamento Luiz Maranhão, na usina Cambahyba, também em Campos. Nenhum pertence do agricultor foi levado.

O acampamento está localizado em um antigo engenho com sete fazendas em uma área de 3.500 hectares. Cerca de 200 famílias do MST ocupam o lugar desde novembro de 2012. Em nota publicada em seu site, o MST afirma que a área aguarda desapropriação pela justiça há 14 anos. A propriedade pertence aos herdeiros de Heli Ribeiro Gomes, ex-vice governador do Rio entre 1967 e 1971.

"A morte da companheiro Cícero é resultado da violência do latifúndio, da impunidade das mortes dos Sem Terra e da lentidão do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para assentar as famílias e fazer a Reforma Agrária. O MST exige que os culpados sejam julgados, condenados e presos", informa a nota.

Uma equipe da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) também está no local acompanhando as investigações. O presidente da comissão, deputado Marcelo Freixo lamentou a morte do líder comunitário em sua página na internet. "Cícero era uma das mais importantes lideranças do MST. Vamos acompanhar e prestar solidariedade. A maior homenagem ao Cícero é continuarmos na luta pela reforma agrária."

http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,lider-do-mst-e-assassinado-a-tiros-na-madrugada,989172,0.htm

Budismo Nitiren Daishonin II

 
 
 
"Quando sua determinação muda, tudo o mais começa a se mover em direção ao seu desejo. No momento em que você resolve ser vitorioso(a), cada nervo e cada fibra de seu corpo começam imediatamente a orientar-se, eles próprios, em direção ao seu sucesso. Por outro lado, se você pensa que " isto nunca vai acontecer," neste mesmo momento, cada célula de seu corpo será deflacionada e parará de lutar. Então, tudo se moverá em direção ao fracasso.” (Faith Into Action, pp.108-109)

Budismo Nitiren Daishonin

Não existem budas que ficam sofrendo eternamente na pobreza. Também não existem budas cruéis ou malvados, como não existem budas fracos que são derrotados na vida, buda é um outro nome para a pessoa que está determinada a vencer, não importando o que aconteça. (Daisaku Ikeda)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

OMC inicia processo sucessório em meio a "crise existencial"

Economia

OMC inicia processo sucessório em meio a "crise existencial"

Lançada há 12 anos, a Rodada Doha para liberalização do comércio mundial pouco avançou, levando vários países a optar por acordos fora da OMC. O ano de 2013 será decisivo para a organização e seu novo presidente. 

Roberto Carvalho de Azevêdo, Anabel González, Herminio Blanco, Mari Elka Pangestu, Taeho Bark, Amina Mohamed, Alan John Kwadwo Kyerematen, Tim Groser, Ahmad Thougan Hindawi – ao menos por enquanto, esses são nomes conhecidos somente por quem é do meio. Mas, ainda este ano, um deles irá suceder ao francês Pascal Lamy no posto de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Antes disso, os nove candidatos deverão apresentar suas ideias para o futuro da organização. O processo de escolha é uma verdadeira maratona, que teve início no final de janeiro e pode durar até três meses, mas ele não é nada se comparado ao que aguarda o escolhido depois da posse no cargo: nada menos que salvar a OMC da crise existencial pós-Doha.

Adeus, Doha!

Em 2001, os Estados-membros da OMC ainda olhavam ambiciosos e otimistas para o futuro. Em Doha, capital do Catar, eles lançaram as bases para uma nova rodada de negociações – a chamada Rodada Doha. O objetivo era ambicioso: conceder livre acesso ao mercado mundial a todos os países participantes e fortalecer o comércio internacional por meio da redução de tarifas alfandegárias e outras barreiras comerciais, contribuindo, assim, para a prosperidade de todos.


Brasileiro Roberto Azevêdo concorre ao cargo de diretor-geral da organização

Sobretudo os países em desenvolvimento deveriam beneficiar-se dos novos planos da OMC. A capital do Catar seria o símbolo de uma nova ordem livre e justa do comércio internacional. Em vez de tudo isso, Doha gerou frustração e estagnação. Até 2005, os países envolvidos pretendiam concluir as negociações sobre esse pacote gigante de reformas. Oito anos depois, nada aconteceu.

"Todo mundo sabe que a Rodada Doha está morta, mas ninguém quer dizer isso em voz alta", considera Simon Evenett, especialista em OMC da Universidade St. Gallen, na Suíça. Especialmente os países em desenvolvimento, em particular os países agrícolas, têm interesse em que a Rodada Doha continue em andamento. "Mas o problema é que eles não sabem como podem influenciar o processo de negociação de forma a ganhar o apoio dos EUA e de outras potências", diz Evenett. Sua conclusão: Doha é como um zumbi, nem morta nem viva.

Opiniões divergentes

O maior ponto de discórdia é a agricultura, que levou a uma divisão entre os países industrializados e as nações em desenvolvimento. Os países ricos devem abolir os subsídios que concedem a seus agricultores? Os países em desenvolvimento podem cobrar tarifas de importação para proteger seus próprios produtos?
O problema fundamental é a complexidade de Doha – mais de 20 temas devem ser tratados num pacote completo: produtos agrícolas, bens industriais e serviços deveriam ser liberalizados de forma geral. Além disso, há ainda propostas de reforma de processos de votação e medidas regulatórias em questões de formação de cartel ou investimentos estrangeiros.

"Além disso, os países-membros, na época 155, optaram pelo princípio do single undertaking [compromisso único], ou seja, todos os itens de discussão da rodada devem ser aprovados de forma conjunta." Isso torna a situação ainda mais difícil, "porque todos têm que estar de acordo", diz Ricardo Meléndez-Ortiz, do Centro Internacional para o Comércio e Desenvolvimento Sustentável. Até hoje, a OMC não conseguiu corrigir tal falha.

Comércio mundial sem OMC

A estagnação na Rodada Doha criou, nos últimos anos, um modelo alternativo para os acordos multilaterais na OMC. Um número cada vez maior de países fechou acordos bilaterais fora da jurisdição da organização. Uma rede de acordos de livre comércio espalhou-se pelo mundo, sendo quase impossível ter uma visão geral deles. O problema desse sistema é que as partes interessadas podem recorrer somente às próprias habilidades de negociação.

Apesar de muitos desses acordos bilaterais basearem-se na legislação da OMC, são as partes interessadas que determinam as regras – o que pode prejudicar o equilíbrio de poder. "Negociações entre um país economicamente mais forte e outro mais fraco poderiam provocar relações injustas, porque o mais forte é capaz de exercer mais influência e pressão. E é justamente por isso que precisamos da OMC e da abordagem multilateral", afirma Meléndez-Ortiz. Somente no contexto das regras da OMC países menores e mais fracos estariam protegidos, completa Evenett.

Nova era

Para os especialistas, já está, portanto, mais do que na hora de mudar alguma coisa, de retomar as negociações e buscar soluções conjuntas."Não podemos esperar mais dez anos. Isso vai enterrar o futuro da organização. Os países-membros terão de aceitar que a Rodada Doha não é mais negociável, que é preciso elaborar um novo pacote. E quanto mais cedo, melhor", diz Evenett. Para isso, é preciso haver concessões políticas de todos os lados, considera.

 
 

A solução poderia estar no detalhe. "Cada vez fala-se mais que não se trata somente de um pacote", aponta Christian Tietje, professor da Universidade Martin Luther em Halle, no leste da Alemanha. Segundo o especialista, não se diz isso abertamente, mas todos já perceberam que, com a Rodada Doha, foi dado um passo maior do que a perna.

"Então, a partir do pacote global, tenta-se encontrar soluções individuais para áreas específicas, consideradas essenciais para o desenvolvimento do comércio mundial, como questões técnicas no desembaraço aduaneiro", exemplifica Tietje.

"O princípio do 'single undertaking' também deve ser reconsiderado. Atualmente, estão sendo negociadas opções por meio das quais uma 'massa crítica', ou seja, somente alguns países-membros da OMC poderão fechar acordos plurilaterais", afirma Meléndez-Ortiz. Como na OMC vota-se através do consenso, os países que não querem participar desse acordo também terão de aprová-lo, mas "esse é um dos poucos instrumentos que restaram para se conseguir um avanço".

Tal acordo plurilateral deve, no entanto, preencher alguns requisitos, ressalta Meléndez-Ortiz. "Ele deve estar aberto a todos que desejarem participar dele mais tarde e deve respeitar o princípio da nação mais favorecida." Essa cláusula consiste na determinação de que qualquer vantagem político-comercial concedida a um dos países pertencentes à OMC tem, obrigatoriamente, que ser concedida aos demais países da organização.

De olho em Bali

As chances de que agora uma mulher assuma, pela primeira vez, a liderança da OMC são maiores do que nunca – afinal, três mulheres experientes candidataram-se ao cargo. E também a origem dos candidatos permite supor que a OMC está ao menos se esforçando por uma mudança de imagem. Oito dos nove candidatos vêm de países considerados em desenvolvimento pela OMC.

Até agora, todos os diretores-gerais, exceto o tailandês Supachai Panitchpakdi, vinham de países industriais. Mas independentemente de quem suceder a Lamy, as principais decisões são tomadas não pelo diretor-geral, mas pelos membros da conferência ministerial
.
A próxima conferência acontecerá no final de 2013 em Bali. Na ilha indonésia, o "nó de Doha" deverá ser finalmente desatado, chegando-se a uma solução para o atual gargalo nas negociações. Afinal, como destacam os especialistas, já está mais do que na hora para isso.


Autora: Rayna Breuer (ca)
Revisão: Luisa Frey / Alexandre Schossler

Chefe da ONU pede fim de guerra na Síria e US$ 1,5 bi em ajuda

Chefe da ONU pede fim de guerra na Síria e US$ 1,5 bi em ajuda


Onda de Revoltas O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu novamente nesta quarta-feira o fim do conflito na Síria, que já dura 22 meses, e US$ 1,5 bilhões (R$ 3 bilhões) em ajuda humanitária para socorrer os quase 5 milhões de refugiados do país.

O país vive uma forte crise humanitária após meses de intensos confrontos entre aliados e rivais do ditador Bashar Assad. Desde o início da revolta, em março de 2011, mais de 60 mil pessoas morreram devido à violência, segundo a ONU.

Em campanha de doadores no Kuait, o chefe da organização afirmou que a situação no país árabe é "um horror incessante" e pediu novamente que a violência termine em ambos os lados.

"Quantas pessoas serão mortas se esta situação continua? Eu apelo a todos os lados e particularmente ao governo da Síria para que parem de matar. Em nome da humanidade, parem a matança, parem com a violência", disse.

Ele ainda pediu mais US$ 1,5 bilhões para aumentar a ajuda humanitária para os quase 5 milhões de refugiados do país. Desses, 700 mil estão em acampamentos em países vizinhos e outros 4 milhões se deslocaram internamente.

Do total que seria disponibilizado para a ajuda, US$ 1 bilhão seriam usados para socorrer os refugiados no exterior, enquanto os outros US$ 500 milhões, aplicados para os refugiados internos. A ajuda para os que estão dentro do país é mais complicada devido ao menor efetivo da ONU, retirado por causa da violência.

O valor seria suficiente para cobrir as necessidades dos refugiados no primeiro semestre, mas só 18% da quantia foi obtida. Nesta quarta, os Emirados Árabes Unidos e o Kuait doaram US$ 300 milhões cada para diminuir a crise.

Enquanto isso, a Alemanha anunciou o envio de mais € 10 milhões (US$ 13,4 milhões) para esta campanha, embora tenha doado mais de € 103 milhões (US$ 139 milhões) em todo o ano passado.

CRUZ VERMELHA
 
A dificuldade de oferecer ajuda humanitária também foi mencionada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha. A entidade declarou que o sofrimento da população síria alcançou "níveis sem precedentes", devido aos problemas de acesso, em especial nas regiões mais conflagradas.

A organização internacional diz que as maiores dificuldades de acesso estão em Aleppo, Deir el Zur e Idlib, localidades mais afetadas pelos confrontos entre o regime e a oposição síria. Para a Cruz Vermelha, a situação continua a se deteriorar e não há sinais do fim dos choques entre o regime e a oposição.



DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Vontade de potência


Vontade de potência


SÃO PAULO - Eu concordo com quase tudo o que o Drauzio Varella diz. Quase. A defesa apaixonada que ele fez da internação involuntária para dependentes de droga talvez se justifique como discurso de um pai desesperado ou de um médico aflito por não ter como ajudar o paciente, mas deixa de levar em conta alguns elementos importantes.

No afã de tomar uma atitude, Drauzio passa como um trator por cima de dúvidas pertinentes como a eficácia do tratamento compulsório -que tende a ser ainda menor do que as já modestas taxas de sucesso das internações voluntárias- e a carência de vagas no sistema.

Raciocinando por hipótese, já que não existem dados confiáveis, se a chance de livrar-se da dependência é mínima e o tratamento é física e psicologicamente penoso, não podemos nem mesmo afirmar que a recusa é uma decisão irracional. Se vale a analogia com o câncer, quando o prognóstico da doença é muito ruim, alguns pacientes optam, talvez sabiamente, por evitar os efeitos adversos de uma quimioterapia.

E será que faz sentido usar uma vaga com alguém que não a deseja quando existem muitos dependentes menos graves que buscam desesperadamente um lugar para internação e não o conseguem? Qual a política pública mais correta?

Não chego a afirmar que a internação à revelia seja sempre indesejável, mas me parece claro que não pode ser usada como panaceia. Não dá para sair jogando as pessoas em hospitais e clínicas e depois corrigir os exageros, como quer o Drauzio.

A humanidade levou sete milênios para desenvolver mecanismos legais que protegem o cidadão do arbítrio do Estado. A lei nº 10.216, que prevê a internação involuntária, põe esse esforço por água abaixo ao permitir que uma pessoa seja privada de sua liberdade por tempo indefinido sem direito a defensor ou mesmo juiz. Precisamos, no mínimo, reescrever essa monstruosidade jurídica.

helio@uol.com.br


Hélio Schwartsman  

Boaventura de Sousa Santos: A democracia ante o abismo

Boaventura de Sousa Santos: A democracia ante o abismo

No contexto de crise em Portugal, o combate contra o fascismo social de que se fala neste texto exige um novo entendimento entre as forças democráticas. A situação não é a mesma que justificou as frentes antifascistas na Europa dos anos 1930, que permitiram alianças no seio de um vasto espectro político, incluindo comunistas e democratas cristãos, mas tem com esta algumas semelhanças perturbadoras.
Esperar sem esperança é a pior maldição que pode cair sobre um povo. A esperança não se inventa, constrói-se com alternativas à situação presente, a partir de diagnósticos que habilitem os agentes sociais e políticos a ser convincentes no seu inconformismo e realistas nas alternativas que propõem.

Se o desmantelamento do Estado do Bem-Estar Social e certas privatizações (a da água) ocorrerem, estaremos a entrar numa sociedade politicamente democrática, mas socialmente fascista, na medida em que as classes sociais mais vulneráveis verão as suas expectativas de vida dependerem da benevolência e, portanto, do direito de veto de grupos sociais minoritários, mas poderosos.

O fascismo que emerge não é político, é social e coexiste com uma democracia de baixíssima intensidade. A direita que está no poder não é homogênea, mas nela domina a facção para quem a democracia, longe de ser um valor inestimável, é um custo econômico e o fascismo social é um estado normal.

A construção de alternativas assenta em duas distinções: entre a direita da democracia-como-custo e a direita da democracia-como-valor; e entre esta última e as esquerdas (no espectro político atual, não há uma esquerda para quem a democracia seja um custo). As alternativas democráticas hão de surgir desta última distinção.

Os democratas portugueses, de esquerda e de direita, terão de ter presente tanto o que os une como o que os divide. O que os une é a ideia de que a democracia não se sustenta sem as condições que a tornem credível ante a maioria da população. Tal credibilidade assenta na representatividade efetiva de quem representa, no desempenho de quem governa, no mínimo de ética política e de equidade para que o cidadão não o seja apenas quando vota, mas, também, quando trabalha, quando adoece, quando vai à escola, quando se diverte e cultiva, quando envelhece.



Cesar Habert Paciornik/Folhapress

Esse menor denominador comum é hoje mais importante do que nunca, mas, ao contrário do que pode parecer, as divergências que a partir dele existem são igualmente mais importantes do que nunca. São elas que vão dominar a vida política nas próximas décadas.

Primeiro, para a esquerda, a democracia representativa de raiz liberal é hoje incapaz de garantir, por si, as condições da sua sustentabilidade. O poder econômico e financeiro está de tal modo concentrado e globalizado, que o seu músculo consegue sequestrar com facilidade os representantes e os governantes (por que há dinheiro para resgatar bancos e não há dinheiro para resgatar famílias?). Daí a necessidade de complementar a democracia representativa com a democracia participativa (orçamentos participativos, conselhos de cidadãos).

Segundo, crescimento só é desenvolvimento quando for ecologicamente sustentável e quando contribuir para democratizar as relações sociais em todos os domínios da vida coletiva (na empresa, na rua, na escola, no campo, na família, no acesso ao direito). Democracia é todo o processo de transformação de relações de poder desigual em relações da autoridade partilhada. O socialismo é a democracia sem fim.

Terceiro, só o Estado do Bem-Estar Social forte torna possível a sociedade do bem-estar forte (pais reformados com pensões cortadas deixam de poder ajudar os filhos desempregados, tal como filhos desempregados deixam de poder ajudar os pais idosos ou doentes). A filantropia e a caridade são politicamente reacionárias quando, em vez de complementar os direitos sociais, se substituem a eles.
Quarto, a diversidade cultural, sexual, racial e religiosa deve ser celebrada e não apenas tolerada.


BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, sociólogo português, é diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (Portugal)

FURANDO A FILA CALHEIROS E ALVES II

Editoria de Arte/Folhapress
OUTRO LADO
 
O deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) negou irregularidades nos procedimentos na Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça.

Disse, por meio de sua assessoria, que "enviou dezenas de correspondências para todos os órgãos, cumprindo seu dever de parlamentar, e de líder da bancada".

Procurado na tarde de ontem, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) não respondeu aos questionamentos.

O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, disse que o órgão recebe "praticamente uma carta [de político] por dia".

"É muito comum nós recebermos, via assessoria parlamentar, pedidos para informações ou pedindo prioridade, em razão de doença ou porque conhece a pessoa."

Abrão explicou que os pedidos são juntados aos processos administrativos, mas "não resulta em nenhum efeito prático em termos de andamento processual".

No caso de priorização, Abrão disse que a legislação estabelece três casos: processos mais antigos, pessoas com doença grave ou idade avançada.

Roosevelt Garcia disse que não pediu ajuda a Henrique Eduardo Alves. Ele afirma ter pedido o cargo de professor universitário no Rio Grande do Norte por imposição do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações). A Folha não localizou os outros citados na reportagem

Renan e Alves fizeram lobby para furar a fila da Comissão da Anistia

Renan e Alves fizeram lobby para furar a fila da Comissão da Anistia



Em troca de apoio político, os peemedebistas Renan Calheiros (AL) e Henrique Eduardo Alves (RN) fizeram lobby para agilizar processos de aliados na Comissão de Anistia, órgão vinculado ao Ministério da Justiça que julga pedidos de indenizações a pessoas perseguidas pela ditadura militar.

Novos documentos obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação mostram que, juntos, os parlamentares, favoritos para assumir respectivamente as presidências do Senado (na sexta) e da Câmara (segunda), pediram que 17 casos fossem analisados de forma prioritária desde 2005.

Nove processos já foram deferidos e outros três, indeferidos. Das 17 requisições, 10 foram para filiados a partidos --PT, PSDB, DEM, PP e, principalmente, PMDB.

Um dos documentos indica que Renan ganharia ajuda eleitoral como contrapartida à sua atuação no Ministério.

Trata-se de uma carta de Paulo Nogueira Silva, filiado ao PMDB da Bahia, anexada pelo próprio senador no ofício enviado para a comissão.

Nela, o militante pede que o senador o ajude em um processo de seu cunhado. Em contrapartida, promete ajudar Renan pessoalmente e empenhar familiares da cidade alagoana de Pão de Açúcar nas eleições de 2006.



Lula Marques - 13.mar.12/Folhapress
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN)


No dia seguinte, Renan enviou os papéis ao ministério. A resposta saiu em setembro de 2007, atendendo o pedido do cunhado --contagem de tempo do período em que exerceu mandato de vereador gratuitamente, já que a ditadura suspendeu esses pagamentos entre 1964 e 1969.

Um outro papel atesta que o colegiado deu "prioridade" a um processo, atendendo pedido feito também por Renan em favor de José Severino de Andrada, ex-vereador de Murici (AL), base eleitoral do clã Calheiros, em 2005.

Em abril de 2006, em resposta a Renan, a comissão informou: "Foi conferida prioridade ao processo", em que também foi concedida contagem de tempo de mandato de vereador sem salário. Segundo a comissão, a "prioridade" foi dada devido à idade avançada de Andrada --o que é previsto em norma.
Vereadores atingidos por atos da ditadura recorrem ao órgão federal para que o tempo de trabalho seja contado no cálculo de aposentadoria.

Advogados e procuradores consultados dizem que, se o pedido de agilização tiver contrapartida pode haver crimes como tráfico de influência e advocacia administrativa (usar o cargo para patrocinar interesse privado na administração pública).

"Teoricamente, o poder público deveria tratar todo mundo por igual. Não deveria haver processos mais ágeis. A Constituição fala do princípio da igualdade e impessoalidade", disse o jurista Ives Gandra Martins.
Entre 2009 e 2010, Henrique Alves enviou três documentos solicitando "agilização no processo" de Roosevelt Garcia, ex-secretário do governo do Rio Grande do Norte.

O presidente da comissão, Paulo Abrão, enviou respostas ao deputado, entre elas a de que, em 2010, o caso estava em "fase de finalização".

Garcia foi declarado anistiado em 27 de outubro de 2010, quatro meses depois do último pedido do deputado. Foi autorizada indenização mensal de R$ 4.100 e retroativo de R$ 658 mil. "Nem sabia que Henrique tinha interferido", disse Garcia, ex-presidente do diretório acadêmico da faculdade de direito da UFRN, e hoje um pecuarista..

A Comissão de Anistia precisa analisar documentos antes de julgar os casos. Há processos esperando finalização desde 2002. No fim de 2011, havia 12 mil processos pendentes de análise.



FERNANDO MELLO
BRENO COSTA


DE BRASÍLIA 

Aliado do Planalto, PSB rompe com apoio à candidatura de Renan

Aliado do Planalto, PSB rompe com apoio à candidatura de Renan


Senadores do PSB divulgaram nota nesta quinta-feira (30) em que defendem que o PMDB escolha um candidato à Presidência do Senado capaz de "recuperar a credibilidade" da Casa.


 
O grupo de quatro senadores afirma que, além de uma plataforma de trabalho que resgate a imagem do Senado, o novo presidente precisa representar o "ideal de renovação" - num recado para que os peemedebistas não formalizem a indicação de Renan Calheiros (PMDB-AL) para disputar o cargo.


Alan Marques - 14.jan.2013/Folhapress 
O senador Renan Calheiros, favorito na disputa pela presidência do Senado
O senador Renan Calheiros, favorito na disputa pela presidência do Senado 


O PSB integra a coligação de partidos que apoiam o governo federal, que tem como vice-presidente Michel Temer (PMDB-sP), presidente de honra do PMDB. Embora a nota não mencione o nome de Renan, senadores do partido admitem votar contra o peemedebista na eleição para a Presidência do Senado, marcada para sexta-feira (1).

"Para bom entendedor, meia palavra basta. Não é apenas a questão do nome [do Renan], mas de todo o processo de escolha do candidato. Estamos há dois dias das eleições, o PMDB quer escolher o seu nome apenas na quinta-feira. Não há um processo de ideias. Vamos como carneiros para essa discussão?", questionou a líder do PSB, senadora Lídice da Mata (BA).

A nota é assinada pelos quatro senadores do PSB: Lídice, Rodrigo Rollemberg (DF), Antônio Carlos Valadares (SE) e João Capiberibe (AP). Segundo a senadora, a bancada vai votar "unida" no novo presidente. O partido espera que o PMDB escolha outro nome, mas cogita apoiar um senador "independente" se Renan for mantido na disputa pelos peemedebistas.

A bancada se irritou depois que a Mesa Diretora do Senado divulgou tabela em que considera apenas três senadores do partido - uma vez que Capiberipe assumiu seu mandato no ano passado, depois de ser barrado pela lei da ficha-limpa. O parlamentar tomou posse de sua cadeira depois que o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou a validade da lei nas eleições de 2010.

Com essa divisão de tamanho, o PSB perde a possibilidade de disputar a quarta-secretaria do Senado com o DEM, que também possui quatro senadores. A manobra, segundo alguns senadores do partido, poderia ser estratégia da campanha de Renan para assegurar apoio do DEM na eleição.
Segundo Lídice, na semana passada o comando do Senado havia divulgado outra tabela em que considerava quatro senadores da sigla. "Não quero dizer que foi ação de ninguém, mas mudou-se a compreensão das coisas", afirmou a líder.

A bancada do PMDB se reúne amanhã para formalizar o nome de Renan, que ainda não se declara candidato. O líder do PMDB é favorito para ganhar as eleições. Até agora, apenas o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) lançou seu nome na disputa, mas o grupo dos chamados "independentes" se articula para lançar o senador Pedro Taques (PDT-MT) na corrida à Presidência do Senado.



GABRIELA GUERREIRO

DE BRASÍLIA 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Editorial: Dor e reparação

Editorial: Dor e reparação

Diante de uma tragédia com as proporções da ocorrida na madrugada de domingo em Santa Maria (RS), é natural e previsível a reação de apontar o dedo na direção dos culpados pelo acidente
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Sem dúvida, não faltam indícios espantosos de irresponsabilidade e de negligência na fiscalização da boate Kiss, palco da tragédia que vitimou duas centenas de jovens num incêndio.

Antes de insistir no óbvio --a necessária apuração dos fatos e a consequente punição dos que nada fizeram para evitá-los--, valeria amainar, entretanto, em benefício da reflexão e da solidariedade, os ímpetos do espírito acusatório.

Encarado na escala individual, a das famílias e dos amigos, dos namorados e das namoradas, o acontecido é incompreensível, inaceitável, por mais que, em seguida, os olhos do público se voltem para as circunstâncias concretas --e evitáveis-- do horrível incêndio.

Uma vez que pouco se pode acrescentar diante do essencial da dor humana, além de palavras de compaixão e consolo a que somente o tempo será capaz de conferir alguma ressonância, resta voltar a atenção para o que se afigura apenas tópico, nesta hora.

Informa-se que a casa noturna não tinha alvará de funcionamento nem plano atualizado de prevenção a incêndios. Sim, mas cabe observar que os documentos necessários para a promoção de eventos no local já tinham sido concedidos em anos anteriores; faltava, ao que parece, apenas renová-los. Corresponderiam, na época em que eram válidos, a um ambiente realmente seguro?

A boate não possuía sinalização adequada para casos de emergência. Com a escuridão e a fumaça, sua ausência se provou fatal. Não existia, de resto, outra saída além da principal, de dimensões óbvia e desgraçadamente insuficientes.

Pouco havia a fazer depois de, segundo se relata, a fagulha de um artefato pirotécnico ter atingido o teto da boate, revestido de material inflamável. Afirma-se, ainda, que extintores de incêndio manuseados por seguranças e músicos não teriam sido eficazes.

A falta de fiscalização e a total imprevidência dos responsáveis --tenha ou não o incêndio sido causado pelos fogos de artifício-- estão fora de dúvidas. Na obscuridade continuarão outros inúmeros locais públicos onde riscos semelhantes podem se materializar.
Já se observa um surto de atividade normativa e fiscalizadora entre prefeitos de outras localidades. Que não se esgotem no oportunismo inconsequente de sempre.

O país ganharia, porém, com uma norma federal para uniformizar regras básicas de prevenção a tais acidentes, como metragens mínimas de portas de emergência, proporcionais à lotação do local, e proibição categórica de dispositivos pirotécnicos em recintos fechados.

É o que resta a fazer. Pouco, diante de tantos mortos, mas já seria muito, diante do desleixo e da imprevidência usuais na administração pública brasileira.

Editorial: Avanços no Mali

Editorial: Avanços no Mali

Menos de 20 dias após iniciarem a ofensiva militar no Mali, tropas lideradas pela França reconquistaram cidades estratégicas no centro do país e avançam rumo ao norte sem enfrentar grande resistência por parte dos rebeldes que controlam a região desde junho.

No final de semana, os franceses não sofreram reveses ao retomar Gao, particularmente importante por causa de seu aeroporto e da ponte sobre o rio Níger. Segundo relatos de moradores da cidade, os radicais islâmicos não tinham combustível e fugiram a pé ou montados em camelos.

Seria precipitado, ainda assim, concluir que a guerra terminará em pouco tempo. A verdadeira dificuldade do conflito não parece residir na reocupação de grandes centros --até agora recuperados com poucos combates--, mas na manutenção de um território ameaçado por um adversário sorrateiro.
Os extremistas que se alojaram no norte do Mali são, em sua maioria, alinhados com o grupo Al Qaeda. Não há como esperar que eles se restrinjam a táticas convencionais de guerra, e seria ilusório imaginar que estejam abrindo mão de suas recentes conquistas.

Desde que dominaram o norte do Mali, os radicais impuseram à população os princípios da sharia, a lei islâmica. O fanatismo religioso é o mesmo que move extremistas em outros países do noroeste da África, como a Argélia, e lança a região na instabilidade.

A missão francesa torna-se ainda mais complicada por causa da porosidade das fronteiras no norte africano, com o afrouxamento do controle antes exercido por ditadores depostos na Primavera Árabe.
O objetivo de uma paz duradoura segue sob permanente ameaça. Mesmo com o Exército da França em combate lado a lado com as forças malinesas, desfazer a imagem de neocolonialismo constitui um desafio paralelo --não só por obediência ao princípio de não intervenção, mas também para não alimentar sentimentos revanchistas.

São por isso bem-vindas as declarações do presidente francês, François Hollande, segundo o qual caberá aos africanos cuidar do Mali. Mas não basta: é imperioso organizar uma força de combate africana capaz de preencher os vácuos de poder no continente.

Editorial: Jeitinho federativo

Editorial: Jeitinho federativo

Presidente interino do Supremo Tribunal Federal, o ministro Ricardo Lewandowski pôs fim, ao menos por hora, nas dúvidas que vinham cercando a distribuição dos recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE) neste ano.

O impasse não era pequeno. As regras de partilha do FPE, fixadas em 1989, deveriam ter sido atualizadas em 1992, com base no Censo do ano anterior. Como a mudança nunca ocorreu, o STF, no começo de 2010, considerou inconstitucionais os critérios vigentes e determinou que o Congresso elaborasse nova lei até o final de 2012.

Expirado o prazo, um Legislativo omisso e um Executivo inerte foram incapazes de dar conta da tarefa. Criou-se, assim, um limbo jurídico no qual diversos Estados brasileiros não sabiam se poderiam contar, já a partir de janeiro, com sua principal fonte de receitas.

Mesmo para os padrões políticos do Brasil, a negligência surpreende. É notável, assim, que Lewandowski, na decisão liminar, tenha afirmado que o Congresso "está envidando os esforços possíveis para solucionar o tema em questão".

Com uma interpretação no mínimo benevolente acerca do trabalho parlamentar nos últimos 35 meses, o ministro concedeu aos deputados e senadores mais 150 dias para que façam o que já deveriam ter feito. Até lá --ou até que o plenário do Supremo reveja a decisão--, os repasses estarão garantidos.
Dadas as circunstâncias, compreende-se que tanto membros da oposição como da base aliada tenham festejado como "sensata" a sentença de Lewandowski. Graças ao ministro, criou-se uma base jurídica "ad hoc" para evitar o que seria um desastre.

A suspensão do FPE traria prejuízos incalculáveis para o país. Basta dizer que, na Bahia --apenas o 15º Estado que mais depende do fundo--, os repasses representam um quarto da receita bruta local. No Amapá, a participação sobe para quase 70%.

A boia de salvação jogada por Lewandowski na última hora, porém, não resolve o problema. Os parlamentares ainda precisam se entender sobre os critérios de repartição do FPE, até hoje alicerçados em dados demográficos e socioeconômicos da década de 1980.

Talvez seja pedir demais, mas o ideal seria que o Congresso aproveitasse a oportunidade para discutir com seriedade, e aperfeiçoar, o arranjo federativo brasileiro.

O mais provável, no entanto, é que o tema não receba a atenção que merece. Os parlamentares inclinam-se para, mais uma vez, apostar em uma solução baseada em nada mais que o bom e velho jeitinho brasileiro.

Obituários

Obituários

RIO DE JANEIRO - Todos os jornais do mundo já têm pronto o obituário do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, internado para tratamento de saúde em Cuba e dado como morto desde o fim do ano --mas, parece, ainda exuberantemente vivo, apenas fora do ar. É praxe dos jornais preparar obituários com antecedência sobre celebridades acima de certa idade ou já pela bola sete.

O problema é quando o morto em potencial se recusa a ir embora. Passei por isso em 1989, ao escrever um artigo para uma revista de avião. Por algum motivo, eu precisava citar a morte do imperador japonês Hiroíto, que ainda não acontecera, mas que os médicos davam como certa por aqueles dias. Como a revista só sairia dali a três meses, sapequei Hiroíto como morto. Mas as semanas se passaram e Hiroíto não morria. Àquela altura, a revista fora para a gráfica, e seu editor, desesperado, já considerava a ideia de fazer "harakiri". Por sorte, Hiroíto morreu no dia em que a revista rodou.

Pior foi em 1990, quando um jornal me pediu o obituário de Ella Fitzgerald, então com 73 anos e, tudo indicava, a próxima diva do jazz a morrer. Contra minha vontade, "matei" Ella e opinei que, a partir dali, seu manto iria para a grande Carmen McRae, muito mais jovem. Mas, antes de Ella, quem morreu foi Carmen, em 1994, e o obituário não foi corrigido. Quando a própria Ella morreu, em 1996, o obituário saiu e lá estava eu, coroando a falecida McRae.

Ou quando me pediram de São Paulo o obituário de Dercy Gonçalves, em 1996. Estranhei porque, naquela semana, Dercy, aos 91 anos, ia começar uma temporada no Canecão, aqui no Rio. Mas aceitei a tarefa, e Dercy "morria" lindamente no meu texto. Na vida real, só foi morrer 12 anos depois, em 2008, e, quando isso aconteceu, seu obituário tinha caducado por completo.

Na verdade, eu é que quase morri antes dela.

Ruy Castro Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.

Amor e revolução

Amor e revolução

Na semana passada, os egípcios tentaram comemorar os dois anos do início de sua revolução. Alguns poderiam dizer, no entanto, que não havia muito o que se comemorar.

O desejo de livrar-se dos dias mortos do passado parece soar hoje como uma promessa distante. Várias belas palavras foram ditas no calor do entusiasmo e muito pouco foi feito. Olha-se para trás com olhos decepcionados de quem, no final das contas, vê-se obrigado a dizer que, no fundo, nada aconteceu.
A princípio, melhor seria procurar outra coisa em outro lugar ou aceitar amargamente que quem sonhou com a reinvenção da democracia acorda hoje com a Irmandade Muçulmana. Mas há algo nos egípcios que impressiona e quebra tal leitura melancólica. Trata-se de sua incrível tenacidade.

Há dois anos, os egípcios mostram para nós o que significa não ceder em seu desejo. Tudo se passa como se eles estivessem preparados para as dificuldades e decididos a permanecer insistentemente nas ruas, a ocupar praças até que a vontade de uma vida reinventada seja enfim realizada.

Eles parecem fiéis a uma máxima fundamental dos povos que escrevem a história: "Real foi o momento em que sonhamos, as decepções que vieram depois são apenas ilusões que acabarão por se mostrar em sua inverdade". Pois o que teve a força de nos tirar do lugar é dotado de uma realidade que pode até enfraquecer, mas nunca desaparecer.

Marx, diante de mais uma revolução traída, não conteve sua ironia e disse: "Hegel escreveu em algum lugar que os grandes fatos são encenados duas vezes. Só que esqueceu de completar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa". Alguém deveria dizer a Marx: "Bem, Marx, nem sempre".

De fato, todo verdadeiro acontecimento, como é o caso de uma revolução ou um encontro, ocorre duas vezes. Nada de real existe sem repetir-se. Mas, em alguns momentos singulares, a primeira vez ocorre como tragédia e a segunda como (no fundo, esta é mesmo a melhor palavra) redenção. O que parecia completamente perdido demonstra que apenas procurava um melhor momento para fazer existir sua verdadeira força.

Por isso, povos fiéis a seu desejo nunca fracassam. Eles podem errar, como quem entra em uma errância e se perde, agindo às vezes de maneira irreconhecível. Como se não fossem mais capazes nem sequer de pronunciar corretamente o nome do que desejam. Mas tais situações de errância não são os capítulos finais.
Chega um momento em que os acontecimentos ocorrem uma segunda vez e as revoluções, por um caminho só compreensível ao final, enfim se completam.

VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras. 



Vladimir Safatle Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

"Deus vult!"

"Deus vult!"

RIO DE JANEIRO - Li não sei onde que na recente posse de Obama, em todos os discursos, do presidente aos juízes, mestres de cerimônias e convidados diversos, o nome mais citado foi o de Deus. Nada demais num país fundado pelos peregrinos do "Mayflower".

Aqui no Brasil, volta e meia, sob a alegação de que o Estado é laico, surgem movimentos para tirar o nome de Deus da Constituição e de algumas cerimônias oficiais que invocam seu nome logo no início dos trabalhos.

Como agnóstico militante, acho uma besteira tanto a invocação como a pretendida supressão do nome de Deus. Contudo, não tenho apetite nem motivo para fazer uma cruzada na base do "Deus non vult", lema às avessas dos cruzados cristãos que iam matar infiéis na Terra Santa.

Na Idade Média, quando as donzelas casavam, tinham na camisola da primeira noite um pequeno buraco com a inscrição: "Deus vult". Deus o quer. Invocar Deus para matar ou nascer é coisa entranhada na carne humana.

Outro dia, um amigo anotou quantos programas na TV brasileira são dedicados exclusivamente, de uma forma ou outra, a louvar Deus e a pedir sua proteção para diversos e contraditórios fins, desde a cura da embriaguez de um marido ao fechamento das chagas de um leproso, tudo isso ao vivo e em cores.
Ainda bem que o espaço e o tempo estão razoavelmente distribuídos entre os cultos, tanto se pode acompanhar uma missa pontifical rezada pelo papa, em Roma, como o exorcismo de uma endemoniada em Del Castilho.

Pensando bem, está tudo certo. Outro dia, vi a multidão de fiéis espremida num templo evangélico aqui no Rio, na avenida Suburbana. Muito mais gente do que o povo que ouviu o Sermão da Montanha, 2.000 anos atrás. Sinceramente, não sei o que concluir toda vez que Deus quer alguma coisa.


Carlos Heitor Cony Carlos Heitor Cony é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000. Sua carreira no jornalismo começou em 1952 no "Jornal do Brasil". É autor de 15 romances e diversas adaptações de clássicos.

A psicologia da tragédia

A psicologia da tragédia 

 

SÃO PAULO - O roteiro é conhecido. Após uma tragédia como a de Santa Maria, a vontade de agir é irrefreável. Nas próximas semanas, Estados e municípios atualizarão suas normas de segurança anti-incêndio e apertarão a fiscalização sobre todo tipo de estabelecimento.

Trata-se, é claro, de um efeito transitório. Com o tempo, o ímpeto vigilante arrefece e as coisas voltam mais ou menos ao que eram antes. E não adianta muito maldizer a leniência das autoridades brasileiras. Ainda que em diferentes graus, o fenômeno é universal e tem origem nos mecanismos pelos quais percebemos o perigo. A pergunta é se devemos aceitar essa abordagem intuitiva ou se seria preferível buscar uma visão mais racional, recorrendo à análise de risco e a especialistas antes de agir.

Há aqui duas visões respeitáveis e difíceis de conciliar. Paul Slovic, talvez a maior autoridade do mundo em psicologia do risco, é um ferrenho defensor do senso comum. Diz que especialistas padecem dos mesmos vieses das pessoas comuns. Só são mais eficientes ao justificar suas preferências. A própria noção de risco objetivo é uma ficção. Devemos aproveitar casos de comoção motivados por incêndios, enchentes etc. para melhorar o marco regulatório. O progresso vem entre episódios de pânico.

Outra sumidade na área, Cass Sunstein, tem um projeto mais iluminista. Ele acha que especialistas têm algo a ensinar e que apenas reagir às notícias de jornal pode causar mais mal do que bem. Um exemplo: o medo insensato do terrorismo pode fazer com que muitos troquem o mais seguro transporte aéreo por longas e perigosas viagens de carro, gerando mortes desnecessárias.

Eu pendo mais para Sunstein. O problema, no fundo, é a arquitetura de nossos cérebros. Quando lidamos com riscos que não fazem parte de nosso dia a dia, ou agimos como se eles não existissem ou como se fossem uma sentença de morte. O mais realista meio-termo desaparece.



Hélio Schwartsman Hélio Schwartsman é bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve na versão impressa da Página A2 às terças, quartas, sextas, sábados e domingos e às quintas no site.

Treze cidades terão novas eleições para prefeito até abril


 

A Justiça Eleitoral definiu as datas paras as novas eleições para prefeito e vice em treze cidades do país que tiveram os pleitos de outubro de 2012 anulados.

Ao todo, eleitores de quatro cidades de Santa Catarina, três do Rio Grande do Sul, duas do Mato Grosso do Sul, duas de Minas Gerais, uma do Espírito Santo e uma da Bahia passarão por nova disputa até abril deste ano.

A anulação da eleição nestas cidades ocorreu pelo fato de o candidato que obteve mais de 50% dos votos válidos na última eleição ter tido o seu registro de candidatura indeferido em última instância. Assim, os votos recebidos pelo mais votado foram anulados pela Justiça Eleitoral, ficando o candidato impedido de ser diplomado e empossado no cargo.

Enquanto não se realizarem novas eleições nesses municípios, a função de Prefeito é exercida pelo presidente da Câmara Municipal.


Veja abaixo o calendário das novas eleições nas treze cidades:
Guarapari-ES: 03/02/2013

Erechim-RS: 03/03/2013

Eugênio de Castro-RS: 03/03/2013

Novo Hamburgo-RS: 03/03/2013

Sidrolândia-MS: 03/03/2013

Camamu-BA: 03/03/2013

Balneário Rincão-SC: 03/03/2013

Campo Erê-SC: 03/03/2013

Criciúma-SC: 03/03/2013

Tangará-SC: 03/03/2013

Bonito-MS: 03/03/2013

São João do Paraíso-MG: 07/04/2013

Biquinhas-MG: 07/04/2013



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DE SÃO PAULO

Brincando com fogo


Brincando com fogo


BRASÍLIA - Por que aviões que comportam 300, 400 passageiros têm seis portas, mas a boate Kiss, com capacidade para mil pessoas, tem uma única saída? Por que não há, ou não havia, saídas de emergência nem válvulas de escape para fumaça?

E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?

Por que a Kiss, com tantos meandros (vão central, mezanino, área VIP, palco, bares, hall de entrada), não tinha iluminadores indicando a rota de fuga em caso de urgência?

E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?

Por que o sinalizador Sputnik, que atinge até quatro metros de altura e só é permitido para áreas externas, vinha sendo usado pela banda "Gurizada Fandangueira" em ambientes fechados, inclusive na Kiss?
E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?

Por que os seguranças não tinham nem sequer walkie-talkies para trocar informações sobre a gravidade e liberar imediatamente a única saída?

E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?

Por que o músico e um segurança tentaram acionar o vital extintor de incêndio e ele não funcionou? Estava quebrado? Vencido? Só havia um?!

E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?

Por que não havia uma equipe de brigadistas que pudessem reagir rapidamente para apagar o fogo, controlar o pânico e evacuar o prédio?

E como o poder público, que autoriza e fiscaliza, não viu?

Se as respostas não trarão de volta os Maicon, Micheles, Fábios, os irmãos Oliveira e as irmãs Brissow -que tinham toda uma vida para viver, um futuro cheio de promessas para desvendar-, elas descartam a simples "fatalidade" e podem salvar outros jovens pelo Brasil a fora.

Já as perguntas dos pais e mães de Santa Maria jamais terão resposta. Por que meu filho morreu? Por que minha filha morreu? São perguntas que ficam para sempre. Como a dor.


Eliane Cantanhêde 

Andrea Matarazzo: Omissão de socorro é crime

Andrea Matarazzo: Omissão de socorro é crime



"Tio, tira a gente da pedra?" O apelo de três garotos de nove, dez e 12 anos de idade me sensibilizou para a tragédia da dependência química no centro de São Paulo, há quase uma década.
Eu era subprefeito da Sé e encaminhei os meninos aos centros de assistência social. Desapareceram em poucos dias. Localizamos um deles, que comentou a monotonia das atividades nos abrigos.

Palestras e horários rígidos são ineficazes para seduzir quem vive em liberdade. Foi o que nos desafiou a criar um programa piloto capaz de atrair o interesse das crianças que moram na rua e usam crack.
Desde 2005, o Programa Equilíbrio, sob coordenação da professora Sandra Scivoletto, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, mantém um time de médicos, psiquiatras, fonoaudiólogos, assistentes sociais, educadores e animadores culturais, para oferecer atenção individual e atividades atraentes aos jovens em situação de risco social. Até 2012, foram mais de 64 mil atendimentos. A taxa de reintegração familiar tem sido de 44%.

Cruzar os braços diante do aumento do consumo de crack, problema grave de saúde pública, é atitude criminosa. A droga não distingue classes sociais ou geografia. Exige do poder público medidas urgentes visando a proteção dos usuários, das famílias e dos grupos de convívio. Especialmente da população carente, que não sabe a quem recorrer. E o país tem falhado na oferta de alternativas para as famílias de baixa renda.

O tratamento da dependência química é um processo doloroso, que exige vigilância e suporte médico especializado nas crises de abstinência, estrutura inexistente nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), do governo federal. O Ministério da Saúde sequer elaborou um protocolo. Orienta apenas a chamada Redução de Danos, inócua diante da gravidade da questão.

As vítimas das cracolândias são cidadãos que foram parar nas ruas por problemas anteriores. Dos 16 mil moradores de rua de São Paulo, 75% usam drogas ou têm transtornos mentais. É absurdo esperar que alguém nessas condições tenha iniciativa de buscar ajuda, ou se mantenha longe do vício pela força de vontade. Os que vagam em busca da "pedra" perderam a consciência do próprio sofrimento. Vivem apenas para consumir a droga, definhando à espera da morte.

Famílias que têm condições financeiras e informação internam seus entes queridos em clínicas de desintoxicação, mesmo contra a vontade dos mesmos. Para a maioria dos pais, filhos, irmãos e companheiros dos usuários de drogas que hoje perambulam pelas ruas, inexistem alternativas.
Sensível a esse drama, o governador e médico Geraldo Alckmin articulou um programa de internação involuntária dos dependentes de crack se o risco de morte em decorrência do vício for reconhecido por equipes de saúde e da Justiça. Não se trata, como insinuam os oportunistas, de "limpar as ruas". E, sim, de salvar gente que vai morrer se não receber ajuda.

Medida a ser adotada apenas quando todos os recursos forem esgotados, depende da autorização de um juiz depois que uma junta médica atestar a perda do domínio sobre a saúde e condição física do usuário. E exige aval do Ministério Público e de advogados voluntários da OAB.

É covarde, cruel e desumano esperar que o próprio dependente da droga tome a iniciativa para se proteger. Se você visse seu filho fumando crack, maltrapilho, cambaleante, o abandonaria na rua? Criticar a internação involuntária é politizar a tragédia dos que não podem se defender. Cruzar os braços é omissão de socorro.


ANDREA MATARAZZO, 56, é vereador em São Paulo pelo PSDB. Foi secretário de Estado da Cultura (2010 a 2012) e secretário municipal das Subprefeituras (2006 a 2009)