30/09/2012 - 03h00

Filosofias diferentes

Real Madrid e Barcelona são os dois melhores times do mundo e os grandes representantes das duas filosofias de como se jogar futebol. A do Real é a mesma de quase todas as grandes equipes da Europa e, agora, de vários times brasileiros. Começou com o Corinthians, na Libertadores. Esses times marcam e atacam com vários jogadores. Privilegiam a marcação mais atrás, para deixar menos espaço na defesa.
Cada equipe possui suas particularidades. Em algumas ocasiões, esses times também marcam por pressão, como faz o Corinthians, quando joga no Pacaembu.
A filosofia do Barcelona é a mesma dos times treinados por Bielsa, por Sampaoli e por raríssimos outros técnicos. São equipes que marcam por pressão, dominam o jogo e colocam muitos jogadores no campo do adversário.
Há também diferenças. O Barcelona troca mais passes curtos e fica mais com a bola. Os outros jogam um futebol mais veloz.
Todos esses times, quando perdem a bola no campo do adversário, deixam muitos espaços na defesa. A Universidad de Chile foi, coletivamente, melhor, mas o Santos, nos contra-ataques e graças a Neymar, ganhou. Nos jogos do Santos, existem duas partidas, a do time e a de Neymar. Uma independe da outra.
Na seleção, quando enfrentar fortes adversários, Neymar só vai brilhar se houver um bom conjunto.
As duas filosofias podem ser eficientes. Muito mais importante que o estilo é a qualidade dos jogadores. A Universidad de Chile piorou muito em relação ao ano passado, com a saída de vários titulares. O técnico é o mesmo.
Não é correto dizer que o estilo do Barcelona é o mesmo das grandes equipes brasileiras do passado.
A seleção de 1970, pela estratégia, parecia mais com o Real que com o Barcelona. Além de marcar por pressão, o que não existia na época, o Barcelona é uma equipe com mais troca de passes curtos, mais posse de bola, mais previsível e com estilo mais coletivo.
Se, no passado, o futebol coletivo não era a principal qualidade dos times brasileiros, isso é hoje marcante, com a grande diferença de que há menos craques para decidir. Pioramos na parte individual e no conjunto. É impressionante como os times brasileiros perdem a bola. Escrevo isso há mais de dez anos. Cansei.
Minhas críticas são muito mais ao estilo dos times brasileiros. A seleção, por ter jogadores superiores e por orientação do técnico, tenta, sem ainda conseguir, praticar um jogo mais coletivo e mais agradável. Tenho esperanças.
Seria muito bom se os times brasileiros trouxessem técnicos de fora, diferentes, como Guardiola, Bielsa, Sampaoli. Isso não significa que eles são excepcionais e que os do Brasil são péssimos. Mas é preciso diversificar.
A mesmice passou dos limites.


Tostão Tostão, médico e ex-jogador, é um dos heróis da conquista da Copa do Mundo de 1970. Afastou-se dos campos devido ao agravamento de um problema de deslocamento da retina. Como comentarista esportivo, colaborou com a TV Bandeirantes e com a ESPN Brasil. Escreve às quartas e domingos na versão impressa de "Esporte".

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