Home » Revistas » Edição 2153 / 24 de fevereiro de 2010
Claudio de Moura CastroSucesso tem fórmula
"Serve para toda competição: qualidade valorizada,
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Ilustração Atômica Studio |
A Revolução Industrial tardia da Alemanha foi alavancada pela criação do mais respeitado sistema de formação técnica e vocacional do mundo. Daí enchermos a boca para falar da "engenharia alemã". Mas, no fim das contas, todos os países industrializados montaram sistemas sólidos e amplos de formação profissional. Para construir locomotivas, aviões, naves espaciais.
Assim como temos a Olimpíada para comparar os atletas de
diferentes países, existe a Olimpíada do Conhecimento (World Skills
International). É iniciativa das nações altamente industrializadas,
que permite cotejar diversos sistemas de formação profissional.
Compete-se nos ofícios centenários, como tornearia e marcenaria,
mas também em desenho de websites ou robótica.
Em 1982, um país novato nesses misteres se atreveu a participar
dessa Olimpíada: o Brasil, por meio do Senai. E lá viu o seu lugar,
pois não ganhou uma só medalha. Mas em 1985 conseguiu chegar ao
13º lugar. Em 2001 saltou para o sexto. Aliás, é o único
país do Terceiro Mundo a participar, entra ano e sai ano.
Em 2007 tirou o segundo lugar. Em 2009 tirou o terceiro, competindo
com 539 alunos, de sete estados, em 44 ocupações. É isso
mesmo, os graduados do Senai, incluindo alunos de Alagoas, Goiás e Rio
Grande do Norte, conseguiram colocar o Brasil como o segundo e o terceiro melhor
do mundo em formação profissional! Não é pouca porcaria
para quem, faz meio século, importava banha de porco, pentes, palitos,
sapatos e manteiga! E que, praticamente, não tinha centros de formação
profissional.
Deve haver um segredo para esse resultado que mais parece milagre,
quando consideramos que o Brasil, no Programa Internacional de Avaliação
de Alunos (Pisa), por pouco escapa de ser o último. Mas nem há
milagres nem tapetão. Trata-se de uma fórmula simples, composta
de quatro ingredientes.
Em primeiro lugar, é necessário ter um sistema de
formação profissional hábil na organização
requerida para preparar milhões de alunos e que disponha de instrutores
competentes e capazes de ensinar em padrões de Primeiro Mundo. Obviamente,
precisam saber fazer e saber ensinar. Diplomas não interessam (quem sabe
nossa educação teria alguma lição a tirar daí?).
Em segundo lugar, cumpre selecionar os melhores candidatos para
a Olimpíada. O princípio é simples (mas a logística
é diabolicamente complexa). Cada escola do Senai faz um concurso, para
escolher os vencedores em cada profissão. Esse time participa então
de uma competição no seu estado. Por fim, os times estaduais participam
de uma Olimpíada nacional. Dali se pescam os que vão representar
o Brasil. É a meritocracia em ação.
Em terceiro lugar, o processo não para aí. O time
vencedor mergulha em árduo período de preparação,
por mais de um ano. Fica inteiramente dedicado às tarefas de aperfeiçoar
seus conhecimentos da profissão. É acompanhado pelos mais destacados
instrutores do Senai, em regime de tutoria individual.
Em quarto, é preciso insistir, dar tempo ao tempo. Para
passar do último lugar, em 1983, para o segundo, em 2007, transcorreram
22 anos. Portanto, a persistência é essencial.
Essa quádrupla fórmula garantiu o avanço
progressivo do Brasil nesse certame no qual apenas cachorro grande entra. Era
preciso ter um ótimo sistema de centros de formação profissional.
Os parâmetros de qualidade são determinados pelas práticas
industriais consagradas, e não por elucubrações de professores.
Há que aceitar a ideia de peneirar sistematicamente, na busca dos melhores
candidatos. É a crença na meritocracia, muito ausente no ensino
acadêmico. Finalmente, é preciso muito esforço, muito mesmo.
Para passar na frente de Alemanha e Suíça, só suando a
camisa. E não foi o ato heroico, mas a continuidade que trouxe a vitória.
A fórmula serve para toda competição: qualidade
valorizada, seleção dos melhores, prática obsessiva e persistência.
Quem aplicar essa receita terá os mesmos resultados.
Claudio de Moura Castro é economista
claudiodemouracastro@positivo.com.br
claudiodemouracastro@positivo.com.br
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