18/09/2012 08h23 - Atualizado em 30/09/2012 13h10

Entenda os protestos anti-EUA após divulgação de filme ofensivo ao Islã

Longa que retrata o profeta Maomé de maneira ridícula é foco do conflito.
Protestos mataram pelo menos 50 em vários países ao longo da semana.

Do G1, com agências internacionais
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Os ataques de multidões muçulmanas a alvos americanos ao longo dos últimos dias foram desencadeados pela divulgação de trechos de um filme norte-americano de baixo orçamento que, segundo os islamitas, ofende o Islã e o profeta Maomé.
Divulgado na Internet, um trailer com imagens do filme "Innocence of the Muslins" ("A Inocência dos Muçulmanos") foi traduzido para o árabe e repercutiu negativamente em países muçulmanos e em comunidades islâmicas ao redor do planeta.
Os protestos ganharam repercussão internacional em 11 de setembro, com incidentes na embaixada americana no Egito, no Cairo, e cresceram de intensidade desde então.
No mesmo dia, um ataque durante um protesto matou o embaixador dos EUA em Benghazi, na Líbia e outros três americanos.
Os incidentes já mataram mais de 50 pessoas.
Ameaças
O movimento fundamentalista do Talibã, a rede terrorista da Al-Qaeda e o movimento islâmica Hezbollah, do Líbano, prometeram "vingança" contra os americanos por conta da publicação do vídeo.
Governos de países muçulmanos, como Egito e Irã, também protestaram.
Charge francesa
Em 19 de setembro, o semanário francês "Charlie Hebdo" aumentou a polêmica, ao publicar charges retratando o profeta. O governo francês anunciou, dois dias depois, o fechamento de representações em 20 países, além de aumentar medidas de segurança. Um homem foi preso na França por ameaçar diretor que publicou as charges.
Recompensa para matar o diretor
O ministro paquistanês das Ferrovias, Ghulam Ahmed Bilur, ofereceu no dia 22 uma recompensa de US$ 100 mil (R$ 202 mil) pela morte do diretor de "Inocência", pedindo ajuda aos talibãs e à Al-Qaeda para o que chamou de "nobre ação".

No mesmo dia, o premiê do país, Shafqat Khalil condenou a iniciativa e assinalou que o governo do Paquistão "se desvincula absolutamente" das declarações de Bilur.
mapa protestos anti-EUA 18/09 (Foto: Editoria de Arte / G1)

'A Inocência dos Muçulmanos'
O filme foi dirigido e produzido por Nakoula Basselet Nakoula, sob o pseudônimo de Sam Bacile, que afirmou que o Islã é "uma religião do ódio".
Imagens da produção tosca estão disponíveis no YouTube.
Documentos judiciais confirmam que Nakula Basseley Nakula foi condenado a 21 meses de prisão em 2010 por fraude bancária e que morava na localidade de Cerritos, ao sul de Los Angeles. Ele foi preso em 27 de setembro, por violar as condições de sua liberdade condicional.
Em entrevista logo após o filme chamar a atenção, ele disse que a produção foi financiada com US$ 5 milhões (R$ 10,1 milhões) levantados a partir de doações de judeus, os quais ele não quis identificar.
Ele afirma ter trabalhado com 60 atores e uma equipe de 45 pessoas na Califórnia, durante três meses, no filme de duas horas. "O filme é político. Não religioso", disse.
Cena de 'A inocência dos muçulmanos' (Foto: Reprodução)Cena de 'A inocência dos muçulmanos' (Foto: Reprodução)
Cena de 'A inocência dos muçulmanos' (Foto: Reprodução/Youtube)Cena de 'A inocência dos muçulmanos' (Foto: Reprodução/Youtube)
Atores afirmaram terem sido "enganados" durante a produção e que, em nenhum momento, o nome de Maomé era citado no set.
Cenas do filme mostram uma produção desconexa, retratando o profeta muçulmano Maomé várias vezes como um mulherengo, homossexual, molestador de crianças, um falso religioso e sanguinário.
Para muitos muçulmanos, qualquer representação do profeta é uma blasfêmia.
Caricaturas ou outras caracterizações feitas no passado e consideradas insultuosas enfureceram muçulmanos em todo o mundo, provocando protestos e a condenações por parte de funcionários, pregadores, muçulmanos comuns e mesmo muitos cristãos.
A primeira parte do filme, situada na era moderna, mostra cristãos coptas egípcios fugindo de uma multidão muçulmana enfurecida. A polícia egípcia olha enquanto a multidão quebra uma clínica onde um médico cristão trabalhava.
Em seguida, aparece um médico conversando com sua filha sobre o que faz um "terrorista islâmico".
Depois disso, as cenas mostram episódios históricos da época do profeta, a maioria em cenários onde os atores estão claramente sobrepostos a um fundo de deserto.
Maomé é mostrado como um "bastardo" ilegítimo, como um mulherengo e homossexual. Uma cena mostra ele em um aparente ato sexual com uma de suas esposas e mais tarde com outras mulheres.
Em outra cena, um sacerdote cristão se oferece para elaborar um texto religioso a partir de versos da Torá judaica e do Novo Testamento cristão para transformá-los no que ele chama de "versos falsos" -- uma aparente referência à gênese do Corão.
Em outras cenas, Maomé é retratado como um líder sanguinário, incentivando seus seguidores a saquear lugares que eles atacam e dizendo que eles podem usar as crianças da maneira que quiserem.
O longa-metragem foi defendido pelo polêmico pastor Terry Jones, que atraiu muitas críticas no passado, especialmente por queimar um exemplar do Corão e ter se oposto à construção de uma mesquita perto do Marco Zero, em Nova York.
Jones descreveu o filme como uma representação "satírica" da vida de Maomé. Ele disse que mostrou um trailer promocional após a realização de um "julgamento" simbólico do profeta.
A atriz Cindy Lee García, que interpreta uma mulher cuja filha é proposta em casamento a Maomé, afirmou que ignorava que o filme era uma propaganda anti-Islã. Ela disse ainda que os diálogos foram redublados após as filmagens.
Segundo ela, "não havia nada sobre Maomé ou os muçulmanos" no filme que participou.
Cindy Lee recorreu para retirar o filme do YouTube, por estar sofrendo ameaças de morte, mas teve seu pedido rejeitado por um tribunal da Califórnia.
A dublagem é facilmente perceptível nos 14 minutos do filme divulgados na internet, onde as palavras são grosseiramente inseridas nas sequências.

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