A importância do empoderamento


    O terceiro aspecto da Tese de Nitiren Daishonin é o que atualmente chamamos empoderamento (em inglês, empowerment). Empoderamento é quando numa situação difícil, por meio do diálogo, incentivamos outra pessoa a manifestar o seu poder inerente para mudar a realidade. E, uma vez que ela decide mudar, juntos, avançamos compartilhando o juramento de alcançar a resolução daquela situação.
   
    Como em muitas escrituras budistas, a Tese de Daishonin toma a forma de diálogo entre o viajante, que representa a autoridade secular, e o hospedeiro, as perspectivas do Budismo.

   

    Na abertura do texto, o viajante para na morada do hospedeiro onde ambos discutem e expressam sua profunda aflição pela sucessão de desastres que atingiu a nação. As preocupações dos dois, de alguma forma, lhes permite enxergar além das diferenças de suas posições.

    O diálogo se desenvolve e tanto o anfitrião como o viajante expõem suas convicções. Em resposta à raiva e à confusão do viajante, o hospedeiro, cuidadosamente, explica e resolve cada uma das suas dúvidas. Pelo enfrentamento e confrontação de alma a alma, o viajante finalmente se convence da veracidade das afirmações do hospedeiro. Ele resgata o juramento que fizeram quando da preocupação inicial: “Mas não basta que somente eu aceite e tenha fé em suas palavras —, devemos trabalhar para que os outros se deem conta dos seus erros” (END, v. 1, p. 62).


    Por fim, ambos concordam que o poderoso reconhecimento da necessidade de se acreditar nas possibilidades ilimitadas do ser humano — a mensagem do Sutra de Lótus — constitui a essência do Budismo. É a fé na certeza de que toda pessoa possui um potencial infinito: a capacidade de dar luz à sua dignidade.


    Despertar para essa grandeza da condição humana acende a chama da esperança na vida de quem está perdido na angústia. Essa pessoa, por sua vez, tem o poder de inflamar a esperança no outro. O impulso resultante da renovação tem o poder de afastar a tenebrosa confusão que envolve a sociedade.


    As palavras da Comissão de Segurança Humana estão em sintonia com as ideias desse antigo texto. Por exemplo, segurança humana deve ser “construí­da com a força das pessoas e suas aspirações”. A chave está na “capacidade das pessoas para agir por conta própria a favor dos outros”.


    A questão principal de toda a atividade relacionada à segurança humana não deve ser: o que podemos fazer? Mas sim: como a ação poderá apoiar o esforço e a capacidade da pessoa afetada?


    Descrevendo o caos de seu tempo, Daishonin lamentou a perda do empoderamento. As calamidades afetaram o ânimo das pessoas, e muitas pareciam ter perdido a vontade de viver. Além disso, a ética predominante da sociedade foi um dos fatores que as incentivaram a evitar a realidade e procurar tranquilidade apenas no reino de sua vida interior.


    Nitiren Daishonin considerava “malignos” os ensinamentos que estimulam a resignação ou o escapismo como um caminho para a salvação: algo que turva a visão das pessoas, cegando-as para o potencial ilimitado que elas possuem. Para Daishonin, o único caminho viável para superar o impasse que a sociedade enfrenta é cada pessoa acreditar nas suas próprias possibilidades e trabalhar de mãos dadas para que todos se fortaleçam.


    Neste contexto, lembro-me do episódio narrado pelo filósofo austríaco Ivan Illich (1926-­2002). Ele disse que jamais devemos ter medo de ser uma “vela na escuridão”. Illich descreve sua amizade com o bispo Dom Hélder Câmara (1909-1999), que lutava contra as brutalidades desumanas do regime militar brasileiro na década de 1960.


    Dom Hélder tentou dissuadir o general que mais tarde se tornaria conhecido como um dos mais cruéis torturadores do Brasil. A tentativa do diálogo fracassou. Depois que o militar partiu, Dom Hélder caiu num silêncio profundo, virou-se para Illich e disse: "Não desanime nunca. Enquanto uma pessoa estiver viva, em algum lugar ainda há brasa sob as cinzas, e toda a nossa tarefa é... soprar... devagarinho, com cuidado soprar... e soprar... e você vai ver que ela se acende. Não se preocupe em atear fogo de novo. Tudo o que tem a fazer é soprar."


    As palavras de Dom Hélder, “não desanime nunca” representam o esforço de renovar a própria decisão e, ao mesmo tempo, a importância do encorajamento aos que estão à beira do desespero.

   

    O espírito do empoderamento encontra-se no ato cuidadoso de assoprar a “brasa que resta” na alma humana, tanto daqueles que nos apoiam como dos que estão contra. Acredito que a fé e a perseverança são a força motriz das lutas de Mahatma Gandhi (1869-1948) e de Martin Luther King Jr. (1929-1968) pelos direitos humanos. E daqueles que lideraram as revoluções populares do leste europeu que pôs fim à guerra fria e, mais recentemente, do movimento conhecido como a “Primavera Árabe”.


    Durante os sombrios anos dos confrontos da guerra fria, visitei países comunistas — a antiga União Soviética, a China — para realizar intercâmbios com o objetivo de amenizar as tensões e aprofundar a compreensão mútua. Empenho-me também para dialogar com líderes políticos e intelectuais do mundo de várias culturas e religiões. Estes esforços para promover a amizade, atravessando fronteiras, são frutos da convicção de que a única base duradoura para uma sociedade mundial pacífica reside na transformação do coração de cada indivíduo. Isso só poderá ser alcançado com um diálogo que desperte em cada um de nós a nossa humanidade.


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    Então, como podemos observar, a mudança das questões políticas, sociais, entre muitas outras, está no empoderamento, não no sentido de dar poder para que a pessoa realize o que der na telha, mas quando ela estiver "numa situação difícil, por meio do diálogo, incentivamos outra pessoa a manifestar o seu poder inerente para mudar a realidade. E, uma vez que ela decide mudar, juntos, avançamos compartilhando o juramento de alcançar a resolução daquela situação."
    Como vocês poderam ver, na minha concepção, este é uma das melhores partes da proposta de paz deste ano, pois diz uma coisa que muitos, independente de qual profissão executa, tem o poder de realizar. Este termo deve ser a base de nossa organização. Oferecer a oportunidade de manifestar este poder próprio para vencer as dificuldades.
    Agradeço à todos pela leitura de hoje e até breve!
    Sayonara!
    (Faltam 5 dias!)

Kouiti Kikuta

(66) 9998-4645 / 8101-1663

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