Intelectuais de distintas tendências debatem reforma política em Cuba
PLURALISMO
24/09/2012 - 12h21 | João Novaes | Redação
Intelectuais de distintas tendências debatem reforma política em Cuba
Evento contou com participação de intelectuais marxistas, liberais e católicos
Em um encontro plural e democrático, intelectuais cubanos de diferentes
tendências políticas participaram de um debate sobre os rumos para a
reforma política do país em um evento organizado pela revista católica Espacio Laical.
As discussões, realizadas no dia 11 de setembro no Centro Cultural
Félix Varela, em Havana, foram precedidas pelo lançamento do livro “Por
un consenso para la Democracia”, uma coleção de ensaios de textos
publicados nos últimos dois anos pela revista. Como ponto alto, ele
reúne contrapontos entre os advogados Roberto Veiga, católico e editor
da revista, e Julio César Guanche, marxista e professor da Universidade
de Havana, sobre constitucionalidade e o sistema político cubano. A obra
também recolheu ensaios de intelectuais e autores como Armando
Chaguaceda, Mario Castillo, monsenhor Carlos Manuel de Céspedes e Dmitri
Prieto, entre outros.
Os debates incluíram temas como pluripartidarismo, democracia,
participação cidadã nas decisões, existência ou não de
inconstitucionalidade em algumas medidas governamentais e mudanças
políticas. As principais críticas dos participantes foram em relação ao
que consideraram uma centralização política excessiva e à marginalização
do cidadão nas tomadas de decisão sobre assuntos que afetam diretamente
suas vidas.
Todos os debatedores concordaram, no entanto, que qualquer solução para
a questão cubana deverá respeitar necessariamente “a soberania
nacional, a soberania popular, a igualdade social, o respeito aos
direitos dos cidadãos, uma economia viável e uma democracia política,
social e econômica”, disse o jornal Havana Times.
Contrapontos
Além de terem várias de suas idéias contrapostas no livro, Guanche e Veiga também debateram no evento.
Veiga reconhece a legitimidade de muitos dos fundamentos socialistas
sobre a justiça, mas crê ser impossível que o ideal de justiça de uma
sociedade seja o “critério particular de uma ideologia, por mais sábia e
positiva que seja”. “O debate em Cuba para a construção de um modelo
sociopolítico, econômico e jurídico distinto é óbvio (...) As idéias que
sejam do consenso da maioria dos cubanos devem ser institucionalizadas
Por isso, faz-se necessário um debate muito mais amplo”, diz Roberto
Veiga.
Para ele, “gostem ou não,Cuba terá de se integrar plenamente aos
mecanismos mundiais que dão à vida uma arquitetura global de tipo
capitalista, ou correremos o risco de vivermos na mais espantosa
miséria”.
Já Guanche o replicou dizendo que “a democracia serve hoje como
mecanismo de legitimação de um tipo particular de acumulação: o capital,
de uma forma pela qual a democracia se subordina de uma forma
estritamente mercantil, e restringe a compreensão sobre os direitos
humanos. Por essa razão, a democracia depende do capitalismo”.
“A construção de direitos, a constituição de igualdades e a construção
de liberdades se interrelacionam e contribuem igualmente à construção
democrática”, defendeu Guanche.
Pluralismo
Entre os participantes compareceram debatedores católicos, liberais e
marxistas. O ex-diplomata Carlos Alzugaray, que mediou o encontro,
elogiou o tom moderado e respeitoso entre todos os participantes,
afirmando que a mudança em Cuba não ocorrerá somente no ponto de vista
econômico, mas também no político, o que ele considera inevitável.
Para a socióloga e professora da Universidade de Havana, Mayra Espina,
que participou das discussões, a realização do debate pode colocar um
fim a maniqueísmos, ou “à era de anjos e demônios”, abrindo um novo
momento para os debates no país.
Alguns dissidentes estiveram presentes no debate, como o jornalista
Reinaldo Escobar, que se queixou da ausência de colegas nas mesas de
debate. Para ele, foram convidados apenas debatedores que querem
“modernizar o sistema”, e não “demolir o sistema”. O encontro, no
entanto, foi aberto, e todos podiam realizar perguntas. O governo não
enviou representantes, no entanto, participaram diversos membros
importantes de centros de pesquisa próximos ao poder.
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