Austeridade na saúde britânica gera R$ 15 bi em perdas para a economia local


26/09/2012 - 10h42 | Roberto Almeida | Londres

Austeridade na saúde britânica gera R$ 15 bi em perdas para a economia local

Cuidadores de idosos deixaram de ser contratados pelo governo e familiares deixaram seus empregos para assumir função

A crise da saúde no Reino Unido, agravada com as medidas de austeridade do premiê conservador David Cameron, vem transformando os hábitos dos britânicos com efeitos perniciosos. Os cortes na assistência médica domiciliar para idosos geraram, entre 2010 e 2011, uma perda de 5 bilhões de libras esterlinas (cerca de R$ 15 bilhões) à economia local, que passa por um longo período de recessão.

Desde a implantação definitiva do estado de bem-estar social e da NHS (National Health System, ou Sistema Nacional de Saúde) no Reino Unido, durante a década de 1950, foi erguida uma rede de assistência a idosos em situação de risco, isolados em casa e sem apoio familiar. Cuidadores contratados pelo governo fariam visitas periódicas para ministrar medicamentos, preparar refeições e fazer passeios. Uma política de prevenção para reduzir gastos com internações.

Desde 2010, início do período de austeridade, esse serviço sofreu cortes de 1,9 bilhões de libras (ou 6,2 bilhões de reais) em seu orçamento. Sem custeio do governo, o número de cuidadores caiu vertiginosamente e idosos começaram a passar mais tempo sozinhos. Preocupados, parentes foram obrigados a deixar seus empregos para prestar auxílio em tempo integral. O resultado dessa equação foi péssimo para os cofres públicos.

Entre 2010 e 2011, mais de 300 mil britânicos pediram demissão para cuidar de familiares idosos. Sem trabalhar, estima-se que eles deixaram de movimentar 4 bilhões de libras (cerca de R$ 12,3 bilhões) na economia local e, consequentemente, não pagaram 1 bilhão de libras (ou R$ 3,2 bilhões) em impostos, segundo estudo das ONGs Age UK e Carers UK com base em dados da London School of Economics.

A ministra opositora da Assistência Social, Liz Kendall, acredita que a gestão do sistema está prejudicando a economia e, indiretamente, gerando desemprego. “O governo está completamente desconectado da crise do serviço social. Ele precisa acordar e entender que melhorar os cuidados com os mais velhos também vai turbinar nossa economia.”

Segundo o relatório de monitoramento da Age UK, os gastos com cuidados a idosos vem caindo no Reino Unido desde 2005, apesar de a população acima de 85 anos ter crescido em 250 mil no mesmo período. Com isso, afirma a ONG, há menos horas de cuidado a idosos e, ao mesmo tempo, os custos subiram em 360 libras por pessoa (cerca de R$ 1 mil).

“A falta de sinais de uma eventual recuperação a curto prazo colocará pressão sobre idosos desempregados, já que há maior dificuldade de encontrar trabalho com a idade. Além disso, os cortes anunciados no setor público e o congelamento de vagas terá um efeito negativo nas perspectivas de trabalhadores mais velhos, porque há uma maior proporção de trabalhadores idosos na administração pública, educação e saúde”, afirma a Age UK.

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