Doutrina

Poucas coisas podem ser ditas com certeza sobre o budismo maaiana, especialmente sobre suas primeiras formas, indianas, além de que é a forma de budismo praticada na China, no Vietnã, Coreia, Tibete e Japão.[11][12] O maaiana pode ser descrito como um feixe atado de maneira pouco firme, de diversos ensinamentos, que conseguiu englobar as diversas e contrastantes ideias encontradas naqueles diversos ensinamentos dos elementos que o compõem.[13]
O maaiana é uma estrutura religiosa e filosófica vasta. Constitui uma inclusiva, caracterizada pela adoção de novos sutras, os chamados sutras maaianas, em adição aos textos mais tradicionais, como o Cânone Páli e os ágamas, e por uma mudança nos conceitos e no propósito básico do budismo. O maaiana se vê como capaz de penetrar mais profundamente no darma de Buda. No Nirvana Sutra (ou Mahaparinirvana Sutra), por exemplo, o Buda narra como seus primeiros ensinamentos sobre o sofrimento, a impermanência, e o não-Eu foram dados àqueles que ainda eram como "pequenas crianças", incapazes de digerir a "refeição" completa da Verdade, enquanto que à medida que estes estudantes espirituais "crescerem" e não mais se satisfizerem com os ingredientes preliminares da refeição dármica com que se alimentam, e precisem de maior sustância, estarão prontos a assimilar os ensinamentos do maaiana em toda a sua totalidade.
O escola maaiana do budismo retira a ênfase no ideal, expresso pelo teravada, da libertação do dukkha (sofrimento) individual, e na obtenção do nirvana (extinção). O Sutra do Lótus diz, por diversas vezes, que a vida do Buda é extremamente longa, e que ela é infinita; as autoridades do maaiana divergem sobre qual destas afirmações deve ser interpretada literalmente. De uma maneira geral, os chineses e japoneses preferem a primeira, enquanto os tibetanos a última. Além disso, a maioria das escolas do maaiana acredita num panteão de bodisatvas (em sânscrito: बोधिसत्त्व), quase-divinos, que se devotam à excelência pessoal, ao conhecimento supremo e à salvação da humanidade e de todos os outros seres sencientes (animais, fantasmas, semideuses etc.). O zen-budismo é uma escola do maaiana que, frequentemente, retira a ênfase no panteão dos bodisatvas e, ao invés disso, se foca nos aspectos meditativos da religião. No maaiana, o Buda é visto como o ser definitivo, mais elevado, presente em todos os tempos, em todos os seres, e em todos os lugares, enquanto os bodisatvas representam o ideal universal da excelência altruística.
Os princípios fundamentais da doutrina maaiana foram baseados em torno da possibilidade da liberação universal do sofrimento para todos os seres (daí "grande veículo") e na existência de budas e bodisatvas que incorporam a natureza de Buda (em chinês: 佛性) transcendente (a eterna presença do Buda, presente, porém escondida e irreconhecível, em todos os seres). Algumas escolas do maaiana simplificam a expressão de fé permitindo que a salvação seja obtida através da graça do buda Amitaba (अमिताभ), tendo fé e se devotando ao nianfo (cânticos a Amitaba). Este estilo de vida devoto do budismo é especialmente enfatizado pelas escolas da corrente Terra Pura, e contribuiu enormemente ao sucesso do maaiana no Leste da Ásia, onde os elementos espirituais tradicionalmente se utilizavam de cânticos com o nome de um buda, de mantras ou dharanis, da leitura de sutras maaianas e do misticismo. No budismo chinês, a maioria dos monges pratica a Terra Pura, alguns combinando-a com o Chan (Zen).[14]
Há uma tendência, nos sutras maaianas, de encarar a aderência a estes textos como forma de obter benefícios espirituais maiores do que aqueles que seriam obtidos pelos seguidores das visões não maaiânicas do darma. Assim, no Srimala Sutra, o Buda afirma que a devoção ao maaiana é inerentemente superior em suas virtudes à devoção ao caminho do Sravaka ou do Pratyekabuddha:
" ...assim como, no gado, a magnificência do mais bem criado e belo brilha mais que o resto do rebanho em altura, peso e assim por diante, também sustentar o Saddharma [Verdadeiro Darma] do maaiana, ainda que somente um pouco, é algo maior e mais vasto que todos os saudáveis darmas dos yanas [veículos] do Shravaka e Pratyekabuddha."[15]

Referências

  1. http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23
  2. Harvey, Introduction to Buddhism, Cambridge University Press, 1990, pág. 94
  3. "O Mahayana, "Grande Veículo" ou "Grande Carruagem" (para carregar todos os seres ao nirvana) também é, e talvez mais correta e precisamente, conhecido como o Bodhisattvayana, o veículo do bodisatva." (Ver Indian Buddhism, A. K. Warder, 3rd edition, 1999, p.338)
  4. "A escola posterior que se arrogou o título de 'Mahayana'." Indian Buddhism, AK Warder, 3ª edição 1999, pág. 4

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