12/12/2012 - 10h34 | Marina Mattar | Redação

EUA reconhecerão oposição síria como representante do país

Crescente papel de grupos anti-americanos na insurgência síria pode ter motivado a mudança na política norte-americana

Reprodução/Casa Branca (11/12)

Na Casa Branca, presidente dos EUA, Barack Obama, dá entrevista a jornalista Barbara Walters da emissora ABC News

Os Estados Unidos vão reconhecer formalmente a coalizão de grupos opositores sírios como os representantes legítimos do país na tentativa de intensificar a pressão contra o presidente Bashar al Assad. O passo sinaliza uma mudança no engajamento das autoridades norte-americanas com o conflito,  que já deixou pelo menos 40 mil vítimas em 20 meses.

O anúncio foi realizado na noite desta terça-feira (11/12) pelo presidente Barack Obama nas vésperas do encontro do grupo Amigos da Síria com líderes da oposição do país em Marrakesh, no Marrocos, que contará com uma delegação da Casa Branca. Em entrevista na emissora ABC News, o líder norte-americano disse apoiar a CNFROS (Coalizão Nacional Síria das Forças de Oposição e da Revolução) por ser um grupo aberto e representativo, incluindo diferentes etnias e religiões.


É a primeira vez que os EUA sinalizam apoiar, oficialmente, os grupos rebeldes que lutam contra Assad há mais de 20 meses no país. Em novembro deste ano, Obama chegou a reiterar sua solidariedade com a luta do povo sírio, mas negou reconhecer a organização como um governo no exílio.

Agora, de acordo com suas declarações, a Casa Branca também irá identificar a CNFROS como os administradores legais das areas controladas pelos rebeldes na Síria.

“Obviamente, com o reconhecimento vem também a responsabilidade”, lembrou o presidente norte-americano. Segundo ele, a organização deve provar “que se organiza de forma eficaz, que é representativa de todas as partes e que se compromete a uma transição política que respeite os direitos das mulheres e das minorias”.

Obama não respondeu, no entanto, se os EUA vão enviar armas para os opositores que lutam no país nem se vão oferecer apoio militar, como fizeram com a insurgência na Líbia em 2011. Na ocasião, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) realizou bombardeios aéreos no país para ajudar na luta de opositores que tentavam derrubar o então presidente Muammar Kadafi.

O reconhecimento das autoridades norte-americanas deve ser formalizado ainda nesta quarta-feira (12/12) na ocasião do encontro dos Amigos da Síria, que incluem delegações frances, britânicas e de países do Golfo, com líderes da oposição em Marrakesh. A proposta de declaração final, segundo a rede Al Jazeera, caracteriza a CNFROS como “o representante legítimo do povo sírio” e exige que o presidente Assad “fique de lado” para permitir “um processo sustentável de transição política”.

Guerra contra o terror e motivos para declarar apoio

Horas antes da entrevista, a Casa Branca classificou um dos grupos da resistência síria, a Frente al-Nusra  do Levante Popular, como uma organização terrorista com possíveis vínculos a Al Qaeda.
“Não estamos confortáveis com todos aqueles que estão participando na luta contra o presidente Assad na Síria”, afirmou Obama. “Existem algumas organizações que adotaram pautas extremistas e contra os Estados Unidos”.

Muitos analistas acreditam que o crescente papel de grupos anti-americanos na insurgência síria pode ter motivado a mudança na política norte-americana. O reconhecimento pode sinalizar maior envolvimento da Casa Branca no conflito em uma tentativa de participar (ou controlar) o processo de transição política que se seguirá à queda de Assad de acordo com os seus próprios interesses na região.

Restam, no entanto, muitas dúvidas sobre o papel desenvolvido pela CNFROS. Não está claro se a organização pode se tornar uma liderança viável no futuro nem se tem capacidade de influenciar os rebeldes que estão, atualmente, lutando no território sírio.

Luta não terá sucesso sem apoio militar

O grupo já foi reconhecido oficialmente pelo Reino Unido, França, Turquia e Conselho de Cooperação dos Países do Golfo. Mas, especialistas e opositores notam que o apoio não mudou a equação militar interna na Síria. De acordo com os rebeldes, os países devem fornecer armamento para a luta ter sucesso.

Em novembro deste ano, o líder do Conselho Nacional Sírio, grupo que faz parte da coalizão, criticou a comunidade internacional pela falta de suporte e pedio o envio de material bélico. Enquanto os amigos de Assad “dão tudo ao regime, nós não ganhamos nada deles, com exceção de alguns discursos e incentivos”, disse o dissidente Geroge Sabra.

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