Oposição venezuelana ataca Maduro e convoca protestos contra decisão judicial

Para aliança de partido opositores, quem deveria ter assumido é o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello

Vestindo um uniforme de prisioneira, com correntes simbólicas e uma coroa como a da estátua da Liberdade, mas com as cores da bandeira venezuelana, a professora Mari Parra, de 51 anos, protestava neste sábado (12/01) contra decisão do Supremo tribunal desta semana, que concedeu ao presidente reeleito Hugo Chávez o tempo que for necessário para se recuperar em Cuba. A decisão judicial, amparada na Constituição venezuelana, isentou Chávez de fazer o juramento de seu quarto mandato neste momento devido ao problema de saúde. Com isso, o vice-presidente Nicolás Maduro ficará no comando do país pelo período que for necessário.

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Vestida como prisioneira, a professora Mari Parra protesta contra Maduro: "quem está no poder hoje é o diabo"

“Na Venezuela há uma ditadura”, “Sem liberdade de expressão não há democracia. Não ao silêncio” e “Globovisión”, nome de uma das principais cadeia de televisão do país, eram as mensagens que Mari trazia no corpo. Falando a jornalistas de diversos países, a professora foi uma das primeiras pessoas a chegar à assembleia popular convocada pelo partido oposicionista Vontade Popular. “Que ninguém fique em casa! Precisamos protestar contra o sequestro da nossa Constituição. Quem está no poder do país hoje é o diabo, que atende pelo nome de Nicolás Maduro”, afirmou, em referência ao vice.

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A declaração de Mari condensa a tônica do protesto da oposição venezuelana dias após a decisão judicial que pôs fim a semanas de incerteza sobre a posse de Chávez. Para a aliança de partido opositores MUD (Mesa de Unidade Democrática), quem deveria ter assumido a Presidência é o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.
“Até quando Maduro será nosso presidente?”, questiona o dirigente do Vontade Popular Carlos Vecchio (foto ao lado, de camisa azul). “É contra esse autogolpe que ele deu que iremos protestar, de forma pacífica e como é nosso direito”, disse a Opera Mundi.

Para a oposição, o fato de Maduro não ter sido eleito por meio de voto popular o desqualifica para assumir o comando do país enquanto Chávez se recupera. Antonio Ledezma, prefeito de Caracas e um dos principais nomes opositores, chegou a dizer essa semana que o “governo deu um golpe contra Chávez”.
Como parte da campanha contrária a Maduro, também foi convocada uma manifestação em 23 de janeiro, importante data para o país, quando será celebrado o 55º aniversário do final da última ditadura. Até lá, informa Vecchio, outras assembleias e encontros serão promovidos em todo o país, “sem chamados à violência”.



“O único presidente hoje se chama Diosdado Cabello, mas o tiraram da jogada. Estamos vivendo uma ditadura. A única solução é esquentar as ruas, como fizemos em 2007”, disse o líder estudantil Freddy Guevara, membro do Vontade Popular, em referência à campanha da oposição contra plebiscito constitucional proposto pelo governo venezuelano e rejeitado pela maioria da população. “Se não tivemos medo de Chávez, menos ainda teremos de Maduro”, continuou.

Nesta quinta-feira (10/01), data prevista pela Constituição para a posse do presidente eleito, milhares de apoiadores do líder venezuelano se concentraram no centro de Caracas para um juramento simbólico e em apoio ao vice-presidente. Na ocasião, Maduro afirmou que “a ultradireita da Venezuela está tentando provocar um banho de sangue no país, mas o governo e os militares estão atentos e reagirão”.
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Apoiador do partido Vontade Popular carrega cartaz em assembleia popular com os dizeres "Nicolas Madoro (sic) ilegal"

Para o governo, uma série de ataques violentos às sedes da Fundação da Família Tachirense e do Instituto Tachirense da Mulher, nesta sexta-feira (11/01), deixando seis feridos, é exemplo da desestabilização que a oposição desejaria fomentar no país. O governador do Estado de Táchira, José Vielma Mora, acusou os agressores de estarem sendo financiados desde o exterior do país, enquanto o ministro da Comunicação, Ernesto Villegas, fez um “chamado para que o povo não caia em provocações.”

Saúde

Além de defender a Presidência de Cabello, a oposição exige que mais informações sobre o estado de saúde do presidente sejam divulgados. “Temos o direito de saber a verdade. A que sabem os cubanos, os brasileiros e até os norte-americanos e que nos é negada”, discursou a deputada opositora María Corina Machado, independente.



Em tratamento contra um câncer na região pélvica, Chávez foi submetido a uma quarta cirurgia em 11 de dezembro de 2012. Após a intervenção cirúrgica ele desenvolveu uma insuficiência respiratória, de acordo com informações divulgadas pelo governo.

O mais recente boletim sobre a saúde do presidente indica que ele está consciente e assimilando o tratamento. Respondendo a críticas da oposição sobre falta de transparência, Villegas afirmou que o governo tem informado ao país sobre o tema com periodicidade, "incluindo quando temos informações boas ou ruins". Segundo Villegas, Chávez "é um ser humano que, como qualquer outro paciente tem direito a preservar a informação sobre seu estado de saúde".

Segundo Villegas, há setores da oposição venezuelana que “só querem ver a certidão de óbito de Hugo Chávez” e pessoas que querem espalhar a “morbidez” entre a população. “Por outras vias que não o voto, a oposição está buscando seus objetivos”.

12/01/2013 - 16h20 | Marina Terra | Enviada especial a Caracas

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