Estudo


Criando uma grandiosa corrente mundial do Kossen-rufu na era das pessoas [2]

Edição 524 - Publicado em 14/Abril/2012 - Página 74

[5] “A Seleção do Tempo”


Membros da SGI de 60 países e territórios participam do Curso de Aprimoramento da Primavera em março de 2012 em Tóquio, Japão

EXPLANAÇÃO


O Budismo Nitiren é um ensinamento humanístico. Ele permite que encontremos uma esperança suprema dentro de nós mesmos — esperança que é representada pela infinita nobreza de nossa vida. Encontramos a suprema esperança em nossa vida, assim como esperança luminosa na vida das outras pessoas.
Baseados no espírito fundamental da empatia e da preocupação com os outros, despertamos para a nossa missão de construir um mundo melhor, caracterizado pelo respeito à dignidade da vida e à dignidade humana. E começamos a trilhar este caminho de transformação e criação de valores enquanto confrontamos corajosamente a rea­lidade mais difícil. Este é o espírito demonstrado pelos Bodhisattvas da Terra, descrito no Sutra de Lótus. Uma transformação interna na vida de uma pessoa gera a mudança de incontáveis pessoas e, por fim, transforma o mundo inteiro. A missão dos Bodhisattvas da Terra é pôr isso em movimento e espalhar uma corrente contínua de valor positivo e de esperança. O importante é a pessoa despertar e agir agora.
Os Últimos Dias da Lei são a época em que a Lei pura do Buda Sakyamuni fica obscurecida e se perde. Nessa época, o Buda Nitiren Daishonin levantou-se destemidamente como uma pessoa de sabedoria e reconheceu a calúnia contra a Lei como a raiz das calamidades e dos problemas que assolavam o Japão.
Daishonin foi um sábio que arriscou a própria vida para repreender as autoridades dominantes da época, advertindo que, se essa calúnia permanecesse descontrolada, as duas calamidades restantes previstas nos sutras — as calamidades dos conflitos internos e a invasão estrangeira — ocorreriam sem falta. Acima de tudo, ele foi um devoto do Sutra de Lótus, que lutou persistentemente para libertar as pessoas do sofrimento e transformar a era maligna por propagar amplamente o ensinamento do Nam-myoho-rengue-kyo — o grande remédio para curar a aflição da calúnia contra a Lei em seu nível fundamental.
No escrito “A Seleção do Tempo”, Daishonin proclama que ele, como uma pessoa de incansáveis esforços para propagar o Sutra de Lótus conforme o Buda ensina, é “o principal devoto do Sutra de Lótus em toda a terra de Jambudvipa [o mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 552) e o precursor em propagar amplamente a Lei Mística pelo mundo.
Este escrito revela que Daishonin entendeu e incorporou o ensinamento correto do Budismo e é o grande mestre, ou o Buda dos Últimos Dias da Lei, que abre o caminho para a iluminação de todas as pessoas nesta era conturbada.
Os que são merecedores de respeito e admiração não são os estudiosos arrogantes, as autoridades religiosas, ou os políticos influentes. Quem merece respeito são as pessoas de genuína sabedoria e coragem que dedicam sua existência ao ensinamento e à transmissão dos meios verdadeiros pelos quais as pessoas superam quaisquer sofrimentos. “A Seleção do Tempo” esclarece a real medida de um ser humano.
Desde que estabeleceu seu ensinamento (aos 32 anos), Daishonin atentou-se a transformar o Japão, que estava dominado por sacerdotes despreparados que sucumbiram à influência de funções demoníacas — ou, como consta no Sutra de Lótus, estavam “possuídos por demônios do mal”.1 Esses sacerdotes colocaram o mundo inteiro num caminho de impiedosa calúnia contra a Lei e todo o país numa direção de graves calúnias contra a Lei. Ele travou uma luta contra os ataques dos Três Poderosos Inimigos,2 que aconteceram em rápida sucessão; mas Daishonin triunfou sobre todos.
Quando escreveu esta carta (em 1275), as profecias de Daishonin, de conflitos internos e de invasão estrangeira, haviam se realizado. Essa série de eventos o fez ser libertado do injusto exílio na Ilha de Sado. As autoridades, até então baseadas em pontos de vista distorcidos, passaram a admirar Daishonin e tentavam mostrar-lhe uma atitude conciliatória.
Como não compreendiam o coração da Lei Mística — o ensinamento de respeito para o valor sagrado da vida e a dignidade humana —, eles falharam ao abraçar o ideal de Daishonin de “estabelecer o ensino correto para a paz da nação”. Os sacerdotes ignoraram as sinceras objeções de Daishonin, que ofereceu uma visão em que os soberanos colocariam o bem-estar e o interesse das pessoas em primeiro lugar, abrindo caminho para a criação de uma sociedade próspera e pacífica. As autoridades da época estavam apenas interessadas em medidas paliativas para lidar com a ameaça iminente de outra invasão mongol.
Elas estavam elaborando um programa de defesa nacional, no qual também contavam com o apoio dos sacerdotes das escolas budistas já estabelecidas. Como Daishonin continuou a censurar as autoridades e a denunciar o curso de suas ações, a perseguição contra seus discípulos se intensificou.
Na “Seleção do Tempo”, percebemos o desejo de Daishonin de transmitir a seus discípulos, que permaneceram ao seu lado durante a crise, a missão para a qual ele despertou como Bodhisattva da Terra e sua contínua batalha contra os Três Poderosos Inimigos. Apenas na constante luta altruística de Daishonin para propagar a Lei Mística encontramos o caminho para a revolução humana individual. Nessa luta está o sentido para transformar a sociedade que está repleta de ira e sofrimento.
Encontramos também o caminho para transformar o carma da humanidade, possibilitando a todas as pessoas romper a escuridão fundamental inerente e perceber um mundo onde todos são felizes.
Vejam como será!
Quando dezenas de milhares de navios armados do grande reino mongol atacarem o Japão, todos os governantes e até multidões virarão as costas para os templos budistas e os santuários de deuses. O povo erguerá a voz em coro, recitando Nam-myoho-rengue-kyo, Nam-myoho-rengue-kyo!
As pessoas e os governantes juntarão as mãos e dirão “Mestre Nitiren, Mestre Nitiren, salvai-nos!” Logo, os sacerdotes dominantes do Japão, sem dúvida, tentarão clamar: “Namu Nitiren Shonin (Devoção ao sábio Nitiren)!”
É provável que eles só vão ter tempo para proferir esta única palavra: “Namu (Devoção)!”
Que lamentável, que lamentável! (WND, v. 1, p. 578-579)


A traiçoeira influência da calúnia contra a Lei


O propósito do Budismo Nitiren é estabelecer o ensinamento correto para a paz na Terra e instituir os ideais de respeito pelo valor sagrado da vida e a dignidade humana. E, baseado nisso, atingir a felicidade de todas as pessoas e o florescimento de sociedades pacíficas.
O Buda deseja guiar todos os seres humanos na direção do supremo bem e ajudá-los a manifestar o mesmo estado de felicidade absoluta indestrutível que ele conseguiu. Esse profundo desejo é elucidado com grande simplicidade e clareza no Sutra de Lótus. Abraçar e apoiar este Sutra é tomar medidas com o mesmo espírito do Buda que transborda vibrantemente na vida de cada um.
Em contraste, caluniar o Sutra de Lótus representa o repúdio ao desejo do Buda de guiar todas as pessoas à iluminação [Chakubuku]. Esse comportamento é influenciado por forças negativas inerentes à vida — ou “demônios do mal” — que tentam destruir a bondade inata das pessoas e acabar com sua felicidade. A calúnia corrompe a vida das pessoas e intensifica impulsos e desejos ilusórios, tornando-as egoisticamente preocupadas com a busca de fama, fortuna e posição social.
Por sua vez, isto origina um ambiente onde ninguém tem o menor escrúpulo ao sacrificar a felicidade dos outros pela própria. Num mundo onde o humanismo está escasso e prevalece o desrespeito pela vida, não haverá apenas desordem e batalhas internas, mas um conflito incessante com as outras sociedades.
Essa introspecção é incorporada em várias passagens do Sutra, advertindo que a calúnia contra a Lei é a causa fundamental de todas as calamidades e que, se permanecer impune, conduzirá à guerra e à destruição da nação.
Naturalmente, a última coisa que Daishonin pretendia era ver suas profecias se tornando reais e o bem-estar sendo perturbado. Ele havia feito essas previsões como uma advertência para a nação mudar de rumo antes que fosse tarde e as pessoas estivessem mergulhadas num terrível sofrimento. Por essa razão, Daishonin era o sábio que advertiu o mundo sobre “o que ainda não se fez revelar” (WND, v. 1, p. 579).
A fim de despertar essas vidas envenenadas pela calúnia contra a Lei, Daishonin se declara como um sábio cuja única preocupação é salvar a nação da destruição. Ele ainda afirma que, quando as pessoas são fisicamente confrontadas com a ameaça da morte e veem a ruína da nação, elas determinam juntar as mãos em súplica como devotos do Sutra de Lótus, a quem haviam anteriormente desprezado e ignorado, e recitam o Nam-myoho-rengue­-kyo uníssono.
Mas ele nota que até os sacerdotes iminentes que tomaram a liderança ao persegui-lo — os chamados sábios falsos arrogantes, ou o terceiro dos Três Poderosos Inimigos — despertaram o desejo de procurar ajuda e tentaram dizer: “Namu Nitiren Daishonin” (Devoção ao sábio Nitiren)!” É provável que eles só vão ter tempo para proferir esta única palavra: “Namu (Devoção)!” Eles seguiriam o mesmo caminho de Devadatta3 que, antes de dar seu último suspiro e cair no inferno, proferiu “Namu (Devoção)!” e não “Namu Buda (Devoção ao Buda)!” Assim como ele, eram dignos de pena (cf. WND, v. 1, p. 578-579).4 Aqui, Daishonin destaca a ofensa da calúnia contra a Lei cometida por sacerdotes iminentes de sua época.
Entretanto, esses sacerdotes estavam formando uma relação reversa, ou relação tambor venenoso,5 com o correto ensinamento. Como aqueles que perseguiram o Bodhisattva Jamais Desprezar6 no Sutra de Lótus, esses falsos sábios arrogantes, depois de experimentarem o grande sofrimento por caluniar a Lei, despertariam e alcançariam a máxima verdade da existência, o mais alto e mais importante ensinamento de todos.
Depois de explicar esse princípio, Daishonin esclarece que ele é um sábio. E fortalece essa afirmação resumindo as três ocasiões em que ele ganhou distinção ao fazer profecias precisas enquanto advertia o governo.
Nos textos seculares consta: “Um sábio é quem entende inteiramente o que ainda não se fez revelar”.7 Os textos budistas afirmam: “Um sábio é aquele que conhece as três existências da vida — passado, presente e futuro”.8 Três vezes ganhei distinção por possuir tal conhecimento.
(...)
[“Na ocasião da minha terceira advertência, Hei no Saemon-no-jo] Yoritsuna... perguntou: “Quando o senhor acha que os mongóis atacarão?”
Respondi-lhe: “As sagradas escrituras não indicam o tempo. Porém, os sinais mostram que o céu está extremamente irritado. Parece que o ataque é iminente. É provável que ocorra antes do término deste ano [1274]”.
Apesar de não ter sido eu, Nitiren, quem fez esses três importantes pronunciamentos, em todos os casos o espírito de Tathagata [Buda] Sakyamuni havia possuído meu corpo.
E, tendo vivido isso, não me contenho de tanta alegria! Esta é a importante doutrina dos Três Mil Mundos num Único Momento da Vida,9 ensinado no Sutra de Lótus (WND, v. 1, p. 579).


Três ocasiões de destaque:
a vitória da verdade sobre a opressão


A frase “Três vezes ganhei distinção” refere-se às previsões de Daishonin durante suas três renúncias perante as autoridades. Foram distinções que ele adquiriu com sua perspicaz sabedoria decorrente da profunda compaixão e do senso de responsabilidade para aliviar o sofrimento das pessoas da Terra. Para mim, eles transmitiam uma elevada dignidade espiritual com a qual Daishonin se pronunciou audaciosamente, como um ser humano único, pelo que ele acreditava ser correto, sem fazer reverência ou bajular quem estavam no poder.
As três ocasiões que fizeram Daishonin ganhar distinção, seus três pronunciamentos, são resumidas da seguinte forma:
O primeiro pronunciamento foi quando ele apresentou a “Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação” (em 1260) para o poderoso governador aposentado Hojo Tokiyori.10 Daishonin levou a Tese ao escritório do sacerdote leigo Yadoya Saemon Mitsunori, assessor de Tokiyori e oficial no governo militar de Kamakura, para o qual ele disse: “Por favor, informe sua senhoria que a devoção às escolas Zen e Nembutsu deve ser abolida. Se este conselho não for atendido, problemas surgirão no clã dominante [Hojo], e o Japão será atacado por outra nação” (WND, v. 1, p. 579).
O segundo pronunciamento ocorreu durante a censura de Nitiren Daishonin quando da Perseguição de Tatsunokuti (em 1271). Hei no Saemon,11 representante do Escritório de Negócios Políticos e Militares, levou um grande número de soldados fortemente armados para prender Daishonin, que declarou com voz calma: “Nitiren é o pilar do Japão! Eliminar a mim é derrubar o pilar da nação! Logo, todos enfrentarão a ‘calamidade de uma revolta em seus próprios domínios’, ou seja, uma luta entre os senhores mesmos, e também ‘a calamidade da invasão por uma nação estrangeira’. Essa invasão estrangeira não só causará a morte do povo de nossa nação, mas também muitos serão feitos prisioneiros. Todos os templos da Zen e Nembutsu, como o Kentyoji, o Jufukuji, o Gokurakuji, o Daibutsuden e Tyorakuji, deveriam ser queimados e reduzidos a cinzas, e seus sacerdotes levados à Praia de Yui [em Kamakura] para serem decapitados. Se isso não for feito, todo o Japão será destruído sem falta!”12 (WND, v. 1, p. 579)
Nitiren Daishonin denunciou a loucura que Hei no Saemon estava cometendo como um soberano. Executar Daishonin seria como derrubar o pilar do Japão. Ele ainda declara que quem tinha de ser decapitado por uma grave ofensa eram os perversos sacerdotes da Nembutsu, da Zen e das outras escolas, que estavam levando a nação à ruína com seus ensinamentos errôneos, e não ele, que estava se esforçando para salvar o país basea­do no ensinamento correto.
Com certeza, o pedido de Daishonin para “cortar as cabeças” de outros sacerdotes deve ser entendido como uma metáfora proibindo a calúnia contra a Lei. Na “Tese sobre Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da Nação”, Daishonin escreve que se deve evitar dar esmolas aos sacerdotes que caluniam a Lei (cf. WND, v. 1, p. 23).13
Naquela época, Hei no Saemon era um conselheiro de confiança do jovem governante Hojo Tokimune. Como chefe de governo do Escritório de Negócios Políticos e Militares, serviu como líder efetivo do governo militar. O fato de Daishonin censurar destemidamente esta poderosa figura comprova seus incansáveis esforços e a prontidão para pôr a própria vida em risco por suas crenças.
Daishonin fez seu terceiro e último pronunciamento durante um encontro com Hei no Saemon após ser perdoado do exílio na Ilha de Sado e ter retornado a Kamakura (em 1274). Numa completa reviravolta de seus confrontos anteriores, Hei no Saemon mostrou uma atitude diferenciada em relação a Daishonin. Ele fez uma clara tentativa de obter­ o apoio de Daishonin, oferecendo-lhe a construção de um templo, caso concordasse em orar em nome do governo para a derrota do exército mongol. Essa proposta veio exatamente de quem até aquele momento perseguiu ferozmente Daishonin e seus discípulos. A aparência respeitosa de Hei no Saemon acobertava a ameaça de que sérias consequências aguardavam Daishonin se ele rejeitasse essa proposta.
A natureza fundamental desse tirano não havia mudado em nada. Nitiren Daishonin não aceitou a oferta dizendo categoricamente: “Pode parecer que, por ter nascido em seu domínio, eu deva segui-lo em minhas ações. Porém, jamais o seguirei em meu coração” (WND, v. 1, p. 579). Essas conhecidas palavras, foram incluídas numa publicação da Unesco, intitulada The Birthright of Man, uma coleção de citações inspiradoras para comemorar o 20º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (em 1968).14 Esse indomável anúncio de liberdade espiritual resume o próprio coração do Buda Nitiren Daishonin, que lutou incansavelmente para a felicidade das pessoas contra a natureza demoníaca da autoridade.
Daishonin recusou-se a se submeter às repressivas autoridades de sua época. Na verdade, ele ousou afirmar claramente em censura que, se o governo continuasse dependendo das orações da escola Preceitos-Verdadeira Palavra para derrotar as forças mongóis, a nação seria destruída. Esse fato estava de acordo com o princípio budista da ofensa retornar ao seu autor.15
O coração dos iluminados na mais alta verdade da Lei Mística não é controlado por ninguém, nem pela mais poderosa autoridade secular. Mesmo que seu espírito pareça por um tempo algemado e oprimido pelo poder, essas pessoas travam incessante luta interior que rompe todas as correntes e as permite alcançar a brilhante vitória espiritual neste mundo.
Esse triunfo da dignidade humana e do valor sagrado da vida é o que conduz a uma terra próspera e pacífica, baseada no ensinamento correto.

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