A
VIOLÊNCIA URBANA
Getulio
Miranda Barbosa jr*
Mata-se
da mesma forma com que se exterminam baratas. E seguimos assistindo, entre
perplexos e horrorizados, uma violência imensa e crescente contra inocentes e
vulneráveis seres humanos. A filósofa Hannah Arendt nos alertou para o fato de
que "por trás de todo o mal existem pessoas banais escondidas em seus
gabinetes. Frisou que o mal carrega em si o potencial de se espalhar como um
fungo e que isso só acontece por causa da incapacidade das pessoas pensarem
sobre o que está ocorrendo de fato. Sobre o que elas e seus pares estão fazendo
de verdade".
O que vemos hoje é a institucionalização
do mal, democraticamente distribuído entre os poderes constituídos e
absolutamente mergulhado em um sistema político que promove a violência e a
coerção – que são aceitas como “parte integrante” do processo civilizatório.
Por isso, é urgente que, neste processo de naturalização da sociedade e de
artificializarão da natureza, a coletividade reencontre o criativo olhar para
si e para o mundo, de uma maneira dinâmica e dialética. Propondo-se a dissolver
tanto mal e tornar a violência um dos atos finais do intolerável clima de
cumplicidade que impera nesta sociedade selvagem e indiferente.Que os bons
parem de fazer a cômodo moderação perante o barulho dos maus! degradação
humana, filtrada por oportunistas critérios de classe – que tantas vezes
apontam para a responsabilidade da miséria e do crime ‘que descem a favela’,
fechando os olhos para os motivos que fizeram a miséria e a favela existirem –
é ainda revertida como sucesso de público para o espetáculo humano que, à moda
de uma tragédia grega, é mostrado pelos canais de TV ao vivo e em cores,
alcançando uma plateia anestesiada e incapaz de articular causas e
consequências. Em outras palavras: cada vez que uma cena de violência é
exaustivamente apresentada na televisão, por exemplo, nosso psiquismo a captura
com o mesmo impacto. Todas as vezes – e como se fosse a primeira vez. Isso traz
repercussões psíquicas.
Podemos nos tornar fóbicos, neuróticos,
delirantes ou, simplesmente, alienados. E, então, matar torna-se banal. O pai
que mata a filha. O vizinho que mata o síndico. A mãe que mata o marido. O
policial que mata o suspeito. O filho que mata a avó. O operário que mata o
supervisor. O assaltante que mata a vítima. O patrão que mata a empregado... E
por que ficamos tão reduzidos em nossa capacidade crítica frente a claros e
flagrantes exemplos de violência e injustiça? Fica aí reflexão para todas as
pessoas de bem que já não suporta mais esta realidade .
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