Doping e corrupção

Doping e corrupção

DO PORTO


Ultimamente, parece impossível escrever sobre qualquer tema esportivo sem esbarrar nos temas do doping ou da corrupção.


Ainda mal começávamos a limpar os estilhaços provocados pela queda do ciclista norte-americano Lance Armstrong do seu pedestal de campeão super-herói, e logo descobrimos que, pelos vistos, na Austrália não há nenhum atleta de elite de nenhuma modalidade que não deva o seu sucesso ao uso de substâncias proibidas ou que não esteja envolvido numa operação de viciação e adulteração de resultados. Ainda por cima com o crime organizado a beneficiar duplamente deste estado de coisas: primeiro com o fornecimento dos produtos ilegais (péptidos que têm efeitos semelhantes aos esteróides anabolizantes) e depois com o dinheiro recolhido no mercado de apostas.


É coisa saída da ficção, ou então é o cambalacho mais rocambolesco deste mundo. Como é possível que atletas, treinadores, médicos, dirigentes de clubes ou de federações - todo o universo do esporte profissional, possa estar metido num esquema tão vasto e abrangente? Foram desmascarados, é certo, mas presume-se que terão operado com total impunidade durante o tempo suficiente para que os métodos ilegais agora denunciados se expandissem a tantas e tão diferentes modalidades, do futebol ao ténis ao críquete.
Claro que nestas últimas semanas, histórias de resultados combinados e concursos viciados têm enchido os jornais. A Fifa, que no que diz respeito a suspeitas de corrupção está eternamente no topo da lista, foi acusada de negociata para atribuir a organização da Copa de 2022 ao Qatar, numa grande investigação da France Football. A revista envolve Michel Platini e até o ex-Presidente da França, Nicolas Sarkozy, no "Qatargate": todos negam qualquer compromisso, favorecimento, ilegalidade, o que quer que seja, mas este é um daqueles casos em que por mais que se esfregue e limpe, a nódoa continua lá.


Logo depois, a Fifa teve de reagir às conclusões de uma investigação da Europol, que encontrou indícios de fraude e manipulação dos resultados (jogos combinados) em 680 jogos de futebol, incluindo partidas da Champions e de apuramento para campeonatos da Europa e do Mundo. "Estamos a falar de jogos, e nos jogos há sempre batota", explicou Sepp Blatter. Ah... então tá, bola para a frente. Como se diz por aqui, seguimos para bingo.


Isto já para não falar nas controvérsias que rodeiam os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014 em Sochi, na Rússia. Desde a escolha do lugar do evento - conhecida estância de veraneio e onde as temperaturas raramente atingem os negativos - até aos projectos e obras e ao total descontrolo do orçamento (a última derrapagem já coloca a factura nos 36 mil milhões de euros, recorde absoluto), não há nada que escape à discussão, à crítica, à insinuação e à contestação.


Com tanta acha nesta figueira, fica difícil entrar no debate sobre o (in)sucesso do Neymar no futebol europeu.



Rita Siza Rita Siza é jornalista do diário português "Público", onde acompanha temas de política internacional, com ênfase na América Latina. Do futebol ao pebolim, comenta sobre diversos esportes e dedica particular atenção às Olimpíadas. Escreve aos sábados no site da Folha.

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