Budismo e islamismo [parte 3]

Edição 2142 - Publicado em 04/Agosto/2012 - Página A3

Se a fé é usada apenas para ganho pessoal, a sociedade não progride

Diálogo entre o presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, e o Prof. Dr. Majid Tehranian, formado em Harvard e ex-professor da Universidade do Havaí
Tehranian: O fanatismo surge quando a confiança das pessoas na fé é abalada devido à rápida modernização ou outros fenômenos similares. Hafez comentou: “Devido à guerra das setenta e duas nações, falharam ao ver a verdade e seguiram a estrada das fantasias”.
Ikeda: Devido à orientação regional do Islã, os muçulmanos do mundo inteiro possuem diferentes características. O antropologista cultural americano Clifford Geertz tem mostrado a diferença dos muçulmanos de Marrocos dos muçulmanos da Indonésia. Qual é o ponto em comum que faz que estes muçulmanos tão diferentes ainda sejam considerados muçulmanos?
Tehranian: Todos os muçulmanos, considerando as condições, concordarão com os cinco itens que constituem a doutrina fundamental do Islã, os cinco pilares do Islã:
• Chahada (ou profissão de fé): significa o testemunho da fé islâmica ao se proferir “Só há um Deus e Maomé é o seu profeta”. Os muçulmanos xiitas complementam: “E Ali é seu representante”. Ali foi o primo favorito e genro do profeta Maomé.
• Salat (ritual de prece): orar cinco vezes ao dia em direção a Meca – no alvorecer, ao meio-dia, entre o meio-dia e o pôr do sol, ao entardecer e à noite.
• Zakat (caridade): ser caridoso com os pobres.
• Siyam (jejum): jejum durante o ramadã, nono mês do ano lunar. Os muçulmanos não devem comer nem beber do amanhecer até o fim da tarde e se absterem também de fumar e ter relações sexuais.
• Hadj (peregrinação): peregrinação a Meca, ao menos uma vez na vida.
Ikeda: Essas são as práticas básicas dos muçulmanos.
Se a religião atualmente permanecesse totalmente pessoal – a fim de curar todas as feridas psicológicas —, seria considerada um ato de egoísmo e nada mais que um meio de consolo para aliviar a mente das pessoas. Se a fé religiosa é usada simplesmente como uma maneira de se livrar das frustrações para que possam seguir em busca do lucro pessoal, então a sociedade não progredirá. Em contraste, no Islã, a fé deve ser praticada na vida diária —, há um aspecto social nisso.
Tehranian: Exatamente. E como discutimos anteriormente, essa também é uma característica do budismo.
Ikeda: Um dos cinco pilares que mencionou, o jejum no mês do ramadã é bem conhecido: não se pode beber nem sequer um copo de água do amanhecer até o fim da tarde, e não importa quão poderoso e rico você seja, ninguém pode se isentar dessa regra, e todos ficam igualmente famintos.
Tehranian: A regra se aplica a todos independentemente da posição social ou riqueza. Há uma igualdade perfeita a fim de purificar o sistema digestivo e de lembrar os ricos as dores da fome.
Ikeda: Certamente as pessoas doentes, feridas e as mulheres grávidas não são forçadas a respeitar essa regra. Desse modo, ela não é obrigatória, mas observada espontaneamente baseando-se na fé de cada pessoa. A peregrinação até Meca não é obrigatória. Como você mencionou “considerando as condições”, isso torna mais flexível, suponho.
Tehranian: Sim, torna. A propósito, já esteve em algum país islâmico durante o mês do ramadã?
Ikeda: Sim. Minha primeira visita ao Irã foi na verdade durante o ramadã. Do ponto de vista dos japoneses e dos americanos, que são workaholic1, isso seria um exemplo de pura incapacidade de trabalhar com o estômago vazio durante o dia. Entretanto, considero bastante significativo ter um “tempo sagrado” na vida e ter uma “vida de contenção” em uma sociedade controlada pela economia de mercado onde o desejo é dado como carta branca. Quando visitei os países islâmicos durante o mês do ramadã, temia que as pessoas fossem rudes e hostis, mas na verdade a atmosfera que senti foi bastante agradável.
continua na próxima edição

Editora Brasil Seikyo Ltda.

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