Com 40 anos de mercado, Editora Global continua crescendo
Guilherme Sobota - O Estado de S. Paulo
25 Junho 2014 | 02h 00
Depois de profissionalização na gestão, grupo concretizou recentemente a compra da tradicional Nova Aguilar
No início dos anos 1970, Carlos Drummond de
Andrade veio a São Paulo: não se sabe se a trabalho ou por algum outro
motivo, mas é certo que pegou um táxi para o Alto de Pinheiros. Nele,
percebeu, embaixo do porta-luvas do motorista, um display com livros à
mostra. Descobriu: estavam à venda. Escreveu a crônica Compre Livro no Táxi,
e, talvez, sem querer tenha eternizado na literatura uma das origens da
Editora Global: 40 anos depois, é uma das mais bem estabelecidas do
País, tem um catálogo robusto com mais de 850 autores e uma previsão de
faturamento de R$ 85 milhões somente em 2014. Luiz Alves Junior na sede da editora Global, no bairro da Liberdade, região central de São PauloAmanda Perobelli/Estadão
O mais recente movimento da editora foi a aquisição da
Nova Aguilar, “a editora das obras completas”, como diz, orgulhoso,
Luiz Alves Junior, fundador e diretor-geral do Grupo Editorial Global.
“A previsão é que tenhamos um investimento de R$ 5 milhões a R$ 8
milhões nos próximos anos”, afirma, reforçando que a Nova Aguilar já
traz um catálogo poderoso que deve ser recuperado. O objetivo é dar às
obras completas (leia abaixo) o mesmo tratamento comercial dos outros
selos do grupo, nas vendas para o governo, livrarias e até no porta a
porta, sem, porém, “perder a doçura” da editora tradicional.
Já há quatro anos pensando no negócio, Alves Junior
considerou a aquisição ao perceber que a Nova Aguilar se encaixava no
“feeling” da Global - autores brasileiros com edições cuidadosas. O
plano inicial de publicações começa com a obra completa de Machado de
Assis - quatro volumes com 1,5 mil páginas cada um -, Fernando Pessoa,
Cecília Meirelles, Manuel Bandeira e o teatro de Shakespeare, todas sob a
responsabilidade do editor Jiro Takahashi.
Além da manutenção de dois outros selos editoriais sob
a alçada da Global - a Gaudí Editorial, voltada à literatura infantil, e
a Editora Gaia, com enfoque nas publicações esotéricas - Alves Junior
fala entusiasmado sobre outros projetos de expansão e fortalecimento da
marca.
Nos últimos anos, a editora deu prosseguimento à
publicação de seus autores em língua espanhola, distribuindo livros
traduzidos em toda a América Latina e também para o público hispânico
nos Estados Unidos.
O editor ainda cita um dos principais pilares da
Global - as vendas para os governos - que ganharam fôlego com a parceria
com a ONG Ação Educativa, especialmente na área de educação para jovens
e adultos. História. Com sede num casarão
impressionante na Liberdade (a casa, que foi de Ramos de Azevedo,
célebre arquiteto paulistano da belle époque, é definida por Luiz Alves
como a mais bela sede de editora do mundo), a Global tem hoje 92
funcionários e é comandada pela família Alves. Jefferson, filho mais
velho, chefia a área editorial, e Richard, o mais novo, o comercial, na
gestão profissionalizada que hoje dá os rumos da empresa. Em 2011, por
exigência do mercado e questão de sobrevivência, a empresa
profissionalizou a gestão, contratou mais profissionais e pavimentou a
fase mais recente da editora.
“O livro é um bom negócio”, sentencia Luiz Alves Junior, que recebeu o Estado
para uma conversa na sede da editora. Não tem como dizer que não é a
voz da experiência: padeiro de formação, o espírito empreender o levou
ao negócio do livro: primeiro como distribuidor na Farmalivros (que
começou levando livros para farmácias e passou, também, por
supermercados e postos de gasolina, antes de chegar aos táxis que
levaram Drummond para passear em São Paulo), depois já como diretor
comercial da Distribuidora e Editora Global. Para os céticos, ressalva
que o trabalho, claro, tem que ser sério e é árduo. Mas, ainda assim, um
bom negócio. “Sempre acreditei que o livro era um bom negócio, tanto
pela satisfação interior, quanto pelo bolso: dá dinheiro”, garante.
Fundada em 1973 com o sócio moçambicano José Carlos
Venâncio, a Global só viu Alves Junior assumir a parte editorial da
empresa dez anos depois, quando o sócio teve que sair. Alves Junior
continuou o legado: livros socialistas, como o livro vermelho de Mao-tsé
Tung, mas também as coleções iniciadas por Edla Van Steen (como a
Melhores Contos e Melhores Poemas). “Resolvi conhecer os autores, e me
dei bem”, diz, lembrando que não possuía experiência na área ou formação
especializada.
Trabalhar com a Codecri, então editora de O Pasquim,
ajudou. Alves Junior conta que os autores começaram a notar a Global
quando distribuía o jornal nos anos 1970. Quando precisou, a
visibilidade existia. Entre os primeiros autores editados por Alves
Junior, estão João Carlos Marinho (best-seller do gênero policial),
Sidónio Muralha (português que se exilou em Curitiba), Cora Coralina,
Câmara Cascudo e Adelaide Carraro.
Os contemporâneos foram se tornando clássicos e a
verve do comerciante marcou a atuação da Global até o fim do século 20.
Desde os anos 2000, a Global investe na coleção que Luiz Alves Junior
chama de Joias da Coroa. É a própria seleção brasileira convocada por
ele: entre os “atletas”, Gilberto Freyre, Cecília Meireles, Marcos Rey.
Todos exclusivos da editora. E o próximo reforço não fica devendo nada:
as negociações estão avançadas para Rubem Braga integrar, de maneira
definitiva, o catálogo da Global. Luiz Alves Junior na sede da editora Global, no bairro da Liberdade, região central de São PauloAmanda Perobelli/Estadão
O time começou quando Alves Junior participou de um
leilão promovido pela Fundação Gilberto Freyre para editar as obras do
sociólogo. Diz ter feito a pior proposta financeira, mas a melhor
proposta de trabalho. Ganhou. “Percebi que tínhamos que atacar esse
nicho, o de autores nacionais.” Quis criar um time de futebol, passou a
ter também os reservas. Camisa, para ele, sem dúvida não falta.
Edição da Nova Aguilar é “prêmio”
A editora Nova Aguilar abriu as portas, no Rio, em
1950 e nos anos 1970 passou ao comando da família Lacerda, primeiro
Carlos, depois Sebastião. Em 2007, o grupo Ediouro começou a administrar
a editora, porém, depois de impasses, a empresa voltou às mãos do
antigo dono. A editora se destacou pelas edições luxuosas de
papel-bíblia e capa dura, como a obra completa de Machado de Assis. Em
2007, Ferreira Gullar, um dos autores que têm a poesia completa
publicada pela Nova Aguilar, disse ao ‘Estado’ estar “honrado”. “Quando
eu era garoto, jamais imaginei que chegaria tão longe”, disse Gullar
sobre a publicação. / G.S.
Números
3,9 milhões de exemplares foram vendidos pela editora
Global em 2013, que para este ano prevê um faturamento total de R$ 85
milhões com seus 1,7 mil títulos de catálogo.
92 funcionários trabalham no Grupo Editorial Global,
que também agrupa os selos Gaudí - que vai muito bem nos editais do
governo -, Gaia e agora, também, a tradicional Editora Nova Aguilar.
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