Resposta a Nitigon-ama

(Nitigon-ama Gozen Gohenji, pág. 1262)

No dia 8 de novembro de 1280, coloquei diante do Sutra de Lótus a prece escrita na qual a senhora, Nitigon-ama, expressa a sua oração, juntamente com seus oferecimentos de um kan de moedas e um robe sem forro feito de fios de fibra de casca de árvore, e relatei o assunto aos deuses do Sol e da Lua. Além disso, a senhora não deve presumir que compreenda a profundidade (dos benefícios do Gohonzon). O fato de a sua oração ser ou não ser respondida depende da sua fé; (e caso não o seja), a culpa não está , de modo algum, em mim, Nitiren.
Quando a água é límpida, a lua se reflete nela. Quando o vento sopra, as árvores balançam. A mente de uma pessoa é como a água. A fé fraca é como a água lamacenta, e a fé resoluta é como a água límpida. As árvores são como os princípios (de todas as coisas), e o vento que as coloca em movimento é como a recitação do sutra. Deve entender os fatos deste modo.
Com meu profundo respeito,
Nitiren.

Em 29 de novembro de 1280.
EDN Vol. VI, pág.95


Postado por BELAS HISTORIAS BUDISTAS

O Sabor Salgado Universal

(Doitsu Shioaji Gosho – Pág.1447)

Há seis espécies de sabor: o primeiro é suave, o segundo é salgado, o terceiro é acre, o quarto é azedo, o quinto é doce e o sexto é amargo. Mesmo que o senhor prepare um suntuoso banquete com cem diferentes pratos, ele não será adequado como banquete para um grande rei se faltar o único sabor do sal. Mesmo o prato mais extraordinário de todas as terras e mares será insípido se não contiver sal.
O oceano tem oito qualidades misteriosas. Primeiro, o oceano torna-se gradualmente mais profundo. Segundo, sua profundidade é demasiadamente grande para ser imaginada. Terceiro, seu gosto é salgado é o mesmo em todos os lugares. Quarto, sua maré flui e reflui regularmente. Quinto, ele abriga muitos tesouros. Sexto, os seres vivos muito desenvolvidos residem nele. Sétimo, o oceano livra-se de todos os cadáveres. Oitavo, embora ele absorva todos os rios e grandes tempestades, seu volume não aumenta, nem diminui.
A primeira qualidade, ‘o oceano torna-se gradualmente profundo’, indica figurativamente que o Sutra de Lótus gradualmente leva todas as pessoas, desde os mortais comuns desprovidos de conhecimento até os sábios possuidores de conhecimento, a alcançarem o caminho do Estado de Buda. ‘Sua profundidade é demasiadamente grande para ser imaginada’, indica que o campo do Sutra de Lótus pode ser compreendido e compartilhado somente entre Budas; os bodhisattvas no estágio de togaku ou abaixo não tem possibilidade de conseguí-lo. Quanto à qualidade ‘seu gosto salgado é o mesmo em todos os lugares’, indica que todos os rios, que não contém sal, são comparáveis aos sutras diferentes do Sutra de Lótus, e não possibilitam a ninguém atingir a iluminação. Assim como a água de todos os rios acaba fluindo para o oceano tornando-se salada, os homens das mais diferentes capacidades, instruídos através dos vários ensinos provisórios, tornam-se capazes de alcançar o caminho do Estado de Buda através da fé no Sutra de Lótus. ‘Sua maré flui e reflui regularmente’ indica que todos os que abraçam a Lei Mística certamente alcançarão o estágio da não-regressão, mesmo que percam suas vidas. ‘Ele abriga muitos tesouros’ significa que as práticas e ações virtuosas de todos os Budas e bodhisattvas, assim como os benefícios dos paramitas, estão todos contidos dentro da Lei Mística. Quanto à qualidade ‘seres vivos muito desenvolvidos vivem nele’, Os Budas e bodhisattvas são aqui referidos como ‘seres vivos muito desenvolvidos’ porque possuem grande sabedoria. O grande desenvolvimento, a grande mente aspiradora, as grandes características extraordinárias, as grandes forças que derrotam o mal, a grande pregação, a grande autoridade, os grandes poderes ocultos, e a grande benevolência desses Budas e bodhisattvas – originam-se do Sutra de Lótus. ‘O oceano livra-se de todos os cadáveres’ significa, que através do Sutra de Lótus, uma pessoa pode livrar-se por toda a eternidade da ofensa de caluniar a Lei ou possuir descrença incorrigível. A oitava qualidade, ‘Seu volume não aumenta, nem diminui’ significa que a alma do Sutra de Lótus é o ensino segundo o qual todas as pessoas possuem igualmente a natureza do Buda. A salmoura, numa tina ou pote de uvas conservada em sal, flui e reflui exatamente de acordo com a maré do oceano. Um devoto do Sutra de Lótus submetido ao aprisionamento é como o sal da tina ou do pote, ao passo que o Buda Sakyamuni, que livrou-se da casa em chamas, é como o sal do oceano. Aprisionar um devoto do Sutra de Lótus é aprisionar o próprio Buda Sakyamuni. Como devem estar impressionados Bonten, Taishaku e os Quatro Reis Celestes ao presenciarem isso ! As Dez Deusas juraram punir aquele que perseguisse o devoto do Sutra de Lótus, partindo sua cabeça em sete partes. Quando será cumprido esse juramento, se não for agora !
Chagas virulentas abriram-se repentinamente em todo o corpo do rei Ajatashatsu, que havia aprisionado o rei Bimbisara. Como pode aquele que aprisiona um devoto do Sutra de Lótus evitar o sofrimento de ter o corpo todo aberto em chagas ?

Nitiren

Fundo de Cena

Não se conhece a data e o recebedor deste Gosho, e as razões que o levaram a ser escrito são também incertas, por falta de documentação confiável. Nitiren Daishonin poderia ter escrito este Gosho numa época em que seus discípulos estariam enfrentando perseguições, conforme indicam as afirmações: “Um devoto do Sutra de Lótus submetido ao aprisionamento” ou “aquele que aprisiona um devoto do Sutra de Lótus…” Existem diversos pontos de vista no tocante ao ano que foi escrito. Segundo um deles, teria sido em 1261, quando Daishonin foi exilado a Izu; segundo outro, em 1271, quando foi exilado à ilha de Sado; e, de acordo com um terceiro, em 1279, quando perseguições atingiram seus seguidores em Atsuhara. Dentre todas, 1261 parece ser a data mais provável.
Este Gosho consta de três seções. Na seção de abertura, Nitiren Daishonin afirma que há seis espécies de sabores, dos quais o do sal é o mais importante. Sem o sal, qualquer alimento perderia seu gosto. Através desta metáfora, Daishonin mostra que todos os sutras somente adquirem seus verdadeiros significados uando baseados na verdade revelada no Sutra de Lótus. Na segunda seção, ele cita as oito qualidades místicas do oceano enumeradas no Sutra do Nirvana, a fim de ilustrar as esplêndidas caracteristicas do Sutra de Lótus.
Na seção final, Daishonin compara o sal contido num pote ou tina de uvas conservadas em sal ao seguidor do Sutra de Lótus, e compara o sal do oceano ao Buda Sakyamuni. O sal do pote ou da tina constituía originalmente parte do oceano. Assim, a salmoura desse pote ou tina flui e reflui exatamente como o oceano e, analogamente, aprisionar um devoto do Sutra de Lótus é o mesmo que aprisionar o próprio Buda Sakyamuni. Daishonin proclama que aqueles que perseguem os devotos do Sutra de Lótus estão destinados a receber punições através das mãos dos deuses celestes. Em contraste, os que abraçam a Lei Mística podem no final atingir o Estado de Buda como mortais comuns, mesmo que encontrem sofrimentos.


Postado por BELAS HISTORIAS BUDISTAS

O Rico Sudatta

(Ueno Dono Gohenji, págs. 1574 e 1575)

Recebi o seu oferecimento de um kan de moedas. Por ter demonstrado tal sinceridade, estou lhe dizendo o seguinte. Não deve pensar que eu seja um sacerdote ganancioso.
Há um caminho para se tornar um Buda facilmente, e ensinarei ao senhor. Ensinar algo a uma outra pessoa é como lubrificar as rodas de uma pesada carroça para que estas girem, ou como colocar um barco na água para fazê-lo flutuar sem dificuldade. O caminho para se tornar um buda facilmente não é nada extraordinário. É, por exemplo, dar água a uma pessoa com sede em tempo de seca ou proporcionar fogo para alguém congelando no frio. Ou, ainda é, conceder a uma outra pessoa algo insubstituível: quando a própria vida está para ser extinta por falta de alguma coisa, a pessoa oferece exatamente esse algo como donativo a um outro.
Houve certa vez um governante chamado Rei Konjiki. Seu país foi, durante doze anos, atormentado por uma grande seca, e um número incontável de pessoas morreram de fome. Nos rios, cadáveres se empilhavam como pontes, e, na terra, esqueletos se acumulavam como oiteiros de sepulcro. Naquele tempo, o Rei Konjiki concebeu uma grande aspiração à iluminação (para salvar o povo) e distribuiu uma grande quantidade de donativos. Ele cedeu tudo o que podia, até restarem apenas cinco meras medidas de arroz em sua despensa. Quando seus ministros o informaram de que isto o iria alimentar durante um único dia, o grande rei pegou as cinco medidas de arroz e a cada um de seus súditos famintos deu um grão, dois grãos, três grãos ou quatro grãos, distribuindo-os, dessa maneira, a todos. Então, ele voltou-se para o céu e bradou que morreria de fome no lugar do povo, tomando para si a dor da fome e sede deles. O céu escutou-o e imediatamente enviou-lhe a doce chuva da imortalidade. Quando essa chuva tocava os corpos ou caía sobre as faces das pessoas, a fome dela era satisfeita e, no espaço de um momento, todos os habitantes do país foram revivificados.
Na Índia, houve uma pessoa chamada Sudatta. Sete vezes ele ficou reduzido à pobreza, e sete vezes ele tornou-se um homem rico. Durante esse último período de privação, as pessoas (da cidade) haviam todas fugido ou perecido, até que sobraram apenas ele e sua esposa. Eles tinham somente cinco medidas de arroz, suficientes para se manterem por cinco dias. Nessa ocasião, cinco pessoas – Mahakashyapa, Shariputra, Ananda, Rahula e o Buda Sakyamuni – vieram, revezando-se para pedir donativos e receberam as cinco medidas de arroz. Daquele dia em diante, Sudatta tornou-se o homem mais rico em toda a Índia e construiu o Monastério Jetavana. Deve entender todas as situações similares a partir desses exemplos.
O senhor já se assemelha ao devoto do Sutra de Lótus, assim como um macaco se parece com o homem ou um bolinho de arroz lembra a lua. Por ter protegido tão intensamente as pessoas de Atsuhara, as pessoas deste país o consideram um traidor, como Masakado da era Shohei (931-938) ou Sadato da era Tengui (1053-1058). Isto ocorre unicamente porque o senhor entregou a sua vida ao Sutra de Lótus. O céu, de forma alguma, o considera um homem que traiu o seu lorde. Além disso, a sua pequena vila tem sido pesadamente tributada e o povo dela tem sido, repetidamente, submetido ao trabalho forçado, até o ponto de o senhor próprio não possuir nenhum cavalo para montar, e sua esposa e filhos carecem de roupas. Entretanto, apesar de sua própria pobreza, o senhor sentiu compaixão pelo devoto do Sutra de Lótus, pensando que ele deveria estar cercado pela neve nas profundezas das montanhas e necessitando de alimento. Assim, o senhor enviou-me um kan de moedas. O seu oferecimento é como o da mulher pobre que deu a um pedinte o único manto, que ela e seu marido dividiam, ou como o de Rida, que cedeu o painço de seu jarro a um pratyekabuddha. Quão admirável ! Falarei a respeito em maiores detalhes posteriormente.
Com meu profundo respeito,
NitirenEm 27 de dezembro de 1280.(END- Vol.VI, pág.185)

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu este Gosho no Monte Minobu, no inverno de 1280, para Nanjo Tokimitsu, o jovem administrador da Vila Ueno na província de Suruga que era seu discípulo desde a infância. A partir da época em que Nitiren Daishonin veio a morar em Minobu, Tokimitsu tornou-se especialmente próximo de Nikko Shonin e apoiou os seus esforços de propagação na área Fuji. Durante a perseguição de Atsuhara, ele usou a sua influência para proteger os outros praticantes, abrigando alguns em sua própria casa e intervindo a favor da libertação daqueles que haviam sido presos. Nitiren Daishonin homenageou-o pela sua coragem denominando-o Ueno, o sábio, apesar de o rapaz mal ter vinte anos na época.
Este Gosho foi escrito no ano seguinte do clímax da Perseguição de Atsuhara. Naquela oportunidade as autoridades de Kamakura, em retaliação ao apoio de Tokimitsu aos seguidores de Nitiren Daishonin, impôs difíceis taxas punitivas à sua propriedade e exigiu que ele fornecesse homens para trabalho não pago. Entretanto, a despeito de sua própria pobreza, a primeira preocupação de Tokimitsu era com relação à Nitiren Daishonin, e, de alguma maneira, ele conseguiu enviar-lhe um kan de moedas. Profundamente comovido, Nitiren Daishonin escreveu-lhe esta carta, em resposta. Na primeira parte, ele louva o espírito de doação como uma causa que conduz à iluminação e explana dois tipos de oferecimentos. No primeiro caso, oferece-se a pessoa aquilo de que ela mais necessita. No segundo, dá-se a outra pessoa algo essencial a ela, embora o doador em si possa ter somente um item do mesmo, e não possa sustentar a sua vida sem isso. O espírito subjacente a tal ato é o da disposição de oferecer a própria vida, uma postura fundamental da fé.
Na parte seguinte, citando os exemplos do Rei Konjiki e do mercador Sudatta, cujo nome deu título ao Gosho, Nitiren Daishonin reafirma que o sincero espírito de dedicação expresso nos oferecimentos de Tokimitsu constitui o caminho direto para o estado de Buda e produzirá benefícios insondáveis.


As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos

Postado por BELAS HISTORIAS BUDISTAS

O Remédio Benéfico para todas as Doenças

(Myoshin-ama Gozen Gohenji, pág. 1479 a 1480)

Recebi o seu presente de duas cestas de caqui curtido e uma cesta de berinjelas. Com respeito à doença do sacerdote leigo, seu marido: na China existiram os médicos chamados Huang Ti e Pien Chueh, e na Índia houve os doutores Jisui e Jivaka. Esses homens foram, cada qual, os tesouros de sua época e mestres dos médicos das épocas posteriores. Entretanto, eles jamais poderiam ser comparados à pessoa chamada Buda, um médico sem par. Esse Buda revelou o remédio da imortalidade: os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo. Além disso, ele ensinou que esses cinco caracteres são o ‘remédio benéfico para as doenças de todas as pessoas de Jambudvipa.
O seu marido é uma pessoa do Japão, que está contido dentro de Jambudvipa, e agora sofre de um mal corporal. Contudo, a passagem do Sutra de refere claramente ao remédio benéfico para todas as doenças. Ademais, esse Sutra de Lótus é o maior de todos os remédios. Um soberano perverso chamado Rei Virudhaka matou mais de quinhentas mulheres do clã do Buda, e em consequência disso o Buda enviou a seu discípulo Ananda ao Pico da Águia para obter a flor de lótus azul. Quando ele encostou nos corpos das mulheres, elas retornaram à vida, e depois de uma semana, renasceram no Céu Trayastrimsha. Pelo fato de a flor denominada lótus ser dotada de tão esplêndida virtude, o Buda comparou-a à Lei Mística.
A morte de uma pessoa não ocorre necessariamente através de uma doença. Em nossa própria época, as pessoas de Iki e Tsushima, embora não sofressem de algum mal, foram todas massacradas pelos mongóis de uma só vez. Do mesmo modo, essa doença de seu marido não implica necessariamente em morte. Agora, essa doença de seu marido pode ser devido ao desígnio do Buda, pois tanto o Sutra Vimalakirti como o Nirvana falam de pessoas doentes atingindo o estado de Buda. Da doença surge a mente que busca o caminho.
Entre todas as doenças, os cinco pecados cardeais, a descrença incorrigível do icchantika e a calúnia à Lei são as graves moléstias que essencialmente afligiam o Buda. As pessoas do Japão de hoje, sem nenhuma exceção, afligem-se com a mais séria de todas as doenças, o grave mal da grande calúnia. Refiro-me aos seguidores das seitas Zen, Nembutsu e Ritsu, e aos mestres da Shingon. Precisamente pelo fato de a doença dele ser tão séria, eles próprios não a reconhecem nem os outros têm consciência dela. E, como este mal está piorando, guerreiros de todos os quatro mares atacarão a qualquer momento e o soberano, seus ministros e o povo, serão todos destruídos. Ver isto com os seus próprios olhos é realmente algo doloroso.
Em sua vida presente, o sacerdote leigo, seu marido, não parece ter tido uma fé particularmente forte no Sutra de Lótus. Porém, agora que as forças do carma acumulado no passado o levaram a sofrer essa longa enfermidade, ele busca o Caminho dia e noite sem parar. Quaisquer ofensas menores que ele possa ter cometido nesta existência já devem ter sido, seguramente, erradicadas, e em virtude de sua dedicação ao Sutra de Lótus, o grande mal de sua calúnia no passado também será dissipado. Se ele tivesse de ir nesse instante ao Pico da Águia, sentiria uma alegria tão grande quanto se o sol tivesse surgido e iluminado todas as dez direções, e ele se veria muito contente, pensando como uma morte prematura poderia ser algo tão feliz. Não obstante o que possa acontecer a ele na estrada entre esta vida e a próxima, ele deve declarar-se um discípulo de Nitiren. Fazendo uma analogia, embora o Japão seja um pequeno país, se alguém simplesmente anunciar que é um vassalo do lorde de Sagami, merecerá inquestionável reverência. Eu, Nitiren, sou o sacerdote mais recalcitrante no Japão, mas com respeito à minha fé no Sutra de Lótus, sou o sábio mais importante do mundo inteiro. O meu nome alcançou as terras puras das dez direções, e o céu e a terra com certeza sabem disso. Se o seu marido declarar que é discípulo de Nitiren, nenhum demônio mau provavelmente poderá clamar ignorância sobre o nome.
Não tenho palavras para expressar meus agradecimentos por sua sinceridade em enviar oferecimentos em muitas ocasiões.
Com meu profundo respeito
Os macacos contam com as árvores, e os peixes dependem da água. A senhora, como mulher, depende do seu marido. Por não desejar se separar dele, a senhora tosou seus cabelos e tingiu de preto as mangas do seu robe. Como o Buda das dez direções poderiam não sentir pena da senhora ? Nem o Sutra de Lótus jamais poderia abandoná-la. Acreditando nisto, deve confiar-se ao mesmo.
Nitiren,
Em 16 de agosto

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta no Monte Minobu a Myoshin-ama, incentivando-a em vista da enfermidade crítica de seu marido. Acredita-se geralmente que tenha sido redigida em 1278. Detalhes sobre Myoshin-ama não são claros. Uma interpretação a identifica como a esposa de Takahashi Rokuro Hyoe Nyudo, o que a tornaria uma tia de Nikko Shonin. Outras teorias também foram sugeridas. De qualquer forma, ela morava no distrito Fuji, na província de Suruga e tinha se tornado uma seguidora de Nitiren Daishonin. A doença prolongada do marido a levou a tomar os votos como uma freira budista. O marido dela, no final, faleceu dessa doença, deixando sua esposa com uma criança pequena. Myoshin-ama manteve a sua fé após a morte de seu marido e visitou com frequência Nitiren Daishonin no Monte Minobu para levar-lhe oferecimentos.
Nesta carta, respondendo ao relato de Myoshin-ama sobre a enfermidade do seu marido, Nitiren Daishonin cita uma passagem do capítulo Yakuo do Sutra de Lótus: "Este Sutra é o remédio benéfico para as doenças de todas as pessoas de Jambudvipa", e declara que nenhum remédio supera os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo. Este pode curar não somente os males físicos, mas também a muito mais séria calúnia contra a Lei Mística. Ele também encoraja Myoshin-ama a ver a doença de seu marido como uma manifestação da benevolência do Buda, pois o habilitou a despertar uma determinação que ele anteriormente não possuía. Nitiren Daishonin explica que por causa da sinceridade da fé recentemente despertada por seu marido, ele certamente conseguirá erradicar o mau carma de seus delitos, e mesmo que ele estivesse para morrer agora, iria experimentar a ilimitada alegria da Lei que transcende tanto a vida como a morte. Em seguida, Nitiren Daishonin prossegue, se ele for desafiado por qualquer coisa ameaçadora ou terrível em sua jornada entre a morte e o renascimento, deve simplesmente declarar que é discípulo de Nitiren, e com certeza será protegido. Nitiren Daishonin conclui louvando calorosamente Myoshin-ama por sua fé e reafirmando-lhe a proteção do Sutra de Lótus.

As mais Belas Histórias BudistasEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san

Postado por BELAS HISTORIAS BUDISTAS

O Recebimento de Novos Feudos

(Shijo Kingo Dono Gohenji, págs. 1183-1184)

Recebi um kan de moedas. Então, seu lorde concedeu-lhes novos feudos! Nem parece verdade; isso é tão surpreendente que fico pensando se não se trata de um sonho. Nem sei o que dizer.
Isso se deve ao fato de as pessoas de todo o Japão e também de Kamakura, mesmo as que estão a serviço de seu lorde, inclusive os descendentes do clã dele, desaprovarem a sua crença no ensino de Nitiren.
Sua fé contínua parecia incompreensível. O simples fato de ter tido permissão para permanecer no clã de seu lorde já foi motivo de espanto. Além disso, sempre que seu lorde lhe oferecia a concessão de uma nova propriedade, o senhor invariavelmente recusava-se a aceitá-la. Como deve ter parecido estranha aos seus colegas samurais essa sua recusa, como deve ter soado insultuosa ao seu lorde !
Sendo esse o caso, estava ansioso em saber como o senhor estaria passando superando essa época, e, além disso, soube que dezenas de seus colegas de clã fizeram calúnias a seu respeito para o seu lorde. Portanto, pensei que provavelmente não poderia obter um feudo; a gravidade de sua situação parecia opressiva. Além disso, até seus próprios irmãos o abandonaram. E, no entanto, apesar de tudo isso, foi-lhe concedido tal obséquio. Nenhuma honra poderia ser maior do que essa.
O senhor conta que seus novos domínios ocupam uma área três vezes maior do que Tono'oka. Há um homem da província de Sado que se encontra aqui (em Minobu) e que conhece totalmente essa área. Ele diz que, das três vilas, a chamada Ikada é de primeira categoria. Embora os campos e arrozais possam ser poucos, os lucros são imensos. Dois dos feudos rendem cada um, anualmente, um colheita equivalente a mil kan, e o terceiro, trezentos kan. Esses são os méritos, afirma ele, de suas propriedades.
De qualquer modo, o senhor foi abandonado pelos seus colegas samurais bem como pelas pessoas próximas, e eles riram a sua custa. Sob tais circunstâncias, uma carta oficial conferindo-lhe qualquer espécie de feudo, ainda que fosse inferior a Tono'oka, teria sido bem-vinda. Entretanto, conforme se verificou, seus novos domínios, combinados, são três vezes maiores (do que Tono'oka). Não obstante o quanto essas propriedades possam se mostrar pobres, não se deve queixar delas, nem aos outros, nem ao seu lorde. Se elogiá-las repetidamente dizendo que são terras excelentes, seu lorde poderá conceder-lhe ainda mais feudos. Porém, se referir-se a elas como terras pobres com uma produção escassa, certamente será abandonado tanto pelo Céu como pelos outros homens. Deve manter isto em mente.
O rei Ajatashatru foi um homem digno mas, por matar seu próprio pai, naquele exato momento, o céu deveria, por justiça, tê-lo abandonado, e a terra deveria ter-se aberto para engolí-lo. Contudo, por causa do mérito que seu pai, o rei assassinado, havia adquirido fazendo durante vários anos oferecimentos diários ao Buda, os quais compreendiam quinhentas cargas de carroças, e pelo mérito que ele próprio conquistaria mais tarde tornado-se protetor do Sutra de Lótus, o céu não o abandonou, nem a terra o engoliu. No final, em vez de cair no inferno, tornou-se um Buda.
O seu caso é semelhante ao dele. Foi abandonado pelos seus irmãos, hostilizado pelos seus colegas samurais, perseguido pelos descendentes do clã e odiado por todas as pessoas do Japão. Porém, no décimo-segundo dia do nono mês do oitavo ano de Bun'ei, entre as horas do Rato e do Boi (da meia-noite às 2 horas), quando eu, Nitiren, havia incorrido no desagrado das autoridades governamentais, o senhor acompanhou-me de Kamakura a Eti, na província de Sagami, segurando firmemente as rédeas do meu cavalo. Como o senhor provou ser o mais digno aliado do Sutra de Lótus em todo o mundo, Bonten e Taishaku sem dúvida não poderiam vir a abandoná-lo.
O mesmo se aplica com relação à consecução do estado de Buda. Não importando que graves ofensas possa ter cometido, por não ter ido contra o Sutra de Lótus e por ter mostrado sua devoção ao acompanhar-me, irá indubitavelmente tornar-se um Buda. O seu caso é como o do rei Utoku, que deu a própria vida para salvar o monge Kakutoku e tornou-se o Buda Sakyamuni. A fé no Sutra de Lótus atua como uma oração (para atingir o estado de Buda). Acima de tudo, fortaleça ainda mais seu espírito de procura pelo Caminho, de modo que possa alcançar o estado de Buda nesta existência.
Nunca aconteceu um fato mais oportuno a nenhum membro do clã de seu lorde, seja sacerdote ou leigo. Ao falar assim sobre o recebimento de novos feudos pode-se parecer demasiadamente interessado em desejos mundanos, mas para os mortais comuns os desejos são algo natural, e, além disso, existe um modo de tornar-se um Buda sem erradicá-los. O sutra Fuguen, numa passagem que explana o âmago do Sutra de Lótus, afirma: "Mesmo sem extinguir seus desejos mundanos ou negar os cinco desejos…". E o Makashikan do Grande Mestre Tientai diz: "Desejos mundanos são iluminação, os sofrimentos do nascimento e morte são nirvana". O Daitido Ron do Bodhisattva Nagarjuna, ao elucidar que o Sutra de Lótus ultrapassa todos os demais ensinos da existência do Buda, declara: "(O Sutra de Lótus é) como um grande médico que transforma o veneno em remédio". Isso significa que um médico de habilidade inferior pode curar males comuns com remédio, ao passo que um grande médico pode curar até mesmo doenças graves com veneno poderoso.
Nitiren,Em outubro de 1278.(END Vol. VI, pág. 253)

Fundo de Cena

Esta carta foi escrita no Monte Minobu para Shijo Kingo em outubro de 1278. Durante uma época, o lorde Ema, a quem Shijo Kingo servia, havia se oposto à crença de seu subordinado no Sutra de Lótus e atormentou-o de várias maneiras, por exemplo, ameaçando-o de transferência a uma província remota a menos que ele abandonasse a sua fé. Os colegas samurais de Kingo também o tratavam com hostilidade, e por algum tempo esteve a ponto de ser deposto do clã e de perder por completo seu sustento. Kingo suportou vários anos de adversidades até 1277, quando suas circunstâncias mudaram para melhor graças ao fato de, em sua posição de médico, ter conseguido curar o lorde Ema de uma doença grave. Por volta de janeiro de 1278 ele pôde acompanhar o lorde numa missão oficial. Em outubro, quando esta carta foi escrita, Kingo recebeu não menos que três novos feudos.
Contudo, pelo conteúdo deste Gosho, parece que ele não estava totalmente satisfeito com essa avassalação. Acredita-se que as propriedades que recebera localizavam-se na Ilha de Sado ou, de qualquer modo, numa região remota, o que pode ter-lhe causado descontentamento. Nesta carta, Nitiren Daishonin admoesta-o contra qualquer sentimento de queixa e recomenda-lhe que aprecie o fato de as circunstâncias estarem, agora, começando a ficar a seu favor.


As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos
Postado por BELAS HISTORIAS BUDISTAS

O Portão do Dragão

(Ueno Dono Gohenji – Págs. 1560 a 1561)

Na China há uma cachoeira chamada Portão do Dragão. Suas águas precipitam-se de uma altura de mais de trinta metros e são mais velozes que uma flecha atirada por um forte arqueiro. Afirma-se que milhares de carpas reúnem-se na bacia abaixo esperando subir as cataratas, pois aquela que conseguisse esse intento transformar-se-ia num dragão. Contudo, nem uma única carpa em cem, mil, ou mesmo dez mil, consegue escalar a queda d’água, nem após dez ou vinte anos. Algumas são arrastadas pelas correntes intensas, algumas caem presas de águias, falcões, milhafres e corujas, e outras são presas em redes, ou até mesmo atingidas pelas flechas de pescadores que se alinham em cada uma das margens da vasta cachoeira. Tal é a dificuldade que uma carpa enfrenta para se tornar um dragão.
Houve, certa vez, dois importantes clãs guerreiros no Japão – Minamoto e Taira. Eles eram como dois fiéis cães de guarda nos portões do Palácio Imperial. Eles eram tão ansiosos para proteger o imperador quanto um lenhador o é para admirar a lua cheia quando esta surge detrás das montanhas. Eles maravilhavam-se com as festas elegantes dos nobres da corte e suas damas, assim como os macacos das árvores se enlevam com a visão da lua e estrelas brilhando no céu. Embora fossem de classe inferior, eles almejavam encontrar algum modo de misturarem-se nos círculos da corte. Porém, embora Sadamori do clã Taira tenha dominado a rebelião de Masakado, ainda assim não foi admitido para a corte. Nenhum de seus descendentes, incluindo o famoso Masamori, o foi. Nunca até a época do filho de Masanori, Tadamori, nenhum membro do clã Taira teve permissão para entrar para a corte. Na linhagem seguinte, Kiyomori, e seu filho Shiguemori, não somente desfrutaram a vida entre os nobres da corte, mas também se tornaram diretamente relacionados com o trono quando a filha Kiyomori casou-se com o imperador e teve um filho com ele.
Atingir o Estado de Buda não é mais fácil que homens de posição inferior penetrarem nos círculos da corte ou carpas escalarem o Portão do Dragão. Shariputra, por exemplo, praticou austeridades de bodhisattva durante sessenta aeons para atingir o Estado de Buda, mas no final, rendeu-se aos obstáculos e caiu novamente nos caminhos dos dois veículos. Até mesmo alguns daqueles ensinados por Sakyamuni, quando ele foi o décimo-sexto filho do Buda Daitsu, caíram no mundo dos sofrimentos durante um período de sanzen jintengo. Alguns outros ensinados por ele no passado remoto, quando atingiu a iluminação pela primeira vez, sofreram por um período de gohyaku jintengo. Todas estas pessoas praticaram o Sutra de Lótus, mas, quando perseguidas pelo Demônio do Sexto Céu na forma de seus soberanos ou outras autoridades, abandonaram sua fé e, deste modo, vagaram entre os seis caminhos por incontáveis aeons.
Até o presente momento, esses eventos pareciam não ter nenhuma relação conosco. Contudo, agora nos encontramos enfrentando o mesmo tipo de perseguição. Haja o que houver, todos os meus discípulos devem alimentar o grande desejo de atingir a iluminação. Somos realmente afortunados de estarmos vivos após devastadoras epidemias que ocorreram no ano passado e retrasado. Porém, agora com a iminente invasão mongol, parece que poucos sobreviverão. No final, ninguém pode escapar da morte. Os sofrimentos na época da invasão não são piores do que aqueles que qualquer um dos casos, deve estar disposto a oferecer sua vida pelo Sutra de Lótus. Pense nesse oferecimento como uma gota de orvalho reunindo-se ao oceano ou uma partícula de areia retornando à terra. Uma passagem do sétimo capítulo do Sutra de Lótus diz: "O nosso desejo é compartilhar esses benefícios igualmente com todas as pessoas, e nós, juntos com elas, atingiremos o Estado de Buda".
Com profundo respeito
Nitiren
Em 6 de novembro de 1279
Pós-escrito:
Escrevi esta carta em profunda gratidão pelo encorajamento que o senhor está oferecendo àqueles envolvidos na perseguição de Atsuhara.

Fundo de Cena

Nitiren Daishonin escreveu esta carta em 6 de novembro de 1279, quando contava com 58 anos de idade e vivia no monte Minobu. O recebedor desta carta, Nanjo Tokimitsu (1259-1332), era o administrador da vila de Ueno, na província de Suruga, na área do Monte Fuji. Portanto, ele, algumas vezes, é referido como Lorde Ueno. Embora estivesse com apenas vinte anos na época em que este gosho foi escrito, as mortes prematuras do seu pai e irmão mais velho já haviam colocado sobre seus ombros a responsabilidade de cargo hereditário de administrador. Praticante desde a infância, ele foi um pilar para os seguidores de Nitiren Daishonin da área de Fuji e auxiliou sinceramente os esforços de propagação de Nikko Shonin, a quem ele respeitava e acatava grandemente.
Quando Nitiren Daishonin retirou-se para o Monte Minobu, Nikko Shonin assumiu a liderança ativa da campanha de propagação, concentrando o seu empenho na área ao redor do Monte Fuji. Não demorou muito até que o seu notável sucesso em conseguir conversões nessa área começasse a alarmar as autoridades locais. A partir de 1278, uma série de ameaças e atos violentos contra os praticantes aconteceram no vilarejo vizinho, Atsuhara, no Distrito Fuji. Esses incidentes, coletivamente conhecidos como Perseguição de Atsuhara, culminara na prisão ilícita de vinte praticantes leigos em 21 de setembro de 1279, e na execução de três deles em 15 de outubro, aproximadamente três semanas antes desta carta ser escrita. Durante este período tenso, Tokimitsu exerceu todos os esforços possíveis para proteger seus companheiros, escondendo alguns deles em sua casa e empenhando-se para a libertação daqueles que haviam sido presos. O pós-escrito deste gosho: "Escrevi esta carta em profunda gratidão pelo encorajamento que o senhor está oferecendo aqueles envolvidos na perseguição de Atsuhara", louva a atitude corajosa do jovem na ocasião.
Como administrador de uma vila, Tokimitsu estava diretamente a serviço do governo militar de Kamakura, cujas autoridades olhavam com desaprovação o seu apoio aos seguidores de Nitiren Daishonin. Eles fizeram represálias, impondo pesadas taxas punitivas à sua propriedade. A uma certa altura, ele não podia nem mesmo manter um cavalo – uma necessidade virtual para um oficial samurai – e sua esposa. Myoren, e seus filhos não possuíam roupas adequadas. Entretanto, o casal jamais vacilou em sua dedicação, continuando a enviar a Daishonin quaisquer provisões que lhe fossem possíveis, apesar das circunstâncias limitadas. Em anos posteriores, Nanjo Tokimitsu prosperou e doou a Nikko Shonin o trecho de terra chamado Oishigahara.
Vendo que os vinte praticantes camponeses de Atsuhara estavam dispostos a dar sua vida se necessário fosse, ao invés de negar sua fé, Nitiren Daishonin percebeu que um número suficiente de praticantes já possuía uma convicção sólida o bastante para que ele finalmente cumprisse o seu propósito máximo, o que ele efetuou em 12 de outubro de 1279, inscrevendo o Dai-Gohonzon como objeto de adoração para se atingir o estado de Buda nos Últimos Dias da Lei. Vinte e sete anos de provações e sofrimentos, que se iniciaram na ocasião em que Nitiren Daishonin declarou pela primeira vez o seu ensino de Nam-myoho-rengue-kyo, frutificaram naquele dia, e o acesso para o estado de buda foi assegurado para todas as pessoas desta época e do futuro.
Naquele tempo, o Japão enfrentava várias crises, tanto internas como externas. Durante os dois anos prévios, epidemias haviam assolado o país, deixando a morte em seu rastro, e agora o medo novamente tomava o povo, a medida que as notícias confirmavam os rumores de que o Grande Império Mongol logo tentaria uma segunda invasão. Em novembro de 1274, os exércitos de Klubai Khan haviam lançado uma esquadra de invasão maciça da Coréia contra as ilhas do sul do Japão, Iki e Tsushima. As fontes divergem quanto à proporção exata das força de ataque. Entretanto, indubitavelmente estava entre as maiores operações navais da antigüidade, envolvendo, provavelmente cerca de 450 navios carregando 15.000 tropas mongóis, e um número igual de marinheiros e auxiliares coreanos. Os mongóis estavam armados como bestas mortais que podiam alcançar 240 jardas e máquinas para atirar projéteis – a primeira experiência do Japão com a pólvora. Além disso, os oficiais mongóis possuíam longa prática em manobrar grandes corpos e tropas em formação, o que o Japão não possuía. Com relação a seus prisioneiros, os mongóis mostravam uma crueldade repugnante. Os japoneses resistiram corajosamente, mas somente uma tempestade inesperada, que levou a frota invasora a recuar ao mar, salvou-os do desastre.
Após cinco anos, chegaram notícias à nação de que uma segunda tentativa de invasão estava sendo preparada. Enquanto os proprietários de terras da principal ilha do sul, Kyushu, apressadamente erigiam fortificações de pedras, o governo de Kamakura recrutava soldados entre os seus vassalos e criados, enviando uma corrente de homens e equipamentos para o sul a fim de reforçar as guarnições de lá.
Além do temor geral da invasão, os seguidores de Nitiren Daishonin tinham uma razão mais específica para se preocuparem. O incidente de Atsuhara marcou a primeira ocasião em que a opressão dos oficiais do governo havia sido dirigida aos seguidores de Nitiren Daishonin, ao invés de meramente se dar como seguimento da perseguição voltada à sua pessoa. A execução do três mártires de Atsuhara, somada aos rumores inquietadores de que Nitiren Daishonin poderia ser exilado por uma terceira vez, sugeria que uma nova onda de perseguições das autoridades pudesse estar para irromper.
Através desta carta a Nanjo Tokimitso, um líder entre os praticantes, Nitiren Daishonin se refere diretamente as dúvidas e temores que provavelmente estavam atormentando seus seguidores. Ele enfatiza que aquele que determina dentro do seu coração a atingir o estado de Buda, com certeza, enfrentará grandes dificuldades. Uma vez que a morte é inevitável, ele diz, a pessoa deve dedicar a sua vida à busca da iluminação e devotar-se ao Sutra de Lótus. Agindo assim, ela conseguirá atingir o ilimitado e eterno estado de Buda.


As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos
Postado por BELAS HISTORIAS BUDISTAS

O Oferecimento de um Robe de Verão

(Sajiki Nyobo Gohenji – pág.1231)

A mulher é como a água que assume a forma de seu recipiente.
A mulher é como a flecha, que se ajusta ao arco.
A mulher é como o navio, que é guiado por seu leme. Portanto, a mulher tornar-se-á ladra se o seu marido for um ladrão, e ela tornar-se-á uma rainha se o seu marido for um rei. Se ele for um homem de virtude (que possui fé na Verdadeira Lei), ela tornar-se-á um buda. Não apenas nesta vida, mas também na próxima, a sua sina será determinada por seu marido.
Hyoe no Saemon é um devoto do Sutra de Lótus.
Pelo fato de ser a esposa dele, não obstante o que possa acontecer, o Buda a reconhecerá como uma mulher do Sutra de Lótus. Além disso, a senhora ativou a fé espontaneamente, e enviou-me este robe de verão em prol do Sutra de Lótus.
Há dois tipos de devotos do Sutra de Lótus: santos e mortais comuns. O santo despe-se de sua pele e usa-a para transcrever a palavra de um Sutra. Se o mortal comum oferece o seu único robe ao devoto do Sutra de Lótus, então, o Buda aceita-o como igual à pele que o santo removeu.
O seu robe de verão foi oferecido aos Budas dos 69.384 caracteres que compõem o Sutra de Lótus. Deste modo, equivale a 69.384 robes. E, como cada um desses 69.384 Budas abrangem todos os 69.834 caracteres do Sutra, é como se tivesse oferecido essa quantidade de robes a cada um deles. Para ilustrar, suponha um vale de mil ri quadrados coberto com espessa grama. Quando uma pequena centelha do tamanho de um feijão é colocada sobre uma simples folha de capim, o incêndio espalha-se por todo o campo num instante, fazendo irromper um imensurável e ilimitado lençol de fogo. O mesmo é o caso deste robe. Embora seja apenas um, foi oferecido aos Budas de todos os caracteres do Sutra de Lótus.
Esteja firmemente convicta de que os benefícios deste oferecimento estender-se-ão aos seus pais, seus avós e um número incontável de outras pessoas, a ainda o marido que a senhora ama com tanto afeto.
Nitiren
Vigésimo-quinto dia do quinto mês

Fundo de Cena

Em 25 de maio de 1275, Nitiren Daishonin escreveu esta carta, em Minobu, a Sajiki Nyobo, uma de suas seguidoras, que vivia em Kamakura. Afirma-se que Sajiki Nyobo tenha sido a esposa de Indo Saburo Zaemon Sukenobu, um irmão mais velho de Ben Ajari Nissho, um dos seis discípulos seniores de Nitiren Daishonin. Há pouquíssimos dados seguros a respeito dela.
Por volta da primavera, Sajiki Nyobo gentilmente confeccionou um robe para Nitiren Daishonin vestir no verão. Nessa época, ele estava morando num eremitério no isolamento do Monte Minobu, sofrendo muitas privações. Nesta carta, Nitiren Daishonin explana o significado e benefício do oferecimento, e elogia a fé nutrida por Sajiki Nyobo.
O parágrafo inicial reflete aspectos da sociedade feudal do Japão, na qual a mulher possuía pouca independência e sua sorte era amplamente determinada pelo marido. Nitiren Daishonin afirma que Sajiki Nyobo, por abraçar o Sutra de Lótus poderá atingir o estado de Buda. Contudo, o que ele mais louva, é a fé sincera que a moveu espontaneamente a oferecer-lhe um robe.
Em seguida, ele expõe dois tipos de devotos do Sutra de Lótus: santos, tais como os descritos nos sutras e mortais comuns. Apesar da expressão de dedicação dos dois possa diferir, os benefícios recebidos serão os mesmos. Finalmente, Nitiren Daishonin explica que uma vez que todos os Budas originam-se do Sutra de Lótus, o robe de Sajiki Nyobo, foi na realidade, oferecido a todos eles, e os benefícios dela serão, correspondentemente, grandes.


As mais Belas Histórias Budistas - As Escrituras de Nitiren DaishoninEndereço: http://www.vertex.com.br/users/san/goshos

Postado por BELAS HISTORIAS BUDISTAS

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog