Forte na adversidade, fraco na tranquilidade

Terceira Civilização, Edição 559, 14/03/2015, pág. 66 / Crônica
Nas montanhas nevadas do Himalaia vivia um pássaro chamado Kanku-cho.
O intenso frio da noite fazia o passarinho chorar. Ele tremia e lamentava sua falta de sorte por não ter um ninho para se abrigar. Daquele sofrimento nascia o solene juramento: “Amanhã, quando o Sol surgir, hei de construir meu ninho!”.
Ao amanhecer, à medida que os raios solares aqueciam o pássaro, ele não ia trabalhar. “Que mané ninho o quê?! O que eu quero é cantar”. E o “cantor” voava, pousando de galho em galho, fazendo festa. E o dia passava com pressa...
Com o cair da noite, o frio voltava e o pobre passarinho lamentava. Daquele mesmo sofrimento, nascia o solene juramento: “Amanhã, quando o Sol surgir, hei de construir meu ninho!”.
Nas reuniões para crianças do Grupo 2001, eu, enquanto comia pastel com guaraná, adorava ouvir a história desse passarinho danado.
Nossos responsáveis, aquela rapaziada educada e dedicada, preparava cartazes com desenhos para nos deixar alertas. O carinho das moças em nos servir e das senhoras em preparar o lanche aquecia meu coração a ponto de eu ter calor suficiente para enfrentar, sem ninho, o mais intenso frio do Himalaia.
Após a história, a reunião ficava séria, chegava a hora do diálogo. Em meio aos risinhos tímidos, eis que surgia o companheiro Joãozinho (como aquele espertinho das piadas) e fazia um comentário encrencado:
“O Kanku-cho está certo! Ele sofria o que tinha de sofrer e desfrutava o que existia para ser desfrutado. Não é isso que foi ensinado na reunião passada?”.
Por essa ninguém esperava. Foi um zum-zum-zum, a criançada ouriçada, os líderes conversavam entre si à boca pequena. Para nos salvar daquele enigma, só mesmo um Oráculo! E agora, quem poderia nos salvar?
Não foi o Chapolin, e sim, a sabedoria do nosso mestre. Alguém sacou aquele saudoso livrinho, o Guia Líder, e leu uma orientação certeira do presidente Ikeda.
O passarinho folgado se fazia de forte nas adversidades e era fraco na tranquilidade. Ele não tinha fé contínua e sua alegria não era verdadeira. Seu erro era querer ser forte apenas nos momentos bons, quando a tendência dele era relaxar e se acomodar.
A frase: “Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado” ensina sobre a perseverança na fé.
À noite, enfrentamos os obstáculos, construímos o ninho. Lutar no frio intenso nos mantém aquecidos. Durante o dia, desfrutamos da verdadeira alegria de ter vencido as adversidades da noite. Para não se descuidar e continuar a fortalecer o ninho da fé, o caminho é a gratidão.
A fé se torna mais forte diante das dificuldades por causa da coragem; e na tranquilidade, ela se fortalece em virtude da gratidão.
“Considerar tanto o sofrimento como a alegria como fatos da vida” é perseverar na fé, sendo corajoso na adversidade e grato na tranquilidade.
Astolfo Valentim Vieira Martins

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