Colonização predadora




Parece que foi ontem que Yeongam recebeu a F-1 pela primeira vez.
Os sul-coreanos fizeram festa, encararam aquela inauguração como a realização de um sonho.
Foi o desfecho de um processo longo, com etapas que tiveram de ser cumpridas à risca, para que o país recebesse um GP.
Tilke, o arquiteto preferido de Ecclestone, foi contratado. Um circuito foi construído a 360 km de Seul ao custo de US$ 200 milhões. Outros US$ 264 milhões foram pagos à FOM pelos promotores. Os boxes são espaçosos, a sala de imprensa é ampla, o paddock é dotado de suntuosos prédios para as equipes. Nenhuma exigência foi esquecida.
O lugar recebeu a categoria em 2010, 2011 e 2012. Receberá a 14ª etapa do campeonato, em outubro.
E corre o risco de não receber a F-1 nunca mais.
Nesta semana, a Red Bull anunciou que seu circuito receberá o GP da Áustria no ano que vem. Já tem até a data: 6 de julho. É a velha pista de Zeltweg: traçado mantido, mas com instalações novíssimas.
Os russos também divulgaram um acordo com Ecclestone: o GP de Sochi acontecerá em 19 de outubro, dizem.
O inglês ainda tem acordo para a estreia de um segundo GP dos EUA, nas ruas de Nova Jersey, em 2014. É o seu mercado dos sonhos, uma velha obsessão.
São 19 corridas nesta temporada. No máximo, serão 20 no ano que vem, palavra de Ecclestone.
A aritmética é simples e cruel: dois circuitos atuais vão dançar.
O da Coreia é favorito à degola. Seu acordo com a FOM é de sete anos, mas quem acompanha F-1 sabe que, por lá, contratos existem para serem rasgados. O de Nova Jersey pode não sair do papel, o que salvaria temporariamente lugares como Malásia e Bahrein.
E, assim, Yeongam se juntaria a Istambul, outro autódromo moderníssimo, projetado por Tilke, e que hoje é um parque fantasma. Com a sanha da F-1 em tomar dinheiro de “novos mercados”, locais sem tradição no automobilismo, a lista será ampliada nos próximos anos.
Uma sugestão: que sejam usados para viagens escolares, em aulas práticas sobre os limites da ambição e do desrespeito.
*
Na semana passada, esta coluna tentou apontar motivos para o fato de nenhum brasileiro ter participado dos testes da F-1 para jovens pilotos, em Silverstone.
Nesta semana, de terça a domingo, acontece o Brasileiro de kart, em Eusébio, no Ceará. Os dois primeiros dias foram cancelados porque o asfalto precisou ser refeito.
Só ontem os pilotos receberam a notícia de que o evento seria levado adiante. O campeonato é organizado (?!) pela Confederação Brasileira de Automobilismo.
Tem tudo a ver.
(Coluna publicada nesta sexta-feira na Folha de S.Paulo)

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